Osecretário de Planejamento (Seplan), Rafael Zanatta, um dos principais coordenadores do recente e complexo estudo sobre o novo Plano Diretor, representou o governo municipal. Ele já havia participado dos debates realizados nos bairros Conventos, Alto do Parque e Universitário.
Os quatro presidentes das associações de bairro foram convidados: Rodrigo Henicka, do Centenário; Airton Vollmer, do Imigrante; Adelino Alcido Muller, do Igrejinha; e Claudir Ulian, do Planalto. Mas Muller e Ulian não participaram.
A conversa foi direcionada para debater assuntos que aproximam os quatro bairros. Embora distintos em diversos aspectos, têm em comum a distância com o centro, onde se encontra a maior demanda de emprego, serviços e lojas variadas e de abastecimento familiar.
As quatro comunidades estão “separadas” do resto da cidade pelas duas rodovias que cruzam Lajeado: a BR-386 e a ERS-130. Entre as principais reclamações dos moradores, a falta de travessia segura para pedestres e veículos que se dirigem ao centro.
Sobre isso, Henicka faz uma ressalva e elogia a recente abertura de um acesso ao bairro junto à rodovia federal, e que dá acesso direto à av. Carlos Gomes, uma das principais vias públicas do Centenário e de acesso, também, ao Distrito Industrial, e que carece de alargamento. “Vi muitas pessoas reclamando do local. Creio que precisamos agradecer, pois aquela obra melhorou muito a entrada para o nosso bairro. Muitos ainda não usam. Deveriam usar mais. É o ponto mais seguro”, diz. “Precisaria apenas uma melhor sinalização e iluminação”, ressalta.
O problema maior, comenta Henicka, é a saída do bairro. Hoje todo motorista que optar pela BR 386 para ir até o centro será obrigado a cruzar a rodovia para pegar a pista no sentido interior-capital. Não há qualquer trincheira, elevada ou viaduto para os veículos, e tampouco passarela para pedestre.
Em 2008, por exemplo, após a morte de oito pedestres de Lajeado e outros acidentes graves envolvendo veículos, a então concessionária que administrava o pedágio na BR construiu uma mureta na rodovia federal – entre os bairros Olarias e Montanha, para evitar a travessia de carros e ciclistas. Na época, a medida revoltou os moradores das proximidades. Eles reclamavam da distância até o centro. Quarenta dias depois de construída, a mureta foi removida.
“Nossa prioridade é o acesso à BR para os moradores saírem. Sempre houve a reivindicação por um viaduto entre o nosso bairro e o Bom Pastor. Lembro que havia inclusive um projeto anunciado pelo governo da então prefeita Carmen Regina Cardoso para tal. Mas nunca saiu do papel. Seria a forma mais segura e rápida para interligar nossa comunidade com o centro”, avalia Henicka.
Segundo o presidente do Centenário, essa passagem inferior também ligaria a av. Carlos Gomes com a av. Benjamin Constant, no bairro Conventos, utilizando-se de pequenas vias secundárias para tal. Esse cenário, para ele, seria ideal para trazer ainda mais progresso para as duas comunidades.
Entretanto, alerta Henicka, o projeto não deve mais sair do papel, principalmente em função das promessas verificadas durante as negociações entre Agência Nacional de Transportes Terrestres (Antt), Codevat e líderes regionais acerca da provável concessão da BR 386 à iniciativa privada, e o possível retorno das praças de pedágios à rodovia.
“A gente vem escutando que essa obra prometida para ser feita aqui, entre o Bom Pastor e o Centenário, será construída um pouco mais longe do nosso bairro, mais precisamente no bairro Olarias, em uma área que não ligará aquele bairro a lugar nenhum, próximo ao Moamar. Não faz sentido algum. Vai ligar as casas com um descampado, com mato. O projeto era aqui. Tem que ser aqui. Pois vai beneficiar muito mais pessoas”, reclama o presidente.
Para ele, a construção de uma passagem inferior junto ao Centenário também deve favorecer os moradores de Conventos, Bom Pastor, Moinhos d’Água, Imigrante e Igrejinha. “A grande maioria dessa população utiliza a BR para ir e voltar de suas casas. Por que não beneficiar toda essa gente em vez de construir um viaduto onde quase não moram pessoas?”, questiona.
