O paradoxo entre o interior e a cidade

Política

O paradoxo entre o interior e a cidade

Mais de 280 mil eleitores no Vale do Taquari votaram nesse domingo. No centros urbanos, filas leitura biométrico causou filas. No interior, mesários ficaram sem trabalho

Por

O paradoxo entre o interior e a cidade
Vale do Taquari
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

O relógio marcava 15h e restavam três, dos 70 eleitores da seção 293 de Linha Serrana, no interior de Santa Clara do Sul.

Ao contrário das demoradas filas enfrentadas em seções estado e país afora, em Linha Serrana os mesários passaram o domingo contando os minutos passar.

O chimarrão foi companhia e distração pela manhã, quando 47 moradores da comunidade foram votar. “De tarde só faltaram 23. Ficamos sem nada para fazer, esperando as horas passar. De vez em quando alguém vem”, conta a presidente da mesa, Vera Wenz.

eleicoes-2018_a-hora-jornal

Jair Burghartd, 45, chegou às 15h25min. Depois dele, restavam dois. “Eu vim porque é obrigado. Bem que os políticos poderiam parar de roubar. Talvez um dia melhore”, analisou Burghardt, depois da rápida votação e deixando, mais uma vez, a equipe de quatro mesários sozinhos, esperando os dois últimos. “Pior que a cada ano o número de eleitores reduz”, analisa Vera.

 

Linha Serrana nem parecia fazer parte do município de Santa Clara do Sul. Vinte quilômetros distante da tranquilidade, concentrava-se um dos mais complexos cenários da eleição regional. Longas filas estenderam a votação até perto das 19h. Ao lado de Progresso, Santa Clara do Sul foi uma das últimas cidades do estado a ter os votos computados pelo TRE.

O atraso, assim como na maioria das seções onde houve fila, aconteceu devido à leitura biométrica, que falhou em determinados lugares. “Foi o caso de Santa Clara do Sul, onde a maioria dos eleitores votaram no mesmo lugar”, reforça o juiz eleitoral Rodrigo Bortoli.

Abstenções batem recorde

Filas

Apesar da demora no momento do voto e de algumas trocas de urnas nos 43 pontos de votação em Lajeado, o pleito no maior colégio eleitoral do Vale do Taquari foi tranquilo. Houve apenas dois registros de desordem. Um eleitor irritado com o tempo de espera na fila e outro por embriaguez. Foram assinados termos circunstanciados e as pessoas foram liberadas.

Já na Delegacia de Polícia, houve registro por parte de um morador de Carneiros de 37 anos que, ao chegar na urna, descobriu que já haviam votado no nome dele. O caso aconteceu na seção 170, do bairro São Cristóvão, por volta das 16h15min. Os investigadores acreditam que o caso atípico envolva o pai do eleitor e que a confusão foi gerada pelo sobrenome em comum.

Afora esses casos, tudo transcorreu com tranquilidade, garante o promotor eleitoral de Justiça, Neidemar Fachinetto, responsável pela comarca de Lajeado. “As bravatas ficaram nas redes sociais. Não houve hostilidade por parte de eleitores, como tanto se falava antes do pleito. As pessoas também não vestiram camisetas em apoio aos candidatos. Havia mais camisetas de clubes”, brinca.

Na Escola Estadual Moisés Candido Veloso, no bairro Hidráulica, Erni Petry, ex-representante da região na Assembleia Legislativa (entre 1991 e 1999) aguardava o momento de votar entre os demais eleitores. Ao lado da mulher, fez uma breve análise sobre o momento atual da política no Vale do Taquari.

“Estou na política desde 1972. A diferença dos pleitos antigos é que não era tão polarizado como esta eleição de hoje. A história de corrupção está tumultuando e muito o cenário. Mas, felizmente os ‘gravatas brancas’ estão indo para a cadeia”, diz. “Também torço por uma reforma política. Encerrar com a aliança dos pequenos partidos, para valorizar a democracia”, acrescenta.

