“O cidadão é o agente da mudança”

ENTREVISTA COM OS CANDIDATOS

“O cidadão é o agente da mudança”

Ex-secretário municipal de Lajeado, Douglas Sandri propõe o que chama de “maneira inovadora de fazer política”. Candidato à Assembleia, defende a desburocratização do Estado para o desenvolvimento do empreendedorismo

Por

“O cidadão é o agente da mudança”
Vale do Taquari

Douglas Sandri – NOVO | Candidato a deputado estadual

Nome: Douglas Sandri
Idade: 27 anos
Profissão: engenheiro eletricista
Naturalidade: Lajeado

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Histórico político:
Desde 2017, atuava como secretário de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura de Lajeado no governo de Marcelo Caumo (PP), de quem coordenou a campanha nas eleições de 2016. Pediu exoneração do cargo em abril para se dedicar à candidatura à Assembleia Legislativa. Anteriormente, participou do movimento estudantil na UFRGS, em Porto Alegre, onde cursou a faculdade de Engenharia Elétrica. Integrou também o movimento Vem Pra Rua.

Vida comunitária:
Em 2013, colaborou na coleta de assinaturas para a fundação do Partido Novo, ainda na fase embrionária da legenda. Afirma que a identificação com a sigla surgiu quando foi buscar um partido liberal, baseado nos valores “vida, propriedade e liberdade”. Segundo ele, essas devem ser as preocupações centrais do Estado. “Foi assim que eu encontrei o Novo, um partido que compreende e defende isso”, afirma.


A Hora – Por que você se candidatou a deputado?

Douglas Sandri – O Partido NOVO tem uma proposta diferente. Buscamos inovar na política, sem usar Fundo Partidário, sem fazer coligação com quem usa, porque entendemos que as coligações devem ser programáticas, a exemplo de como funciona na Europa. No Brasil, não é assim, elas ocorrem em função do tempo de TV e dos valores do fundo partidário. O NOVO não faz essas negociatas. O nosso partido acredita no indivíduo como gerador de riquezas. Me candidatei para fortalecer essa ideia e por acreditar que o cidadão é o agente da mudança. Quando resolvemos fazer alguma mudança, a gente é capaz de transformar a realidade ao nosso redor.

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Se eleito, como será sua atuação junto à comunidade regional? De que forma pretende articular as prioridades do Vale dentro do parlamento?

Sandri – Penso que devemos ter um representante do qual sentimos orgulho e admiração. Cada mandato tem cerca de 20 assessores, por exemplo. Na minha concepção, isso não faz sentido. É preciso ser racional no uso de recursos do gabinete. Quanto às pautas locais, que são fundamentais, elas também são as pautas de outras regiões. Em qual região que será menos importante a segurança pública do que aqui? Qual região não está sofrendo com a falta de investimentos nas estradas como está o Vale do Taquari? Aliás, talvez sejamos a região mais prejudicada com a falta de investimentos em infraestrutura. Temos dificuldade de escoar os alimentos para outras áreas porque temos um modal apenas, uma BR apenas, que está em péssimo estado de conservação. Lajeado é um polo de comércio e serviço na região, mas temos uma rodovia cuja duplicação se arrasta há muito anos e ainda não dá para dizer que está concluída. Isso é um gargalo de infraestrutura que precisa ser resolvido, sob pena de perdermos o desenvolvimento econômico e a competitividade para outras regiões. Precisamos diminuir as barreiras e fazer o Vale respirar empreendedorismo e desenvolvimento econômico.

A descrença na política está cada vez maior. Qual é sua estratégia para convencer o eleitor a acreditar nas suas propostas?

Sandri – O que vemos hoje no cenário nacional, e no RS também não é diferente. São as negociatas. A troca de tempo de TV, o Fundo Partidário tirar dinheiro da educação, da segurança e da saúde para botar no bolso dos políticos para campanha. Isso está errado, e é por meio do exemplo que a gente vai conseguir mudar. Eu nunca usei uma diária, não quis permanecer no cargo até mais perto da eleição para manter o salário de secretário, como acontece com outros. É preciso conseguir mostrar às pessoas que há como fazer diferente, por meio do exemplo e não apenas das palavras. O NOVO recebe R$ 3 milhões de Fundo Partidário. Não usamos um centavo desse dinheiro para fazer campanha. A gente deixa isso parado e presta contas, para não devolver para os outros partidos usarem. Se conseguirmos inspirar as pessoas por meio do exemplo, nós vamos conseguir sim mostrar que há maneiras de fazer.

A eleição federal e estadual muitas vezes serve de trampolim para as eleições municipais. Ou seja, candidatos lançam nomes para se promover a cargos em esfera municipal na eleição seguinte. O que você pensa sobre isso?

Sandri – Acaba desvirtuando as eleições. O propósito deve ser representar realmente o eleitorado do Vale. Ao passo que se lançam nomes para 2020, acaba diminuindo a chance do Vale ter representatividade no Legislativo, tanto federal quanto no estadual. Vemos que grande parte dos candidatos da região estão visando um segundo momento nesta eleição. Pensam no próprio nome ao invés do propósito político. Não é o meu caso.