“Só cuidam de um lado da cidade”
O representante do bairro Imigrante – antiga Picada Scherer –, Airton Vollmer, corrobora com a posição de Henicka. Para ele, o governo anterior se preocupou apenas com um lado da cidade, e não demonstrou projeções de melhorias para a comunidade onde ele vive. “Nosso bairro está cada vez pior. Eu lembro quando inauguraram aquele acesso para Conventos. Nós já avisamos: estão resolvendo apenas o problema de um lado da cidade. O nosso vai piorar”, relembra.
Vollmer salienta que o governo está asfaltando uma das saídas junto à BR, mas afirma ser insuficiente. “O outro lado também precisaria ser asfaltado. Até temos outras duas saídas, mas todas obrigam os motoristas a cruzar a rodovia. A outra alternativa é lá pela ERS-130, próximo ao Posto do Arco. Mas lá fica muito distante para a maioria dos moradores, e também gera muito movimento pois já abrange os bairros Olarias, Campestre e Santo André.”
Para ele, assim como afirma Henicka, a elevada deveria ser construída na entrada principal do bairro Conventos. “Isso seria perfeito. Manteríamos as atuais entradas aos bairros vizinhos, e melhoraríamos muito nossas saídas, com uma travessia segura e uma interligação decente entre as comunidades e o centro. O que não podemos mais é aceitar tanto risco e tantos acidentes nesse ponto.”
Mobilidade e descentralização
Zanatta relembra que o estudo do novo Plano Diretor consistiu, também, na realização de audiências públicas em todos os bairros do município. Nesses encontros, garante ele, o tema da mobilidade urbana – singularmente a respeito de problemas de fluxo nas principais artérias viárias do município – preponderou na maioria das vezes.
“Lajeado cresceu muito nos últimos dez anos, e não foi necessariamente de dentro para fora, de forma ordenada. Ele foi disperso. Começou a gerar pontos de concentração de pessoas muito longe, distantes da área central. Quando isso acontece, e isso não é exclusividade da nossa cidade, muitos não pensam no caminho entre o novo ponto com moradias e as áreas já desenvolvidas do município”, relata.
O secretário faz uma crítica ao setor imobiliário. Para ele, falta conscientização para alguns empreendedores no momento de avaliar as problemáticas geradas pela ausência de um planejamento acerca da mobilidade urbana. “Nada contra os loteadores em geral. Mas muitos só se preocupam em fazer os lotes, e não se preocupam com esse meio de campo, com o ir e vir. Dessa forma, acaba sobrando para o poder público resolver essas demandas.” Na opinião dele, o plano de descentralização ainda é o melhor caminho para evitar gargalos, principalmente, na área do trânsito. “Temos locais muito afastados, que precisam ter o sistema de mobilidade resolvido, sim. Mas dentro do estudo do Plano Diretor enxergamos a necessidade de descentralizar. Em outros locais do mundo, percebeu-se esse problema e chegou-se a uma conclusão: se toda vez eu vou ter que me desdobrar para garantir que as pessoas consigam até o centro resolver questões básicas, todos vão gastar muito dinheiro.”
Obras de ampliação e infraestrutura no trânsito, custo de transporte público e combustível são alguns gastos citados pelo secretário. “Não teremos uma economia eficiente.” A intenção, segundo ele, é manter, cada vez mais, a população local dentro dos próprios bairros. “Tanto é que temos as escolas, os postos de saúde, creches. Porque justamente não faz sentido fazer com que toda essa demanda de pessoas vá, todos os dias, ao centro para atendimentos básicos.”
Zanatta explica que o governo insistirá em novas centralidades como forma de amenizar os problemas e gargalos viários. “Queremos ver cada bairro desenvolvendo atividades básicas para suprir as demandas locais”, articula. “Garantir emprego para a população local. E um ambiente favorável para a instalação de padarias, farmácias, mercados populares, postos de combustíveis”, salienta.
Para tal, ressalta o secretário, o governo precisa também cumprir algumas “obrigações”. Entre essas, cita a construção de prédios públicos e serviços – creches, postos de saúde, escolas, linhas e paradas de ônibus – em pontos estratégicos da cidade e dos bairros. Para ele, houve precipitação por parte de ex-gestores. “Percebemos em algumas regiões da cidade que muita coisa foi mal planejada. No Universitário, por exemplo, o posto de saúde está escondido da população.”
De acordo com Zanatta, alguns bairros foram pioneiros dessa “descentralização”. São Cristóvão, Conventos, Olarias são alguns exemplos citados pelo secretário. “Nesses locais, houve um abastecimento quase que natural. Mesmo assim, ainda há problemas sérios de mobilidade nesses espaços, fruto da falta de planejamento no passado.”
