A mãe que não usava sapatos pretos

Opinião

Raquel Winter

Raquel Winter

Professora e consultora executiva

A mãe que não usava sapatos pretos

Por

De todo o coração, a equipe da Capital Verde parabeniza todas as mamães pelo seu dia. Para prestar uma homenagem, escrevi uma crônica que segue… Um abraço!
Eu poderia homenagear as mães com mensagens clichês (e que, mesmo clichês, nos tocam e sempre emocionam!) falando do quanto são únicas, amáveis, corajosas, incansáveis e generosas. Mas preferi, desta vez, ousar um pouco e convidar todas as mães para que calcem seus sapatos mais coloridos, levando-os para passear em locais cheios de vida, preferencialmente na companhia dos seus sonhos. Se possível, levem também para esse passeio chocolates, filhos e outras doçuras. Não entendeu?
Então me explicarei um pouco melhor. Em uma noite, atormentada por uma tosse insistente que não me deixou dormir, virei de um lado para o outro até desistir e escolher um filme entre tantos que eu não queria assistir e que estavam passando na TV a cabo. Por fim, felizmente, parei em um canal que exibia o filme Chocolate, dirigido por Lasse Hallström e que eu assisti pela primeira vez há mais de 15 anos em um voo para Nova Iorque.
Entenda, gosto tanto desse filme que poderia revê-lo centenas de vezes mais. Sob meu ponto de vista amador, o tema predominante do filme está vinculado à mudança, à compaixão e à aceitação das diferentes culturas, modelos mentais, dores e feridas que são carregadas, reveladas ou mantidas em silêncio. Se o filme aborda tudo isso, é evidente que também nos mostra a capacidade medonha que o ser humano tem de ser mau, preconceituoso e dissimulado.
No entanto, o que mais me fascina no filme é a grandeza da personagem Vianne Rouche. Mãe solteira que produz e vende chocolates para sustentar a si e à filha de 6 anos Anouk. Vianne enfrenta as adversidades mantendo-se fiel aos seus princípios e despindo-se de julgamentos. Procura encorajar sua filha estimulando-a a viver. Como ela faz isso? Com exemplos e atitudes. Gosto de uma fala em que a protagonista diz: “Filha, não é fácil ser diferente.” Então Anouk responde: “Mãe, por que você não usa sapatos pretos como as outras mães?”
Pois bem, boa pergunta. Certamente o caminho mais fácil para Vianne seria usar sapatos pretos como todas as outras mães, não causando estranheza e dançando conforme a música. No discurso, a autenticidade é reverenciada, mas, na prática, o que observo é que nem sempre é aplaudida, muito pelo contrário. O que vejo são estereótipos e padrões que se repetem. Na maioria das vezes, para pertencer, você obrigatoriamente deve calçar os sapatos pretos.
O que estou tentando dizer é que ser mãe é uma missão grandiosa e naturalmente sublime, mas que por vezes acaba nos conduzindo a escolhas, concessões, renúncias que fazem com que esqueçamos, ou melhor, deixemos de lado muito de nós mesmas. Portanto, escolher calçar os sapatos vermelhos vez ou outra é interessante para mostrar aos nossos filhos o nosso avesso, nosso diferente, nossa autenticidade.
Sabe o que pode acontecer? Pode que eles se identifiquem e finalmente entendam que não são tão estranhos quanto pensavam. Que somos mesmo únicas e especiais como sempre acreditaram (hoje não é dia de ser modesta!) e que a fruta não cai longe do pé. Fica a dica para o Dia das Mães: o passeio sugerido inicialmente ou então chocolate (em vídeo, em barra, quente, branco ou preto) com toda a filharada à sua volta!
 

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