Política fortalece conceito de região

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Política fortalece conceito de região

Conheça personalidades que marcaram época e ajudaram no desenvolvimento da região, obras e ações por meio da política

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Política fortalece conceito de região
Vale do Taquari

“Não há vida social sem política. Ela é uma constante tomada de decisão sobre vários temas, pessoais, profissionais, públicos, privados, que também levam em conta critérios políticos”. A frase do historiador e professor de Relações Internacionais, Mateus Dalmáz, resume um pouco a importância deste domingo.

José Alfredo Schierholt

A política sempre esteve no cerne do Vale do Taquari. Mas as diferenças ideológicas, partidárias e mesmo a simples empatia com agentes públicos distintos impede a decisão por um ou dois grandes ícones da história. “Foram muitos”, resume o historiador e professor, José Alfredo Schierholt. Cada qual tem suas preferências.

Mas há unanimidades. Jorge Eckert, policial aposentado e hoje presidente da associação beneficente Saidan, de Lajeado, é categórico ao confirmar a distinção. Bruno Born, frisa. “Foi um visionário. Gerenciou empresa da família em São Leopoldo, onde também foi governador distrital do Rotary Club, à época com jurisdição sobre todos os clubes do estado, e por lá ainda conquistou mandato como deputado estadual”, relembra.

Ney Lazzari

Para Eckert, tais experiências na região do Vale dos Sinos foram cruciais para a eleição de Born como prefeito de Lajeado, pela coligação da UDN, PL e PRP. Ficou de 1951 a 1955.

Em novembro de 1957, foi nomeado pelo ex-presidente, Juscelino Kubitschek, para o cargo de diretor do Banco Nacional de Crédito Cooperativo, no Rio de Janeiro. Ficou lá até 1959, quando voltou para ser reeleito prefeito de Lajeado, com 5.872 votos – 54% do eleitorado, à época.

Envolvimento na saúde e educação

Quem também cita Born como referência política é o reitor da Univates, Ney Lazzari. “Entre ele, Darci Corbellini, Leopoldo Feldens, Ney Arruda, Nelson Brancher, Erny Petry, Cláudio Schumacher, eu fico com quem eu menos conheço, o Bruno Born. Afinal, por que será que o Hospital Bruno Born (HBB) leva o nome dele?”, sugere.

Empresário no ramo de automóveis e membro atuante de diversas entidades civis lajeadenses, Rogério Wink também é taxativo ao ser questionado sobre as referências políticas. “Bruno Born. Era articulado. Um visionário”, atesta. “Pena que as paredes da Vila Olga, antes em frente ao Imec, já não existem mais”, resigna-se, ao lembrar a antiga residência do ex-prefeito, na principal via de Lajeado, a Júlio de Castilhos.

Entre os líderes do passado citados por agentes públicos e representantes de entidades atuais, o ex-prefeito de Lajeado, Bruno Born, foi o mais lembrado

Entre os líderes do passado citados por agentes públicos e representantes de entidades atuais, o ex-prefeito de Lajeado, Bruno Born, foi o mais lembrado

A “epopeia” de Emílio

O Vale conta com diversos notáveis no cenário político nacional. O ex-presidente Artur da Costa e Silva é natural de Taquari. Ernesto Geisel, natural de Bento Gonçalves, outro militar que governou o país durante o regime, passou parte da infância na localidade de Linha Novo Paraíso, no interior de Estrela.

Há nomes destacados por líderes atuais. João Batista Marchese, por exemplo, foi ex-prefeito de Encantado, um dos fundadores da Cosuel e eleito deputado estadual em 1950. Daquela cidade, o atual vereador Luciano Moresco cita outros “ícones”, como Jordano Cé, Ernesto Lavrati e Evaldo Zílio, todos ex-prefeitos. De Cruzeiro do Sul, o primeiro deputado estadual do vale, Valdir Lopes, foi lembrado.

O historiador Schierholt chama a atenção para o vereador de Lajeado, Emílio Adolfo Schlabitz. O retrato dele é o terceiro na galeria de ex-presidentes do Legislativo. Imigrante alemão, empresário, líder emancipacionista e federalista, nasceu em 1842, em Wartenberg, Silésia, Alemanha, com o nome de Emmil Adolph.

Inspirado no irmão, capitão de barco, iniciou em 1862 uma peregrinação. No antigo porto de Bremen, embarcou no veleiro Herzogin von Brabant para Nova Iorque. Lá, para não entrar na Guerra da Secessão, trabalhou por alguns meses como padeiro e em lojas de alimentos e lampeões a gás.

Embarcou em 1863 para a cidade de Montevideo, capital uruguaia. De lá, partiu para Fray Bentos, em Las Patas, para trabalhar em uma fazenda de criação de ovelhas. Dois anos depois, em 1895, tentou sucesso pela primeira vez no RS. “Foi para São Lourenço do Sul, mas não conseguiu comprar terras.”