Para o secretário, é preciso também respeitar a descentralização natural da cidade. Para ele, tudo depende da necessidade de cada local em específico. “Em alguns pontos, são necessários empreendimentos maiores. Não teremos um hospital e uma universidade em cada bairro, claro. Mas advogado, psicólogo, nutricionista. Prédios comerciais. Serviços do dia a dia. Com isso nos bairros, a pessoa só vai ao centro com um objetivo mais específico. Isso melhora a vida de todos, de quem mora distante e quem mora no centro.”
“Obras na BR dependem de recursos federais”
Questionado sobre soluções a curto prazo para os quatro bairros, Zanatta lembra que as obras mais reivindicadas pelas comunidades não dependem, propriamente, do governo municipal. A construção de uma passagem inferior interligando o Centenário com o Bom Pastor e o Conventos, por exemplo, ainda dependeria da provável concessão da BR-386 para a iniciativa privada, algo previsto para ocorrer ainda em 2018.
“São obras caras. Não depende do município. As obras na BR dependem de recursos federais”, reforça o secretário. Lajeado tem uma característica boa e ruim. A boa é que tem essas rodovias. Trouxeram todo o desenvolvimento para nossa cidade de região. Empregos, sustentabilidade. Mas o ruim são as consequências de haver uma pista de alta velocidade em meio ao perímetro urbano. Divide a cidade em quatro.”
Sobre a sugestão para que uma passagem inferior seja construída entre os bairros Centenário, Bom Pastor e Conventos, Zanatta diz ser favorável. “Eu concordo que o melhor local para o viaduto é no ponto sugerido. Pelas condições geográficas”, pontua. Segundo ele, esse tipo de investimento está previsto no estudo do Plano Diretor, mas depende de recursos federais, reforça.
“Criamos um mapa com diversas transposições urbanas. E esse ponto do Centenário é considerado um dos mais latentes. Pois uma coisa é certa: é proibido e perigoso atravessar a BR nesse trecho.” Conforme o secretário, apesar de não garantir a realização das obras, o Plano Diretor servirá para balizar os próximos gestores para que, no momento de avaliar o crescimento da cidade, já levem em conta as projeções de novas interligações viárias.
Estudos de perimetrais para amenizar riscos nas rodovias
O novo Plano Diretor deve enfatizar a necessidade de os gestores investirem em perimetrais que interliguem os pontos mais distantes do centro entre si, desviando assim – em partes – o trânsito de veículos das duas rodovias. Henicka e Vollmer concordam com a necessidade de investimentos em vias urbanas. Entre essas, a Willibaldo Eckardt, entre os bairros Imigrante e Igrejinha. Conforme o estudo da administração, está prevista a interligação dessa via com a rua Pedro Petry, no bairro Universitário.
“Essa perimetral, por exemplo, englobaria outras tantas vias do município, como a Rio Grande do Norte, também no Universitário e Carneiros. A ideia é fazer um grande círculo ao redor da cidade. São duas vias externas, que passam pela rua Bento Rosa, cruzam a ERS pela Pedro Petry, seguem pela Willibaldo Eckardt até a área da Lyall, no Imigrante, cruzam a BR e seguem pelos fundos de Conventos”, informa.
Mais uma vez, Henicka e Vollmer alertam para as distâncias sugeridas para os moradores com essa nova perspectiva. Zanatta concorda, mas lembra que o Plano Diretor serve para pensar a cidade durante décadas. “Na prática, a maioria das pessoas não fará dez quilômetros a mais, hoje. A gasolina está cara. Mas essa é uma previsão para muitos anos. Para evitar que, no futuro, tais empreendimentos fiquem inviabilizados em função do pagamento de uma indenização ou pela presença irregular de outros empreendimentos pelo caminho.”
Nessas futuras perimetrais, informa o secretário, já existem muitas ruas abertas ao tráfego de veículos. Entretanto, a maioria está longe das condições de trafegabilidade exigidas. A Rio Grande do Norte, por exemplo, tem projeção de até 30 metros de largura. Hoje, não passam dois carros na maioria dos trechos. “A ideia é começar a abrir as demais, licenciar as áreas e abrir. Também precisamos e vamos ampliar.”
Ligações entre os bairros são difíceis
Além da dificuldade de locomoção entre os bairros e a região central da cidade, Vollmer alerta para a falta de ligação entre as próprias comunidades distantes do centro. “Isso acaba dividindo tudo. O Centenário, por exemplo, não tem ligação decente com o Imigrante. Apenas trilhas para caminhar, ou cruzando o Distrito Industrial.”
