Não banalize o amor

Opinião

Amanda Cantú

Amanda Cantú

Jornalista

Colunista do caderno Você

Não banalize o amor

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Atualizado sábado,
06 de Junho de 2020 às 17:02

Eu odeio o dia dos namorados. Mas calma, antes de me xingar de insensível ou mal amada, deixe eu me explicar. Eu não gosto do dia dos namorados porque, para mim, ele é um símbolo da banalização do amor.

Esta época do ano costumava apresentar queda nas vendas entre as duas datas mais importantes para o comércio, o dia das mães e o Natal. Por isso, há algumas décadas, um publicitário criou o slogan “não é só com beijos que se prova o amor” e o 12 de junho foi eleito oficialmente o dia dos namorados, na véspera do dia de Santo Antônio, o santo casamenteiro.

Realmente, não é só com beijos que se prova o amor. Tão pouco com presentes. O amor é muito maior do que isso e precisamos parar de banaliza-lo.

O amor é um sentimento poderoso. Talvez o mais poderoso que exista. Ele, às vezes, surge do nada, até mesmo de formas inusitadas, mas se constrói aos poucos, ao longo de uma jornada que exige coragem, paciência, autoconhecimento, respeito e empatia.

O que muitas vezes é tido como amor me deixa confusa. O dia dos namorados, por exemplo, vende o amor como a obrigação de uma compra ou gesto. Vende o amor como se o sentimento pudesse ser reduzido a um simples objeto. Vende, literalmente, o amor. Como se não fosse importante demonstrar e, acima de tudo, respeitar e cuidar de quem se ama todos os dias.

Também chamam de amor algo que é utilizado como arma de manipulação, de realização pessoal. Transformam o amor em prisão, em ferramenta para moldar o outro ao nosso gosto, em uma forma de suprir a carência ou a ideia de que só seremos felizes aos pares. Nenhuma foto com declaração ou presente pode transformar isso em amor.

A banalização do amor distância o sentimento do seu real significado. Amar alguém é conhecer todos as versões de uma pessoa e aceitá-la do jeito que ela é, cada traço da sua personalidade ou aparência. Amar alguém é querer ver o outro crescer, feliz, mesmo que não seja do seu lado. Amar alguém é se amar, antes de tudo, e não aceitar abusos em forma de amor ou a imposição da necessidade de amar alguém.

O amor, o real e verdadeiro, puro e sincero, talvez seja o que mais faz falta no mundo. Não permita que ele seja reduzido a uma data comercial ou a laços vazios. Não banalize o amor. Ele é poderoso demais para isso.

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