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Nossa matriz econômica está sustentada no setor de alimentos. Temos sofrido, nos últimos anos, por adoções de políticas públicas equivocadas, especialmente na cadeia de leite. Se eleito, como pretende trabalhar pelo fortalecimento da nossa principal base econômica?

Sandri – A área da alimentação tem uma regulamentação muitas vezes excessiva e abusiva. Se proibiu a pessoa de vender leite na porta de casa. Isso era cultural. É proibido ter uma queijaria dentro de casa. Até pode, mas a exigência é praticamente incumprível. Eu acompanhei isso muito de perto por meio da Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Turismo e Agricultura, e é o mesmo problema: regulamentação excessiva. Para abater um porco, tem que haver sempre a presença de um agente estatal, que é o veterinário oficial. O modelo está errado, só o Brasil adota isso. É claro que temos que manter o controle sanitário, da saúde e bem-estar animal, concordo com isso, mas existem modelos muito mais avançados. Temos normas feitas em gabinetes por pessoas que nunca vivenciaram o setor na prática, hiperregulamentação dos setores e regras que dificultam o trabalho dos pequenos. Isso só interessa a quem já é grande. Quero ser uma voz contra toda essa burocracia, que funciona como um inimigo do RS. Estados que conseguiram se desburocratizar, como Paraná e Santa Catarina, já nos passaram faz tempo. Nós nos amarramos na ideologia do atraso. É necessário acabar com esse ranço contra quem quer empreender, indiferente do tamanho.

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Temos problemas de infraestrutura graves. Rodovias insuficientes e precárias, enquanto outros modais, como ferroviário e hidroviário, continuam obsoletos. Qual é sua proposta de atuação nesta área?

Sandri – Em primeiro lugar, precisamos compreender que, se o Estado não consegue pagar nem os salários de professores e policiais, não consegue alcançar o equilíbrio fiscal, não vai conseguir investir a pleno em infraestrutura. Talvez um bom exemplo do governo investindo em infraestrutura é aquela ponte entre Lajeado e Estrela que ainda está sem o guarda-corpo. Aquilo é a pintura do estado investindo em infraestrutura.

Quanto aos modais, o que já temos precisamos melhorar muito, e a iniciativa privada é a única que vai poder solucionar isso. Então temos que apoiar sim a concessão das rodovias para empresas, com o compromisso no edital de investimentos na duplicação e cobrar para que o preço disso seja o mais baixo possível, um modelo em que a gente faça o menor desembolso possível. Tem que fazer assim investimento em hidrovias e ferrovias, mas quem vai conseguir investir? Só a iniciativa privada.

Qual é a sua avaliação sobre a implantação de pedágios? Como seria o modelo ideal?

Sandri – Do jeito que está não dá para continuar. Existe perspectiva de investimento federal ou estadual? Não existe. Nenhum ente está com dinheiro sobrando para isso. Nós nunca teremos a duplicação da parte de cima da BR-386, se continuarmos assim. Acho que esse entendimento é unânime. Se a solução passa por fazermos uma concessão, e eu concordo que seja, vamos fazer uma concessão que equilibre o preço, que não tire competitividade daqui. É o modelo de concessão que precisa ser pensado, de forma que a iniciativa privada se remunere sem passar a conta impagável para os usuários.

Em tempos de crise econômica, políticas de austeridade são adotadas pelos governos. Nesse debate, está a privatização de estatais. Qual é sua opinião sobre isso?

Sandri – A minha posição é a mesma de quando eu estive na Assembleia acompanhando a votação do pacote do governo Sartori. Algumas medidas passaram, outras, apesar de aprovadas, não foram implementadas. Eu estive lá, no lado das galerias de quem era favorável ao pacote. Fui lá para ser uma voz, mesmo das galerias, do povo gaúcho que paga essa conta, que é uma maioria silenciosa, que não vive do Estado. Sou totalmente favorável às medidas que o Sartori propôs naquele momento de ajuste. A questão do duodécimo, por exemplo, tem que passar. O orçamento que é passado para a Assembleia e para o Judiciário é irreal. A gente tem que corrigir essa diferença e trazê-los para dentro da realidade. A crise tem que atingir todo mundo, principalmente os mais privilegiados, com os maiores salários. Defendo também a aprovação de um amplo pacote de privatizações. O governo não tem que ser dono de uma companhia de geração e distribuição de energia elétrica, como a CEEE, se não consegue pagar a conta dos servidores. E pior: essa companhia gera déficit ao Estado e ainda acumula privilégios, pois lá se pagam altos salários, não se mede a meritocracia e qualidade dos serviços. Nós temos um déficit de R$1,1 bilhão com a CEEE, e nós aqui do Vale do Taquari também temos que pagar, sem usar a CEEE para nada. Se conseguíssemos vender o Banrisul, e com o dinheiro pagar parte da dívida com a União, teríamos mais resultados do que os próprios resultados do Banrisul. Por que Santa Catarina, que não tem um banco, está melhor do que nós? Nós não precisamos ter um banco. Temos que enxugar o Estado para que ele fique voltado somente para as suas funções essenciais.

Alexandre Miorim: alexandre@jornalahora.inf.br | Filipe Faleiro: filipe@jornalahora.inf.br

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