O secretário de Obras e Serviços Públicos (Seosp), Fabiano Bergmann, também participou do debate. Ele ressalta a importância dos novos loteamentos, criados de forma mais organizada pelos loteadores. Nesse trecho, precisamos pensar em acessos para o Centenário e o Imigrante. Além do Distrito Industrial. E esses novos loteamentos instalados, próximos à BR, abriram acessos mais decentes aos bairros”, opina.
Bergmann também informa sobre novos investimentos previstos para aquela região, que servirá para melhorar a mobilidade entre os bairros. Segundo ele, um novo financiamento de recursos federais servirá, também, para a pavimentação da rua Pedro Júlio Dieter, no bairro Imigrante. Essa seria interligada futuramente com a av. João Gaspar Richter. “Ligaria os bairros Igrejinha, Imigrante e o Olarias. Ligando com a ERS-130.”
Vollmer contesta. Segundo ele, essas obras apenas vão trazer mais fluxo de veículos para o Imigrante, sem um acesso seguro junto à BR-396 para o deslocamento mais rápido em direção ao centro. “Eu insisto para que pensemos mais nas ligações com a rodovia federal. Não podemos criar mais tráfego de carros se não há uma saída decente e segura para a população atual”, observa.
O secretário de Obras reforça. “Mas essa nova saída seria uma ligação com a ERS-130. Não podemos pensar só na BR-386”, diz. Vollmer concorda. “Eu sempre defendi e ainda defendo que Lajeado precisa pensar antes em duplicar a rodovia estadual. Pelo menos entre Arroio do Meio e Venâncio Aires.” Bergmann rebate. “Mas isso não depende da gente. Estamos pensando na ligação entre os bairros.”
Zanatta também alerta para as constantes “mutações” em Lajeado. “Hoje, uma via de extrema importância pode ficar insignificante logo mais no futuro. É difícil ‘cravar’ soluções. Isso é muito comum. Basta que um novo loteamento seja aberto em um determinado local estratégico, e uma avenida antes importante se torna uma rua de bairro comum.” Ainda de acordo com o secretário, muitos loteadores estão preocupados com os acessos. “Isso valoriza o empreendimento.”
O secretário de Planejamento também alerta para as diferentes opiniões externadas pelos moradores dos quatro bairros. Para ele, muitos querem um novo viaduto, uma nova perimetral e novos loteamentos. Outros preferem manter a situação da forma que está. “A gente tem que lidar com tudo isso. Muitos querem o desenvolvimento contínuo. E muitos preferem a tranquilidade de ter menos fluxo, manter o sítio. Precisamos pensar em conjunto.”
Sobre isso, Henicka alerta para as disparidades entre os bairros Centenário e Conventos. Para ele, o segundo está mais desenvolvido em função dos melhores acessos e interligações com a região central e outras localidades do município. “Se tivessem feito aqui o que fizeram lá, poderíamos estar mais desenvolvido. Lá, além do acesso pela BR, fizeram a ampliação da av. Benjamin Constant.”
Distrito Industrial e a ocupação e uso de solo
A intenção do governo de descentralizar a cidade também mexe com o zoneamento do uso de solo em bairros até então estritamente rurais. Naquela região da cidade, Imigrante e Igrejinha ainda mantêm alguns resquícios de atividades na área da agricultura. Ao mesmo tempo, o Centenário e parte do próprio Imigrante abrigam o único Distrito Industrial da cidade. Sobre isso, presidentes das associações e governo divergem e compactuam ideias.
De acordo com o zoneamento residencial daquela região, são permitidos prédios de até quatro andares na maioria dos pontos. Entretanto, Zanatta alerta para problemas gerados pela “fragmentação” do Plano Diretor ao longo dos anos. “Provavelmente, a maior parcela desta região da cidade é de zonas residenciais e nesses, são quatro andares. Economicamente, é o que mais vale para o empreendedor nesses bairros. E a previsão é manter assim como o novo Plano Diretor.”
Já sobre o Distrito Industrial, secretários e moradores demonstram preocupação com a falta de espaço para uma possível ampliação do espaço destinado às indústrias geradoras de emprego e renda. “Não tem mais espaço. Para o nosso bairro, não tem como ampliar. E também não acho que seria justo ampliar para os bairros vizinhos. Pois causaria muitos impactos”, define Henicka. “Também é preciso atentar para a criação de animais em áreas que já deixaram de ser rurais”, complementa o representante do Centenário.
