O Programa Nacional de Crédito Fundiário (PNCF) mudou a vida de agricultores como do casal Roberto Carlos Birck, 32, e da mulher Josieli Cristiane da Rosa, 29, de Canudos do Vale.
Após deixar o emprego na cidade, Birck retornou para o campo em 2010. Durante um ano, trabalhou em parceria com o sogro. Eles encaminharam o projeto para aquisição de uma área de 6,5 hectares na localidade de Baixo Canudos em 2011.
Após quatro meses, o crédito de R$ 80 mil estava liberado. O valor será pago em 20 anos, com três de carência. A parcela anual chega a R$ 5 mil, com juro de 1% ao ano. “Se não fosse esse programa, talvez nunca tivéssemos comprado nossa terra”, comemora.
Com a chegada do asfalto ao município, a terra valorizou. “Hoje vale em torno de R$ 180 mil”, calcula. A economia da propriedade é baseada no cultivo de pepino. Hoje são quatro estufas, com produção de 14 toneladas por ano, comercializadas para agroindústrias da região.
Outra meta é duplicar o volume de leite entregue à cooperativa, cuja montante hoje chega a cem litros por dia, com nove vacas em lactação. “Em breve seis novilhas começam a produzir”, adianta Josieli.
Além do valor financiado, o casal recebeu incentivo de R$ 20 mil do Executivo para ampliar a produção de pepino. Desse valor, apenas 60% é pago, dividido em sete parcelas. “O restante recebemos a fundo perdido”, explica Birck.
Com boa rentabilidade e qualidade de vida, o casal nem pensa em um dia voltar à cidade. “Com crédito, assistência técnica e garantia de mercado enxergamos um futuro promissor. O nosso sucesso depende da dedicação e do trabalho. Temos as ferramentas para tornar o negócio lucrativo e sustentável”, afirma o agricultor.
Sucessão garantida
O agricultor e pecuarista Dário Brackmann, de Linha Germano, em Teutônia, conseguiu manter os três filhos na propriedade por meio do crédito fundiário. Quando o programa ainda se chamava Banco da Terra, em 2001, Brackmann financiou R$ 40 mil para a compra de 13,7 hectares na Linha Catarina. A área foi destinada ao cultivo de milho para silagem.
Na época, ele trabalhava em parceria com o pai na atividade leiteira. “Ao ter minha própria terra, consegui expandir a produção”, conta. Com auxílio dos filhos, aluga outras áreas para garantir matéria-prima para o trato dos animais e elevar a rentabilidade. “Tudo mudou a partir do crédito oferecido pelo programa. Sem esse incentivo, nada disso seria possível”, destaca.
Regras alteram valor
As regras do PNCF foram alteradas pelo governo federal. O limite para compra de terras passou de R$ 80 mil para R$ 140 mil. O prazo de pagamento foi estendido de 20 para 25 anos.
Pelo novo formato, a exigência de renda máxima para produtores inscritos no Cadastro Único dos programas sociais mudou de R$ 9 mil para R$ 20 mil. O limite de patrimônio passou de R$ 30 mil para R$ 40 mil. Na faixa intermediária, o limite de renda aumentou de R$ 30 mil para R$ 40 mil. Para esses agricultores, o patrimônio pode ser de até R$ 80 mil e não mais de R$ 60 mil.
Uma terceira linha foi criada para contemplar famílias com renda de até R$ 216 mil e patrimônio de até R$ 500 mil. O valor máximo a ser financiado em todas as faixas é de R$ 140 mil. Para ter acesso ao financiamento, é necessária a comprovação de experiência de no mínimo cinco anos de atividade campo.
Segundo a Secretaria Especial de Agricultura e Familiar e do Desenvolvimento Agrário, apenas 985 famílias foram contempladas com o crédito fundiário em 2016. O número foi ainda menor em 2017: 289 famílias. Com as alterações, a meta é beneficiar cerca de duas mil famílias.
Para Raquel Santori, da Subsecretaria de Reordenamento Agrário (SRA), ao dar acesso à terra própria, o agricultor terá condições de empreender. “Nós emprestamos dinheiro para que ele possa produzir, ter o sustento, renda para ficar na lavoura e assim promover a sucessão”, afirma.
Com o maior número de acessos no país, no RS, a demanda por recursos é para cerca de 500 famílias. No país, o último levantamento, feito entre 2013 e 2014, apontou pouco mais de 30 mil famílias interessadas.
“Pelo programa garantimos renda e sucessores”
Conforme o presidente do STR de Cruzeiro do Sul e da Associação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais da Regional Sindical do Vale Taquari, Marcos Antonio Hinrichsen, nos 27 municípios ligados à entidade, 858 famílias foram beneficiadas nos últimos anos.
A Hora – Qual a importância do programa para a agricultura familiar?
Marcos Antonio Hinrichsen – Para a realidade da nossa região, é um programa fundamental, pois permite que famílias permaneçam no campo, especialmente jovens. Assim geram renda, trabalho, produzem alimentos e movimentam a economia. Além disso, possibilita a compra de terras nos casos de herança. Sem esse crédito, a maioria não teria condições financeiras próprias.
Como é possível ter acesso ao programa?
Hinrichsen – É necessário ser agricultor familiar, ter renda bruta anual familiar de até R$ 40 mil, e patrimônio de até R$ 80 mil. A comprovação de renda é por meio da apresentação de Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP) ou outra forma de cadastro de agricultor familiar, conforme regulamento operativo. Importante é a escolha da área. Precisa ser produtiva e se encaixar na atividade que o agricultor deseja desenvolver. Importante estar livre de pendências.
Por que o acesso ao programa é demorado?
Hinrichsen –Inúmeras famílias perderam a chance de comprar uma área de terra, justamente pela demora. Mudam valores, entram outros compradores cuja oferta de compra é maior e assim, cai por terra o sonho de se ter um espaço de produção. Para haver êxito, é preciso ter sincronia entre todos os envolvidos no processo, desde o agricultor, Emater, sindicatos, agente financeiro e governo.
Considerações finais
Hinrichsen – É urgente a necessidade de haver uma reforma agrária. Sem ela, nunca teremos justiça com relação à distribuição de terras, uma vez que a maior parte delas está concentrada nas mãos de uma minoria. Esperamos que, a partir de agora, o programa funcione, que não seja igual à situação do programa de Habitação Rural que é ótimo, mas vazio de recursos.
Como ficou
PNCF Mais – Financiamento de até R$ 140 mil, com juro de 2,5% ao ano e com 25 anos para pagar, com até 36 meses de carência.
PNCF Empreendedor – Renda entre R$ 40 mil e R$ 216 mil, com patrimônio superior aos R$ 80 mil, e limite de financiamento de R$ 140 mil. Juros de 5,5% ao ano e 25 anos para pagar, com até 36 meses de carência.