Tempos de surpresa e redenção histórica

Opinião

Gilberto Soares

Gilberto Soares

Coluna aborda temas do cotidiano, política e economia. Escreve duas vezes por mês, sempre aos sábados.

Tempos de surpresa e redenção histórica

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“Dizia o coronel Tavares: ‘‘O poder é um direito concedido pelo povo. Era perfeito quando o povo era meu.”
Máximas do Ferrador, em O Sujeito da Frase, livro que escrevi a não publiquei

A prisão de Lula abre espaço para um fato novo nesta corrida presidencial de candidatos desejosos de poder, mas indesejados pelo eleitor.

Reduzida a tensão, sobressaem-se rejeição e preferência – nesta ordem – na mais recente pesquisa do Instituto Datafolha. É cedo, mas a dispersão da poeira revela novidades que valem um ensaio

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NÃO PASSAM. Acossado por suspeitas, Michel Temer chafurda no rodapé. Debate-se pelo foro privilegiado, sem o qual pode ter a biografia enriquecida por uma passagem edificante pelo xilindró de Curitiba. Enquanto isso, Henrique Meirelles, ignorado com vigor pela realidade das ruas, recebe aplausos modestos nos salões atapetados. Um pouco menos piores, Geraldo Alckmin, Ciro Gomes, Álvaro Dias, Manuela D’Ávila e Fernando Haddad e Fernando Collor de Mello param na barreira dos 6%. Apesar dos anos de vitrina.
PELEIA. Mesmo que o PT invente a candidatura esdrúxula de Lula, o tempo é outro. Reduz o maniqueísmo direita x esquerda – seja lá o que isso significa no Brasil – e desnuda a verve patológica do discurso de Jair Bolsonaro. Marina da Silva, o oposto, cresce um pouco, embora sofra com o peso de um projeto confuso e, portanto, frágil. A peleia que se descortina é ruim para ambos. O cansaço da população com promessas vazias, truculência e malfeitos destaca votos brancos e nulos, além de uma provável surpresa.
NEÓFITO. Serenada a animosidade que perigava cindir a República, abre-se o espaço para o fato novo. Um neófito na política partidária, detentor do capital ético prometido pelos próceres em campanha e escamoteado quando eleitos. Um “outsider” que cresce ante o temor do fim Lava-Jato e a ameaça da impunidade ampla, geral e irrestrita. Eis o figurino sob medida para Joaquim Barbosa, ex-ministro do STF, filiado recentemente. Antes, o desafeto preferido de Gilmar Mendes passou por um breve período sabático. Sem parar, procurou vitalizar a chama em corações e mentes dos admiradores do midiático Mensalão. Incorpora a ideia de uma Justiça íntegra e para todos. Tem chances de ser o primeiro presidente negro do país que invadiu 100 anos da Idade Contemporânea abraçado à escravidão. Uma redenção histórica.
ALERTA. Cultura associativista e capacidade de doação das lideranças destacam-se como virtudes exemplares na construção das comunidades do Taquari. Por isso, surpreende o cochilo da zelosa Teutônia, ao permitir o recente escândalo familiar na prefeitura municipal. A outrora atenta cidadania local deixou de “vigiar os vigilantes”, como ensinou Platão. E caiu na vala comum ao ignorar o alerta de Thomas Jefferson: “O preço da liberdade é a eterna vigilância”. Deu no que deu.

“Ora, a questão dos direitos comuns e dos negócios públicos têm sido tratada por homens muito matreiros ou muito hábeis…”
Trecho de Tratado Político, de Baruch Spinoza, filósofo, 1670

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