Para os debatedores, a área do Distrito Industrial também carece de um melhor aproveitamento por parte dos empreendedores e da própria administração municipal. “Eu vejo muitas empresas inativas no local”, diz Henicka. “Não sei se 70% estão trabalhando. Mas, claro, muitos são empreendimentos novos”, reforça. “E teve aqueles que devolveram o terreno, como uma sorveteria”, diz Vollmer.
Sobre isso, Zanatta explica que o Conselho de Desenvolvimento Econômico (Conden) do município elabora um levantamento de todas as empresas com direitos de uso de áreas no Distrito Industrial. Para se instalar lá, recebem benefícios do governo, além do custo inferior dos terrenos em relação a outros pontos da cidade. “A intenção é recuperar as áreas inativas dessas empresas que não investiram ainda, e oferecer para quem quer investir.”
Ainda referente à forma de negociação entre governo e empresas, Zanatta acredita que a criação de um Distrito Industrial no passado fez com que o governo municipal tivesse participação efetiva no desenvolvimento de novos empreendimentos. Por vezes, acredita ele, isso pode não ser benéfico. “Acaba competindo com a iniciativa privada. Pois oferece lotes a valores menores. Mas imagino que tenha sido uma necessidade no passado.”
Zanatta também acha um pouco inadequado o terreno escolhido para o Distrito Industrial, em função da geografia acidentada do local. Para ele, os declives impedem a logística com determinados veículos mais pesados. “Tem caminhões que não conseguem carregar muito. Tinha empresa de cimento que não podia carregar nove metros cúbicos, pois o concreto derramava em função do terreno acidentado.”
Além desses problemas, o secretário alerta para questões ambientais. Diz que há muita mata e nascentes nas proximidades do Distrito Industrial, o que inviabilizaria novas ampliações do espaço. “Tem até um CTG ali próximo que terá que deixar o local, pois está dentro de uma Área de Preservação Permanente (APP)”, diz. “E o zoneamento industrial só permite residências se comprovar que ali é o único terreno que a pessoa tem para morar.”
Ele também fala sobre o interesse do município em angariar novas empresas. Para ele, não há mais espaço para grandes indústrias, com 400 ou 500 empregos. “De repente é mais interessante atrairmos pequenas e médias empresas, com 40, 50 empregos. Não há mais espaço e capacidade de absorção para tantas demandas”, avalia.
O presidente da associação de moradores do Imigrante também demonstra preocupação com a limitação de terrenos próximos ao Distrito Industrial. Segundo ele, os lotes com no mínimo mil metros quadrados em algumas áreas inviabilizam o recebimento de novos moradores. “Não tem como fazer loteamento.” Sobre isso, Zanatta diz que a limitação em pontos do Imigrante será reduzida para 500 metros quadrados.
Ainda sobre o Imigrante, o secretário avisa que parte do bairro será transformada em zona de controle especial. “Será permitido loteamento onde antes não era, mas com restrições específicas. Serão caracterizadas pelo controle da baixa densidade das áreas loteáveis e atividades permitidas, e deverão seguir termo de referência específico para implantação de qualquer atividade.”
Além do bairro Imigrante, também será implantada uma zona especial em Carneiros. “Se liberarmos tudo por lá, daqui a pouco falta creche, escola, postos de saúde. Surgem gargalos. Então queremos amenizar os impactos do desenvolvimento. Nessas áreas especiais, por exemplo, não será permitido asfalto.”
Sobre os demais três bairros, diz o secretário, a ideia do novo Plano Diretor é manter as zonas residenciais, permitindo casas, geminadas, sobrados e prédios de até quatro andares. “Não adianta permitir mais do que isso e logo mais à frente verificar que novos problemas surgiram em função do aumento considerável da população. E também vamos cobrar, dos prédios, uma vaga de estacionamento por apartamento. Para evitar problemas externos nas ruas.”
Áreas de lazer e qualidade de vida
Os quatro bairros estão carentes de área de lazer e espaços para recreação de crianças e idosos. Além disso, a proximidade com o Distrito Industrial também preocupa alguns moradores, principalmente em função do barulho e do intenso tráfego de veículos pesados nas pequenas vias. Sobre isso, Zanatta garante que o novo Plano Diretor deve garantir planejamentos para não gerar impactos de vizinhança.
Os moradores também cobram a construção de novos parques municipais naquela região. Entre as sugestões, a utilização do antigo campo do Ouro Verde, no Centenário, hoje com aspecto de abandono. “No governo passado, houve problemas de gestão do contrato de concessão daquele espaço por parte da associação. Por fim, acabaram derrubando a antiga sede e nada foi construído no local”, diz Henicka.