Às 17h20min, as urnas chegam no subsolo do cartório eleitoral de Lajeado

Às 17h20min, as urnas chegam no subsolo do cartório eleitoral de Lajeado

No último minuto

O Colégio Estadual Castelo Branco concentra o maior número de seções e eleitores no Vale. No domingo, coube a Egídio Mörs abrir e fechar os portões para a entrada dos votantes. “Trabalho faz 36 anos aqui, e já fiz isso em muitas eleições. Sou o responsável pela ‘casa’. E aqui normalmente é tranquilo. Não lembro de brigas”, comenta.

Dentro do pátio do Castelinho, alguns eleitores ainda votavam. Mesmo após as 17h, horário limite. Paulo Antônio Augsburger, bancário, votou em cima da hora. “Estava em trânsito, em Venâncio Aires, e cheguei só agora. A seção estava tranquila, sem filas. Demorou dois minutos. Mas a biométrica não funcionou,” afirma.

Para outros, a votação não foi tranquila. Adriana de Azevedo chegou às 16h20min ao Castelinho e só conseguiu votar após às 17h. “Haviam 15 pessoas na minha frente quando eu cheguei. Demorou por causa da biometria. Eu sempre vinha de manhã, mas desta vez resolvi vir mais tarde e quase perdi a chance de votar.”

Dentro do cartório, promotor e juiz eleitoral acompanhavam toda apuração dos votos da comarca de Lajeado

Dentro do cartório, promotor e juiz eleitoral acompanhavam toda apuração dos votos da comarca de Lajeado

Filas longas em Arroio do Meio

O maior transtorno no cartório de Arroio do Meio foram as filas numerosas e a demora para votação em seções com mais eleitores. Essa situação foi percebida pelo juiz eleitoral João Regert. “Essa é uma situação que nos incomoda também. Tiveram filas que se estenderam de manhã e a tarde, o que não é comum”, reconhece.

Para Regert, a identificação biométrica, mais lenta que a assinatura tradicional, e o número de candidatos (seis) a serem escolhidos acabaram atrasando a votação. Ele ressalta que o cartório buscará “soluções locais” para os próximos pleitos.

Daniel Henrique Arnhold, 28, votou na seção 51, localizada na escola João Beda Körbes, do bairro Aimoré. Este ano, teve de esperar cerca de 50 minutos para votar. “A seção do lado tinha menos gente. Mas a que eu estava foi bem mais demorado”, relata.

A zona eleitoral de Arroio do Meio também abrange Capitão, Travesseiro, Pouso Novo, Nova Bréscia e Coqueiro Baixo. Segundo Regert, nenhum outro problema com o funcionamento das urnas ou boca de urna foi registrado.

Na Sociedade Rio Branco, em Estrela,                             eleitores se aglomeravam em diversas filas para votação desse domingo

Na Sociedade Rio Branco, em Estrela, eleitores se aglomeravam em diversas filas para votação desse domingo

Caso de polícia em Estrela

Além do aglomerado de filas nas seções de Estrela, o município também registrou crime eleitoral na manhã de domingo. Patrício da Cunha Cabral, 23, foi preso em flagrante por transportar eleitores num veículo Kia Besta na localidade de Linha Glória. O motorista seria morador do bairro Imigrantes.

A Brigada Militar recebeu denúncia sobre o crime e fez uma barreira policial – nessa que seria a terceira viagem levando indígenas para a votação.

No veículo de Cabral, foi encontrada uma bolsa com panfletos de um candidato a deputado estadual. Ele alegou ter sido pago para levar os indígenas até a seção eleitoral. Porém as pessoas na van informaram não saber sobre o acordo do motorista com um terceiro.

Cabral chegou a ser levado até a cela da Delegacia de Pronto Atendimento (DPPA) de Lajeado, onde aguardava vaga no sistema prisional. Pouco antes das 17h de domingo, a Justiça expediu alvará de soltura e ele foi liberado.

Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br | Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br
Fábio Kuhn: fabiokuhn@jornalahora.inf.br | Fernando Weiss: fernandoweiss@jornalahora.inf.br

Acompanhe
nossas
redes sociais