“Perdemos muito nos últimos anos”

ENTREVISTA COM OS CANDIDATOS

“Perdemos muito nos últimos anos”

Ex-deputado estadual, Marquinho Lang quer voltar à Assembleia Legislativa para representar o Vale do Taquari. Cadeirante desde 1997, é também um ativo defensor dos direitos das pessoas com deficiência

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“Perdemos muito nos últimos anos”
Vale do Taquari
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Marquinho Lang – PRB | Candidato a deputado estadual

Nome: Marco Antônio Lang
Idade: 48 anos
Profissão: militar reformado
Naturalidade: Bom Retiro do Sul

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Histórico político:
Marquinho Lang iniciou a trajetória política em 1999, ao se filiar no antigo PFL (hoje Democratas). Foi eleito para o primeiro cargo público no ano 2000, quando se candidatou a vereador em Bom Retiro do Sul. Em 2002, concorreu a deputado estadual e se classificou como suplente. Assumiu mandato na Assembleia de 2005 até o fim daquela legislatura, em 2006. Foi reeleito a mais um mandato, de 2007 a 2010. Migrou para o PRB em 2011. Em 2013, foi secretário municipal de Meio Ambiente de Lajeado, no primeiro ano da gestão de Luís Fernando Schmidt. Esta é a quarta vez que se candidata a deputado estadual.

Vida comunitária:
Nascido no interior de Bom Retiro do Sul, Lang foi entregue aos 50 dias de vida a um casal de agricultores devido às dificuldades financeiras da família biológica. Até os 18 anos, trabalhou na roça, enquanto estudava em Mariante. Formou-se técnico em Contabilidade e ingressou no Corpo de Bombeiros em 1989. Em 1997, sofreu uma queda em serviço, que o deixou paraplégico. Mesmo após o acidente, manteve a participação nas atividades comunitárias, principalmente no futebol amador e na juventude da Igreja Católica.


A Hora – Por que você se candidata a deputado estadual?

Marquinho Lang – Principalmente pela viabilidade da minha eleição. Esta é a primeira vez que o PRB lança uma nominata própria de candidatos a deputados estaduais. Temos um puxador de voto, que é o Sérgio Peres, que é o atual deputado do nosso partido. Ele deve passar de 80 mil votos e vai puxar a nossa legenda. Com isso, acreditamos que vamos colocar três deputados no mínimo. Tem também a questão da representatividade regional, que nós perdemos muito nos últimos anos. No passado, chegamos a ter três deputados estaduais e um federal. Essa falta de representação faz com que a gente perca muito terreno, muito espaço nas discussões importantes, independente da sigla política. Outro motivo é a representação das pessoas com deficiência. Hoje sou o presidente da Federação Estadual da Pessoa com Deficiência Física. Eu trabalho muito o tema do paradesporto como uma ferramenta de reinclusão das pessoas. Hoje o RS não tem nenhum representante das pessoas com deficiência na Assembleia.

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Se eleito, como será a sua atuação junto à comunidade regional? De que forma pretende articular as prioridades do Vale dentro do parlamento?

Lang – Como já fiz no período em que fui deputado, de 2005 a 2010, será por meio da proximidade. Se eleito, eu tenho obrigação de estar próximo da minha comunidade. Meu telefone não pode ficar desligado. E, mesmo que haja os assessores, o deputado precisa estar presente. As pessoas têm que ter a chance de me encontrar e me cobrar, se for o caso. É assim que se ouve e se sabe exatamente o que está acontecendo. Não é no gabinete. No gabinete, até é possível saber superficialmente, mas é na rua que se sabe exatamente qual é a defesa que deve ser feita. Eu sempre uso como exemplo a seguinte situação. A única vez que foi derrubado o aumento do ICMS na Assembleia foi em 2006, depois da eleição. O Rigotto que propôs, mas a Yeda já iria assumir. Foi um acordo deles. Na época, eu era anunciado, em todos os jornais, que seria secretário estadual. Mas eu fui para o confronto, fui contra o aumento de impostos, não fui secretário, até porque fiquei marcado por causa disso, e conseguimos derrubar o aumento por dois votos.

A descrença na política está cada vez maior. Qual é sua estratégia para convencer o eleitor a acreditar nas suas propostas?

Lang – Estive na Romaria de Nossa Senhora da Assunção, em Taquari, e foi incrível o que ouvi de muitas pessoas. Vários me disseram que não votariam em ninguém por causa da roubalheira, mas ao saber que eu era candidato abriram voto para mim. Não foi um, nem dois, nem três. Se sairmos para a rua para conversar sobre política, as pessoas dizem que não irão votar em ninguém. Mas as vagas estão lá e serão preenchidas. O voto só vale quando ele vai para alguém. O voto branco, nulo e as abstenções são descartados e não entram na contagem. Aquela história de que se, mais de 50 % não votar, vai resultar em nova eleição é fakenews. Por exemplo, eu sou contra o MST. Os caras não querem trabalhar e invadem as propriedades. Eu acho que a Reforma Agrária deve ser feita, mas não é dessa forma. E eles são bancados por alguém. Se não votarmos, esse pessoal todo vai votar e vai eleger um representante. Só tem duas formas de se colocar politicamente: ou por ação, ou por omissão.