O presidente da associação de moradores afirma que a própria comunidade já está desenvolvendo um projeto arquitetônico para implantar, naquele local, novas quadras de esporte e de areia para futebol e vôlei, quiosque, campos e espaço para recreação de crianças. “Estamos tomando a atitude. Não precisamos esperar que o poder público faça algo, se nós podemos puxar à frente e fazer a um custo muito menor”, salienta.
Zanatta elogia a ação e alerta para a dificuldade de manter os campos de futebol 11 nos bairros menores. “Ninguém é contra o futebol amador. Mas tem muitas comunidades que só utilizam esses espaços enormes aos sábados, e só para futebol. E, na ausência de outros espaços, esses terrenos podem muito bem se transformar em área de lazer para toda a comunidade.”
Vollmer também pede mais atenção para o bairro. “Nossas crianças não têm onde brincar. Gostaríamos de uma academia ao ar livre e uma praça boa ali perto da escola Capitão Felipe Dieter”, comenta ele.
Sobre isso, Zanatta confirma que há sugestão de novos parques municipais dentro do estudo do Plano Diretor. Entretanto, a previsão é de uma nova área no bairro vizinho, o Olarias.
Demais reivindicações
Bairro Imigrante
– Calçamento da rua Pedro Júlio Dieter até a escola de Ensino Fundamental
– Serviço de Correio eficiente
– Melhorias na iluminação pública
– Fechar laterais e cabeceiras da quadra de esportes junto ao colégio
– Construir posto de saúde no bairro
– Permutar área entre o salão comunitário e a igreja
– Regulamentar loteamentos lindeiros
– Permitir estacionamento só de um lado em algumas vias do Distrito Industrial
– Proteger os agricultores do bairro
– Proibir depósitos de veneno no bairro
– Ampliação da escola
– Construir reservatórios de água para abastecimento
– Placas de sinalização de trânsito
– Preservasr três vertentes no bairro
– Alargar a rua Henrique Oto Scherer
Bairro Planalto
– Construir sede da associação de moradores e salão comunitário nos fundos da escola Lauro Mathias Muller
– Melhorias no posto de saúde do Olarias, que hoje atende moradores do Planalto
– Construir um posto de saúde no bairro
– Calçamento das ruas Miguel Paulos e Oscar Pedro Scherer
– Construir creche no bairro
– Ampliar os horários de ônibus, principalmente aos fins de semana
– Melhorias no campo de areia
– Implantar uma praça ou área de lazer no bairro
– Finalizar o calçamento e alargamento das ruas estreitas do bairro. Como exemplos, a Boqueirão do Leão e rua Ervino T. Thomas
– Instalar uma biblioteca na escola
Bairro Igrejinha
– Construção de escola de Ensino Fundamental e Projeto Vida
– Construção de um ginásio de esportes
– Calçamento de ruas de interligação entre os bairros. Entre essas, a rua Diamante
– Reforma do salão
– Melhorias no transporte público
– Construção de uma praça
– Saneamento básico deficiente, falta de lixeiras e esgoto a céu aberto em alguns pontos
– Finalizar o campinho na rua Ágata com a Venâncio Aires
– Melhorias na iluminação pública
– Construção de câmaras mortuárias
Principais obras e investimentos previstos para estas localidades
Planalto
– Pavimentação recém concluída da rua Espumoso por meio do programa de Pavimentação Comunitária, totalizando 1.149,75 m²
Igrejinha
– Pavimentação em andamento da rua Venâncio Aires por meio do Programa de Pavimentação Comunitária, totalizando 1.200 m²
Centenário
– Novo acesso ao bairro Centenário pela BR-386, interligando à rua Carlos Gomes, proporcionando mais segurança e comodidade aos moradores da área
Imigrante
– Em andamento a obra de asfaltamento de via paralela à BR-386 nas proximidades do posto da PRF, ampliando a segurança para quem transita no local e facilitando o acesso ao Imigrante e também aos bairros Conventos e Bom Pastor
– Prevista pavimentação da rua Pedro Júlio Dieter por meio do programa Avançar Cidades
– Abertura da rua João Gaspar Richter – ligando os bairros Igrejinha, Olarias e Centenário
– Ampliação de área de lazer (antigo Ouro Verde)
– Melhoria e manutenção do abastecimento de água da rede mantida pela prefeitura, instalação de reservatórios e com perfuração de poço
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br