O futuro do país nas suas mãos

País - escolha do povo

O futuro do país nas suas mãos

João vota pela 1º vez. Francisca não precisa, mas vai. Neste domingo, mais de 281 mil eleitores da região votam. Entre eles, o estudante de Lajeado João Bittencourt, 17. O voto é facultativo para ele, assim como à aposentada Francisca Braga, 91. Apesar da diferença de idade, ambos ressaltam a importância da participação popular para um país melhor

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O futuro do país nas suas mãos
Brasil

O problema no joelho não impedirá Francisca Xavier Braga, 91, de chegar à urna neste domingo. Para ela, o voto é obrigação de todos.

Acompanhada da filha Elisabete Braga, 55, votará na zona eleitoral no centro de Estrela, onde sempre votou. “Aqueles que podem votar e não votam, acho que não são bem brasileiros”, diz.

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Democrática

Francisca acompanhou grande parte da transição política do país. De Getúlio Vargas, logo que nascera, à ditadura militar, quando moça, até a conquista do voto democrático indireto em 1984.

“Na ditadura lembro que a gente não podia conversar em alemão”, rememora. “Aí nos reuníamos para cantar músicas em alemão em frente aos policiais, no fim, eles riam. Sabiam que era brincadeira.”

Ao longo de toda vida, a idosa justificou o voto apenas uma única vez. Em 2002. E ficou ressentida.

“Ela ficou muito magoada em não poder votar”, conta a filha Elisabete.

Na época, Francisca foi a Curitiba visitar o neto Gabriel Griebeler, recém-nascido.

“Não desperdiço meu voto. A gente capricha para acertar, mas às vezes erramos”, conta.

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(SEM LEGENDA)

O primeiro voto

Com 17 anos, João Bittencourt, estudante do Ensino Médio, vai estrear o voto neste domingo.

Ainda que a obrigação democrática seja facultativa para pessoas de 16 e 17 anos, João acredita que “os jovens têm que encontrar um candidato que os represente.”

Por vontade própria, ele comunicou os pais do interesse em participar destas eleições.

“Não podemos deixar o futuro do país apenas nas mãos dos mais velhos. Nós, jovens, também temos que nos envolver na política”, afirma.

Motivado pela indignação política que assola o país, João fez o título de eleitor recentemente. Engajado por história e contexto político, o jovem também tentou salientar aos colegas de escola sobre a importância do voto.

“Metade dos meus colegas não quer votar. Outros chegam a se envolver e dar opiniões políticas, mas não vão votar”, relata.

Segundo ele, depois de analisar o cenário político, encontrou o candidato que o representa.

“Eu e minha mãe analisamos as novas opções políticas e votaremo juntos neste domingo.”

Web

Entrevista

“Não existe democracia sem sufrágio universal”

Economista e mestre em Ciências Políticas, Guilherme Stein, acredita que o voto é uma maneira de os políticos serem forçados a prestar contas de suas ações à sociedade.

Guilherme Stein

Qual a importância do voto?

No mundo moderno, não existe democracia sem sufrágio universal. Sistemas de votação podem ser entendidos como um método através do qual se decide pacificamente sobre qual força política governará.  O voto é um dos raros momentos em que os cidadãos têm algum poder de decisão para influenciar diretamente o processo político.

Mesmo que o peso do voto individual seja pequeno, a votação é um sistema agregado, que produz informações sobre as preferências políticas do eleitorado. Através desse sistema, é possível “mandar recados” às elites políticas, expressando demandas, posicionamentos e anseios da população. O fato de ter de disputar votos força os políticos a prestar contas de suas ações para sociedade.

Vale ressaltar que em nosso país geralmente votamos apenas na eleição de governantes para o Executivo e representantes para o Legislativo. Porém, em democracias mais avançadas e consolidadas, como nos Estados Unidos e na Suíça, é frequente o uso de votação para consultar diretamente os cidadãos a respeito de decisões importantes, através em plebiscitos e referendos.

Com o descrédito político por parte das pessoas, por que elas devem sair de casa para votar?

Creio que o governo Temer trouxe uma lição ao Brasil do que pode acontecer quando assume o poder um projeto político não eleito pelas urnas. As pessoas estão conscientes disso, pois a cada nova pesquisa eleitoral diminui o número de indecisos. Ou seja, as pessoas estão tomando posição. Sabem que é nossa a responsabilidade decidir sobre os rumos do país.

A obrigatoriedade do voto ajuda ou atrapalha a democracia?

Em nossa Constituição, o voto é obrigatório para os maiores de 18 anos e facultativo para analfabetos, maiores de 70 anos e para jovens entre 16 e 17 anos. Ou seja, votar é considerado não só um direito, mas também um dever do cidadão. Em minha concepção, numa sociedade em que ainda se verifica fenômenos como a compra de voto, a formação de currais eleitorais e a coerção por parte de patrões sobre as escolhas eleitorais de funcionários, a ausência de obrigatoriedade levaria a distorções ainda maiores do processo político. Isso implicaria em uma classe política ainda mais corrupta e afastada da população.


Adalto de Azevedo

Adalto de Azevedo

“Minha preocupação é com o futuro”

Aos 75 anos, Adalto não tem mais obrigação de votar. Mesmo assim, o radialista e jogador de futebol aposentado irá à urna no domingo. “Eu faço questão de votar porque eu tenho esperança que o Brasil vai encontrar um caminho melhor”

Pai, avô e bisavô de uma menina, seu foco é nas novas gerações que estão crescendo. “Minha preocupação não comigo, que eu já estou meio de gorjeta, é com o futuro.” Apesar de considerar que o cenário político está viciado, ele considera a política um caminho importante na solução de problemas como a violência e o desemprego.

