“O político precisa saber ouvir a comunidade”

ENTREVISTA COM OS CANDIDATOS

“O político precisa saber ouvir a comunidade”

Com experiências como vereadora de Teutônia, presidente da câmara e secretária municipal, Mareli Vogel (PP) defende uma forma de atuação política próxima da comunidade. Quer ser a representação do Vale na Assembleia Legislativa

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“O político precisa saber ouvir a comunidade”
Vale do Taquari
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Mareli Vogel – Progressistas | Candidata à deputada estadual

Nome: Mareli Lerner Vogel
Idade: 48 anos
Profissão: professora
Naturalidade: Bom Retiro do Sul (área hoje de Fazenda Vilanova)

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Histórico político:
Teve contato com a política já durante a infância, ao acompanhar o pai, Albano Lerner, que era vereador em Fazenda Vilanova. Sua trajetória teve início em Teutônia, quando foi eleita pela primeira vez para uma vaga na câmara, em 2008. Segundo ela, o convite para entrar na vida política surgiu devido ao trabalho de liderança que desempenhava enquanto professora e diretora de escola. Foi a primeira mulher eleita vereado pelo bairro Canabarro. A convite do ex-prefeito Renato Altmann (PP), assumiu a Secretaria de Saúde, Habitação e Assistência Social, onde permaneceu por cerca de três anos. No pleito seguinte, em 2012, foi reeleita e decidiu permanecer no Legislativo. Presidiu o parlamento em 2016.

Vida comunitária:
Mareli afirma que aprendeu desde cedo, com os pais, a fazer política próxima das comunidades. Foi catequista, integrante de grupo de jovens, coordenadora de casais da Igreja Católica. Em Teutônia, presidiu o Conselho da Criança e do Adolescente e participou da Liga de Combate ao Câncer e da Apae. “Eu acredito que é essa a política que a gente precisa fazer, participativa e sintonizada com a comunidade”, afirma.


Por que você é candidata à deputada estadual?

Mareli Vogel – A partir dessa trajetória no Legislativo, procuramos fazer um trabalho também regional, por meio da Associação dos Vereadores do Vale do Taquari (Avat). Após dois mandatos na câmara de Teutônia, optei por não concorrer na última eleição. Como sou coordenadora regional do Partido Progressista, fizemos um trabalho de auxílio aos candidatos da sigla em diversos municípios da região, atuando na formação e organização das campanhas. No ano passado, fui convidada a assumir um cargo na Secretaria Estadual dos Transportes e, depois, no Daer, órgãos que têm relação com todas as regiões. De lá, pude visualizar o macro, em nível estadual, bem como as dificuldades e potencialidades de cada região. Ou seja, do centro do estado, pude perceber que o Vale tem todo esse potencial de desenvolvimento econômico, social, qualidade de vida, mas, infelizmente, ainda não tem representatividade política.

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Se eleita, como será a atuação junto à comunidade regional? De que forma pretende articular as prioridades do Vale dentro do parlamento?

Mareli – Eu defendo que o político precisa saber ouvir a comunidade, dialogar e trocar ideias. Esses pilares são fundamentais. Temos que ter engajamento com a região, para saber quais são as necessidades e pautar em cima disso a atuação, os votos e as decisões como parlamentar. Sempre fiz isso como vereadora. Sobre muitos dos projetos que passavam por mim, nós reuníamos a comunidade ou determinados segmentos, para discutir com eles, envolver as lideranças, para então decidir a posição. Acredito que é isso que precisamos para mudar a política. O voto do político não pode ser isolado, ou apenas partidário, ele tem que estar ligado com os anseios da comunidade que o elegeu.

A descrença na política está cada vez maior. Qual é sua estratégia para convencer o eleitor a acreditar nas suas propostas?

Mareli – A primeira coisa que digo é que nenhuma cadeira do parlamento vai ficar vazia. Todas serão preenchidas. Se quisermos mudar alguma coisa, é preciso conhecer o perfil do seu candidato, pesquisar, se informar. Estamos fazendo uma campanha muito próxima da comunidade, com foco total no Vale do Taquari, buscando contatos com lideranças, o envolvimento e o engajamento das pessoas, de diversas formas. Tanto pela campanha virtual, como em reuniões, atividade e eventos, buscando esses espaço para conscientizar o eleitor. O papel dele é fundamental, pois está em suas mãos a decisão. Se quisermos mudar, mais ainda é importante essa consciência. Eu acredito numa forma diferente de fazer política, com ética, com transparência e resultados.

A eleição federal e estadual muitas vezes serve de trampolim para as eleições municipais. Ou seja, candidatos lançam nomes para se promover a cargos em esfera municipal na eleição seguinte. O que você pensa sobre isso?

Mareli – Isso tem prejudicado muito e talvez seja um dos motivos para que o Vale não tenha, faz muitos anos, uma representação. Desde o Erni Petry, que era um representante local, não tivemos nenhum outro deputado. Isso prejudica demais, por que os partidos trabalham muito essa questão mais local, o que acaba dispersando os votos. Eu tenho muito o interesse em solucionar essa necessidade da representação regional. Eu vivi isso na minha última experiência de trabalho, em Porto Alegre. Muitas vezes me sentindo sozinha para ter mais força política. Estou me colocando nessa posição de candidata à deputada estadual porque quero estar na Assembleia. Fui candidata à deputada federal em 2014, e não tentei ser prefeita em 2016. O eleitor também precisa perceber, estar atento, se as candidaturas têm ou não um outro objetivo. É preciso escolher um candidato que realmente queira representar a região. Eu tenho falado bastante para as pessoas: “Votem em alguém do Vale. Não precisa ser eu, mas que seja alguém daqui.” Eu tenho muito esse desejo de mostrar que o Legislativo tem um trabalho importantíssimo e fundamental, e que o Vale pode e deve ter um representante lá.

