O amanhã não está à venda

Opinião

Amanda Cantú

Amanda Cantú

Jornalista

Colunista do caderno Você

O amanhã não está à venda

Por

Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Na procura por livros que pudessem complementar o meu Trabalho de Conclusão de Curso, acabei esbarrando em um ebook chamado “O amanhã não está à venda”. Curiosa com o título, resolvi baixar para ler mais tarde, mas claro que não aguentei e acabei iniciando a leitura ainda naquela noite.

O tal ebook era, na verdade, um texto formado por um compilado de entrevistas do ambientalista, escritor e líder indígena brasileiro Ailton Krenak. Nele, Krenak faz uma reflexão mais do que necessária sobre a relação humana com a natureza, e a conexão dela com a pandemia da Covid-19.

Os povos indígenas do Brasil enfrentam há muitos séculos, com força e coragem, as mais diversas ameaças. A ampla maioria delas causadas por nós mesmos, os homens brancos, e nossas políticas que pregam a exploração desenfreada da natureza e o lucro acima de qualquer coisa, inclusive, acima da vida de quem não pertence à uma classe dominante.

Para sobreviver, os indígenas reinventam seu cotidiano e suas comunidades. Com a pandemia, talvez pela primeira vez, o restante do mundo se obriga a fazer o mesmo.

Em suas palavras, Krenak também questiona a ideia da volta à normalidade, assunto sobre o qual tenho refletido muito nos últimos dias. Ainda existe um normal? Vivemos um dos momentos mais tristes e difíceis da nossa história, agravado por um desgoverno quase tão perigoso quanto o próprio vírus.

Um desgoverno que, desde o seu início, por exemplo, liberou o uso de inúmeros agrotóxicos antes proibidos. Será que este é um normal para o qual queremos voltar? A realidade que enfrentaremos quando a crise na saúde acabar será muito diferente daquela que vivíamos antes, e a própria experiência com a crise só mostra que nossa forma de existir se tornou insustentável.

Para concluir, deixo um trecho da reflexão de Krenak. Para ler na íntegra, basta pesquisar o nome desta coluna na internet. O texto completo está disponível na página  jornalistaslivres.org.

“[…] Ninguém mais presta atenção no verdadeiro sentido do que é ser humano. […] Estamos devastando o planeta, cavando um fosso gigantesco de desigualdades entre povos e sociedades. […] E temos agora esse vírus, um organismo do planeta, respondendo a esse pensamento doentio dos humanos com um ataque à forma de vida insustentável que adotamos por livre escolha. […] Temos que parar de vender o amanhã […] Não podemos voltar àquele ritmo, ligar todos os carros, todas as máquinas ao mesmo tempo. Seria como se converter ao negacionismo, aceitar que a Terra é plana e que devemos seguir nos devorando. Aí, sim, teremos provado que a humanidade é uma mentira”.

 

 

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