Camila do Nascimento Gomes

Camila do Nascimento Gomes

“Por um país melhor”

Camila carrega seu título de eleitor sempre na bolsa, ainda que o documento não seja mais obrigatório na hora de votar. Aos 24 anos ela trabalha como operadora de caixa em um supermercado de Lajeado.

É pensando na filha de quatro que ela vai até a seção eleitoral no domingo. “Eu voto porque eu espero um país melhor para para as novas gerações. É pensando na minha filha e nas outras crianças que eu acho importante votar.”


 

Gustavo Grohamann

Entrevista

“Característica destas eleições é a indeterminação”

Doutor em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (IUPERJ), Gustavo Grohamann avalia a polarização que marcou a campanha.

Como observa este primeiro turno das eleições, em que pouco se debateu governos estaduais e muito se falou em presidenciáveis?

São as conjunturas políticas. Há pautas nacionais, internacionais e regionais em debate. Juntas elas dão o tom. No Brasil, há diversos fatores. Principalmente os processos de julgamento de lideranças do Partido dos Trabalhadores e o surgimento de um polo a direita no país. Isso é novidade.

E por que é diferente de outros momentos políticos no Brasil?

Da forma como está agora, nunca tivemos na história do país. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso era de centro-direita. A principal diferença de agora é o programa de governo e o radicalismo da direita. Agora se debate a destituição do estado brasileiro e a liberação completo do mercado.

A que se atribuiu esta ampliação de ideais de direita?

Trata-se de uma combinação difusa, que vai desde a luta contra a corrupção e a confusão do debate de neoliberais e esquerdistas. Tudo isso fomenta uma força de direita radical.

No governo do Rio Grande do Sul, nenhuma mulher disputa o pleito. Por quê?

Isso é sistemático. As mulheres não costumam participar das candidaturas ao governo do Estado. A literatura política não é muito clara em estabelecer as razões disso. Pode ser explicado tanto pela cultura política quanto pelas práticas machistas em nosso país.

Qual o impacto das redes sociais e fake news nestas eleições?

As fakes news são uma tendência que já vem de outras eleições fora do Brasil. Isso ocorre porque o eleitor usa mais a internet e as redes sociais do que a TV, principalmente, e o jornal impresso.


Cristiane Gerevini

Cristiane Gerevini

“O meu voto vai ser em branco”

Cristiane está desiludida com a política e já decidiu seu voto. Vai marcar “branco” e confirmar para todos os cargos em disputa. “Pra mim não vai mudar nada, é um pior que o outro. Na minha opinião, a população toda não deveria votar.”

Ela defende uma renovação geral, botar gente nova. Mas confessa ter perdido a esperança que seu voto possa fazer esta diferença. “Tanto tempo que a gente vota, vota, vota e não muda nada. É a mesma coisa que jogar na loteria, a gente nunca ganha. Chega uma hora que cansa.”

Osmar Rache

Osmar Rache

“Se eu não votar os outros decidem”

Osmar também utiliza uma comparação prática para afirmar a importância do voto. “É quem nem jogo de futebol, né. Tem os partidos e tu tem que escolher um.”

Para o operário da construção civil de 45 anos, todo cidadão tem o compromisso de depositar sua opinião na urna para que o resultado represente a todos. “Eu voto para fazer a minha parte. Se eu não votar os outros decidem por mim, eu quero decidir.”


Entrevista

“O voto é um direito, não um dever”

Historiador e professor da Univates, Mateus Dalmáz, fala sobre a cultura política da sociedade brasileira.

Mateus Dalmáz

Qual é a grande função da política dentro da sociedade?

Não há vida social sem política. A vida social é uma constante tomada de decisão sobre vários temas, pessoais, profissionais, públicos, privados que também levam em conta critérios políticos. As decisões sobre economia, cultura, saúde, educação, turismo, ciência, tecnologia etc. também são decisões políticas. Por mais que haja dados técnicos à disposição, os tomadores de decisão no poder público e privado também levam em conta critério políticos.

E o eleitor?

Em geral o eleitor não se interessa por política partidária. Especula-se que o ensino básico e superior no Brasil têm falhado ao tratar de história, política e economia, pois a incoerência, a memória curta e a releitura irresponsável do passado têm sido feitas exaustiva e diariamente nas redes sociais. O voto é guiado muito mais pela paixão do que pela razão.

Qual sua opinião sobre o voto facultativo?

Na maioria dos países democráticos, o voto não é obrigatório. Há um princípio do direito liberal que legitima o voto facultativo, que é o de que o indivíduo tem livre-arbítrio, inclusive, para decidir se quer votar ou não. Nesse sentido, o voto é um direito, não um dever. No Brasil, o voto é obrigatório em função do número de eleitores sem acesso à instrução e à informação, perfil esse que é alvo da compra de votos.

E isso vem funcionando?

Em resumo, o Brasil poderia investir mais em educação para ter um debate político mais qualificado, um critério mais racional de voto, um acesso mais democrático ao ensino, uma renovação mais qualificada dos quadros dentro de cada campo político e instituições democráticas mais eficientes. Quem sabe assim o país poderia adotar o voto facultativo numa sociedade com maturidade para decidir e opinar.

Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br | Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br | Fábio Kuhn: fabiokuhn@jornalahora.inf.br | Matheus Chaparini: matheus@jornalahora.inf.br | Colaboração: Ezequiel Neitzke

 

 

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