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Nossa matriz econômica está sustentada no setor de alimentos. Temos sofrido, nos últimos anos, por adoções de políticas públicas equivocadas, especialmente na cadeia de leite. Se eleita, como pretende trabalhar pelo fortalecimento da nossa principal base econômica?

Mareli – O que une todo o Vale do Taquari, desde a região alta até aqui, é a produção de alimentos. Os principais são o frango, que representa cerca de 25% da economia do estado, o suíno, 15%, e o leite, 8% leite. Já foi mais, mas decaiu. Nessa crise, o que eu mais ouvi nesses últimos dias dos produtores é que não havia uma representação política. Tiveram que buscar deputados de fora para fazer esse movimento junto ao governo para impedir que entrasse o leite importado, por exemplo. Cerca de 70% das indústrias do Vale são do setor de alimentos, o que emprega em torno de 45 mil pessoas. É um segmento ao temos que ter um olhar especial. Somos o Vale dos Alimentos, temos empreendedores, pessoas que produzem, mas precisamos fortalecer essa nossa marca. É necessário o desenvolvimento de políticas públicas para facilitar essa atividade. Hoje o Estado está sendo um dificultador. A liberação de alvarás para as agroindústrias é um exemplo. Temos na região apenas quatro municípios onde as agroindústrias estão autorizadas a vender para fora. Temos muitas agroindústrias produzindo com qualidade, mas estão travadas na burocracia. Com um representante, poderemos estar mais próximos, ouvindo as necessidade, e agir mais rápido junto às nossas entidades, associações, com o Codevat, instituições que têm muito conhecimento, mas sentem falta de uma representação política que esteja engajada lá na mesa do governador por essas demandas.

Temos problemas de infraestrutura graves. Rodovias insuficientes e precárias, enquanto outros modais, como ferroviário e hidroviário, continuam obsoletos. Qual é sua proposta de atuação nesta área?

Mareli – Precisamos de um esforço conjunto. Temos que pensar o Vale como um todo. As principais reivindicações, que já estão em pauta, dizem respeito à ERS-130 e à BR-386. Na primeira, há um projeto de alargamento, mas não ainda de duplicação. O município de Lajeado, a CIC Regional já buscam soluções para o trecho da BRF, bem como para o acesso a Arroio do Meio, sem falar a parte que congestiona muito entre Cruzeiro do Sul e Encantado. Na BR, temos esse trecho que liga Lajeado a Estrela, mantido pelo Daer, que está em precárias condições. Daqui a Pouso Novo, são muitos os acidentes. As entidades estão tomando a frente, mas precisamos cobrar mais urgência, porque isso é necessário para o nosso desenvolvimento. A questão das ferrovias é mais problemática, porque isso foi uma concessão que o governo federal fez e acabou não prevendo investimento para o RS. A empresa que ganhou a concessão investiu apenas no eixo Rio-São Paulo, um pouco no Paraná, mas o RS ficou desassistido. Esse era um potencial que poderia ser muito bem explorado aqui no estado. Em relação ao modal hidroviário, o município de Estrela tenta uma concessão para usar o porto, mas não ainda para o transporte de cargas. Temos projetos, estamos batalhando, mas ainda não conseguimos efetivar. É importante essa união entre as prefeituras, as entidades, o Codevat, a Univates , para melhorar nossas condições de infraestrutura logística, o que é fundamento para o transporte das pessoas, o desenvolvimento e a atração de investimentos.

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Qual é a sua avaliação sobre a implantação de pedágios? Como seria o modelo ideal?

Mareli – Nós discutimos isso muito. Eu participei de várias reuniões. Eu penso que, neste momento, realmente se faz necessária a implantação. Até esse é o entendimento do Codevat, das demais entidades, porque o Estado não tem recursos suficientes para manter. O que precisamos buscar, e estamos fazendo, é a redução dos custos, o menor preço. O Codevat tomou a frente para levar as demandas da região ao Dnit para a diminuição das praças de pedágios aqui em nossa região, bem como a redução das tarifas. Já existem estudos que afirmam que regiões que têm mais representações políticas, têm menos praças de pedágios. Temos que perceber também que a nossa região é central, e muitas outras passam por aqui, o que acaba nos onerando. Ao mesmo tempo, devemos aproveitar a nossa posição para fazer com que as pessoas que circulam por aqui parem em nossos hotéis, restaurantes e comércio. Onde há boas estradas, há também mais turistas.

Em tempos de crise econômica, políticas de austeridade são adotadas pelos governos. Dentro desse debate, está a privatização de estatais. Qual é a sua opinião sobre isso?

Mareli – Sou favorável a algumas privatizações sim. O estado precisa diminuir o seu tamanho, mas isso precisa ser planejado, com equilíbrio. O meu discurso não é aquele de que temos que privatizar tudo. O estado não vai diminuir assim de uma hora para a outra. Eu trabalhei em uma estrutura pesada que é o Daer. Quando surgiu, foi muito bem planejada. Em todas as regiões do estado onde não tínhamos estradas, foi fundamental essa estrutura, para dar moradia para os funcionários, engenheiros e profissionais para as obras. Hoje, o Daer se tornou uma estrutura pesada, e os profissionais também diminuíram. Não se conseguiu mais revitalizar esse quadro de funcionários. O Estado está fazendo um levantamento sobre isso, mas isso é muito moroso. Teria que ser mais ágil, para que as estruturas sejam reutilizadas ou vendidas. Acredito que o Estado tem que ser realmente responsável pelas áreas básicas: saúde, segurança e educação. Ele precisaria ser facilitador, mas em vez disso, muitas vezes está atrapalhando, gerando entraves.

Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br

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