A eleição federal e estadual muitas vezes serve de trampolim para as eleições municipais. Ou seja, candidatos lançam nomes para se promover a cargos em esfera municipal na eleição seguinte. O que você pensa sobre isso?

Lang – Isso é um desastre para a região. É isso que acaba com o Vale. São vários os candidatos que se lançam apenas pensando na eleição municipal. O Marquinho Lang é candidato a deputado estadual, porque tem a intenção de voltar à Assembleia. Eu não estou preocupado com a eleição municipal. A minha estratégia não é essa. Acho que isso destrói a nossa região. Nunca conseguiremos ter um representante regional com essa dispersão de votos. Antigamente isso não acontecia. Tínhamos meia dúzia de candidatos, realmente focados em buscar a representação em nível de estado e de federação.

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Nossa matriz econômica está sustentada no setor de alimentos. Temos sofrido, nos últimos anos, por adoções de políticas públicas equivocas, especialmente na cadeia de leite. Se eleito, como pretende trabalhar pelo fortalecimento da nossa principal base econômica?

Lang – O principal é tentar criar políticas públicas não apenas para manter o jovem na agricultura, mas para que ele possa se sustentar realmente e ter uma vida, uma condição social, semelhante ao que, muitas vezes, ele busca numa empresa. Em alguns municípios, há incentivos para os filhos de agricultores que mantêm as atividades. É um estímulo para a sucessão. Outra questão fundamental é o fortalecimento das nossas cooperativas. O nosso produtor hoje também é um gestor. Ele tem que gerenciar a propriedade, como se fosse uma empresa. Aí entra um fato. O nosso meio ambiente, que é o mesmo de Santa Catarina, tem um conjunto de leis a serem respeitadas e lá no estado vizinho são outras. O nosso estado não explora a piscicultura economicamente, e teríamos condições de, a cada três meses, termos uma grande safra de peixes. Mas, por exemplo, a pesca da tilápia é proibida. Em SC, isso está a 200 quilômetros por hora. Hoje as cooperativas trabalham muito o frango, o suíno e o leite, que nós devemos proteger sim. Mas por que não podemos ter uma quarta oportunidade de renda?

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Temos problemas de infraestrutura graves. Rodovias insuficientes e precárias, enquanto outros modais, como ferroviário e hidroviário, continuam obsoletos. Qual é sua proposta de atuação nessa área?

Lang – Temos uma proposta que é a fiscalização do que vai acontecer na região. Vai ser aberta licitação em novembro para os pedágios, sendo que a nossa rodovia já está duplicada. O Estado tem que definir, por área, o orçamento previsto para o Daer, por exemplo. Da mesma forma, a União para o Dnit. Temos aqui a Estrada da Produção, que é a BR-386. Por que nós, do Vale, não podemos ter um orçamento definido a ser aplicado no nosso segmento da rodovia já que somos os principais prejudicados? Todos esses caminhões que cruzam o estado passam no meio do Vale do Taquari e estragam a nossa rodovia. Hoje temos apenas uma operação tapa-buraco e não há orçamento definido de aplicação de recursos para cá. Tudo isso passa pela falta de representação.

Qual é a sua avaliação sobre a implantação de pedágios? Como seria o modelo ideal?

Lang – Evidentemente, o correto seria não termos pedágios, porque já pagamos o bastante em impostos. Mas esse é um fato superado. O problema maior que temos hoje está nos valores que são cobrados, e o serviço prestado. Por exemplo, a situação da EGR. Quando foi criada, muito bonito. Antes a tarifa estava em torno de R$ 7. Depois, com a EGR, passou para R$ 5,20. Por cerca de R$ 2, nós perdemos ambulâncias, guincho, tudo. Ficou um serviço mal prestado, sem investimentos nas rodovias. Para mim, o pedágio padrão é o de Portão. A rodovia foi duplicada até São Vendelino só com os recursos arrecadados no pedágio. Ou seja, isso é gestão. Será que o governo não pode? O Daer está aí, caindo aos pedaços. Será que era necessário criar uma nova empresa para trabalhar essa questão toda?

Em tempos de crise econômica, políticas de austeridade são adotadas pelos governos. Dentro desse debate, está a privatização de estatais. Qual é a sua opinião sobre isso?

Lang – Depende da área de atuação. Eu não tenho como imaginar que se possa privatizar ou terceirizar, por exemplo, serviços fundamentais. O Estado não pode perder o controle, pode ter parcerias. Isso vale para a segurança pública, a educação e a saúde. Tenho convicção disso. A Sulgás, por exemplo, é o caso da Corsan e do Banrisul. São instituições que dão lucro. Será que não temos condições de fazer uma gestão decente nessas empresas? Eu sou um defensor das parcerias público-privadas. Não sou favorável ao Estado mínimo, mas sim um Estado eficiente. Eu não sou dos extremos.

Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br | Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br

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