Com a venda do artesanato no acampamento indígena localizado entre a RSC-453 e o Distrito Industrial, cada família consegue juntar cerca de R$ 700 por mês.
No terreno faz cerca de cinco meses, mais de 40 pessoas vivem na área. Com iluminação improvisada e sem água, para tomar banho, lavar roupa e fazer comida, os moradores precisam atravessar a rodovia, em meio ao fluxo de veículos, para alcançar uma fonte natural.
Em reunião na câmara de vereadores nessa quarta-feira, governo, representantes da EGR, autarquia que administra o trecho, e integrantes da aldeia indígena debateram a retirada das famílias do local.
O motivo seria a construção de uma rótula que dará acesso da RSC-453 para o Distrito Industrial no exato ponto onde as 40 pessoas vivem desde meados de novembro do ano passado.
De um lado, sem ter para onde ir, os índios têm como fonte de renda o artesanato vendido às margens da rodovia. Do outro, empresas que têm negócios no trecho que, de acordo a administração do município, se sentem incomodadas com a ocupação. Além disso, a falta de estrutura no local preocupa as autoridades.
“Tudo que é possível ser feito por parte de nossa gestão está sendo desenvolvido”, diz o secretário de Administração, Rudi Schneider. Segundo ele, assistentes sociais, saneamento básico e equipes de saúde frequentam a ocupação a fim de dar o suporte necessário para as famílias. “Não temos como dar água, porque é responsabilidade da Corsan, o mesmo ocorre com a luz, incumbência da RGE”, relata.
Sobrevivência
Para o cacique do acampamento, Gregório Antunes da Silva, o local, além de abrigar as famílias em barracos improvisados de lona, tem os recursos necessários para a sobrevivência do grupo.
“Aqui temos matéria-prima para o nosso artesanato, como palhas e bambus. Além disso, tem tatu para caça, plantas comestíveis e espaço necessário para criarmos frango”, diz.
O maior problema, segundo os moradores, é a falta de água. Com crianças vivendo na ocupação, a travessia da rodovia é um risco iminente.
“Desde que estamos aqui, vimos vários acidentes com morte. Tenho filho com problemas mentais, me preocupo muito. Bem que poderiam resolver isso para nós”, desabafa o índio Romildo da Silva, 50.
De acordo com Silva, não há problema de trocaram a área de moradia das famílias, no entanto, a aldeia quer a permanência do local como negócio. “Seria bom que, se nos mudarem daqui, que não nos deixem longe do ponto do nosso comércio. Não temos veículos para deslocamento”, fala.
Sem alternativas
As tratativas do poder público com a aldeia indígena ainda não têm uma solução. Sem local para a migração do grupo no município, diversos órgãos buscam alternativas para acolher as famílias. A EGR solicita que os índios não ocupem os limites da estrada, de 70 metros a partir do acostamento, ou seja, 35 metros para cada lado da rodovia.
O governo do Estado, proprietário do terreno, ainda não formalizou ordem de desocupação do local. Ministério Público Federal e Funai acompanham os desdobramentos do caso.
Cristiano Duarte: cristiano@jornalahora.inf.br