Desiludido e já na companhia de um irmão, voltou para Nova Iorque, de onde pretendia retornar à Alemanha. Entretanto, com a notícia da guerra entre a Prússia e a Áustria, desistiu e peregrinou pelos EUA em busca de emprego e, só em 1872, conseguiu visitar a família em solo alemão onde se casou.

Um ano depois, veio com a família para estabelecer moradia na então localidade de Forqueta Baixa. Abriu um estabelecimento comercial em 1887 e, além de liderar a comunidade evangélica local, passou a se interessar pela emancipação política de Lajeado, diz Schierholt. Para tal, militou nas hostes do Partido Liberal.

Na primeira legislatura lajeadense, empossada em novembro de 1891, foi eleito como 1º suplente. Na terceira, o segundo mais votado, sendo empossado como presidente da mesa em 1900, e permanecendo até 1904. Dois anos depois, comprou a área do hoje “Parque do Engenho”, que originalmente levou o nome dele. Ele morreu em 1927, em Lajeado.

BR-386: a grande bandeira

A construção da rodovia federal que interliga o Vale do Taquari com a Região Metropolitana e o norte do estado é citada como a grande bandeira da história da região. E esse projeto de desenvolvimento – ainda em andamento, com as duplicações – teve início há pelo menos 60 anos.

O enrosco pela BR ganhou as páginas de jornal local com maior destaque em 1958. Na capa do A Voz do Alto Taquari, dirigido, à época, por outro notável agente político da região, Ney Arruda, e com direção do radialista e empresário, Lauro Mathias Müller, cuja atividade comunitária também é reconhecida no Vale.

A manchete estampava o desejo político: “Para o Progresso do Alto Taquari, a Estrada da Produção”. No texto, uma carta da Federação das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado endereçada à Assembleia gaúcha. E a luta para trazer o traçado da imponente obra para Lajeado teve a participação de Bruno Born, além de outros agentes públicos e empresários da época.

“Originalmente, a BR passaria por Venâncio Aires. Mas, em conjunto com o pastor Engelhardt, Born conseguiu fazer com que seu traçado fosse modificado, passando ao longo do município de Lajeado, tangenciando a área da sede, fator de indiscutível desenvolvimento”, reforça Eckert. O político lajeadense já era do PTB, do então governador, Leonel Brizola.

Comissões pró-duplicações

O desafio de duplicar uma das principais rodovias federais ganhou força na década de 1980, época de maior presença de deputados do Vale do Taquari na Assembleia gaúcha. Em junho de 1986, por exemplo, a Comissão Pró-Duplicação esteve em Brasília para debater com o então ministro dos Transportes, a necessidade de nova ponte entre Lajeado e Estrela.

Entre os participantes daquele encontro, o então prefeito lajeadense, Erny Petry, o vereador Flávio Ferri, e o representante dos empresários, Antônio Schabbach. Eles foram acompanhados pelo então deputado federal, o arroio-meense, Guido Moesch, então no PDS. Ele também é referenciado pelas atuais lideranças.

“Foi deputado e um dos últimos secretários estaduais do Vale. E morreu pobre”, ressalta o presidente do Sindilojas do Vale do Taquari, Francisco Weimer dos Santos. Moesch também foi três vezes prefeito de Arroio do Meio e representante na assembleia gaúcha na luta pela duplicação.

Os agentes mudaram, mas as comissões persistiram. Na década de 1990, prefeitos e secretários municipais da região passaram a levantar a bandeira da segunda pista da BR junto com o Conselho de Desenvolvimento do Vale do Taquari (Codevat), inicialmente coordenado por Dinizar Becker, e hoje comandado por Cíntia Agostini.

Quem também participou ativamente desse processo foi Oreno Ardêmio Heineck, ex-presidente da Comissão Pró-Duplicação. “A participação de diversos partidos e agentes públicos unidos foi primordial para o êxito da proposta, que iniciou em 2010”, sustenta ele, cujo ícone na política é o ex-deputado estadual (de 1963 a 1967), Antonino Fornari, de Arroio do Meio. “Muito apoio ao ensino, eletrificação rural e estradas”, resume.

Em 2010, representantes da comissão durante evento de assinatura do contrato de obras

Em 2010, representantes da comissão durante evento de assinatura do contrato de obras

A universidade regional

O advento da Univates sempre foi pauta política municipal, regional e nacional, desde a década de 1970. Já em 1986, por exemplo, Moesch protocolava um projeto na câmara federal para “estender o ensino superior para todos os municípios sob influência geográfica do Rio Taquari”. Na época, citou “apoio do advogado Ney Arruda”. Aquele projeto, entretanto, não vingou.

Atual reitor, Lazzari reforça a importância de Arruda para o desenvolvimento da Univates. Questionado sobre algum político mais engajado no sustento do ensino superior na região, prefere citar agentes da sociedade civil. “Padre Érico”, diz. “Além do Dr. Ney”, finaliza. Arruda, além de ex-vereador lajeadense, também assumiu a cadeira do Executivo de Lajeado por alguns dias.

Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br

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