Após colher uma safra recorde em 2017, com média de 37 mil quilos por hectare, o produtor Alberto Guarda, de Arvorezinha, amarga queda de até 60% na produtividade em algumas áreas.
As adversidades meteorológica são o motivo para a queda na oferta da fruta no mercado. “Faltou frio no inverno e por isso colhemos maçãs de calibre menor”, explica. A família mantém 25 hectares de macieiras. Outro motivo de desânimo é o preço.
Segundo Guarda, este ano, os clientes buscam frutas graúdas, bem valorizada em comparação ao ciclo anterior. O quilo é negociado a R$ 2,20. “A maior parte colhida é de calibre médio ou pequeno. O mercado é sempre assim. Querem sempre o contrário daquilo que se produz”, desabafa. A família negocia o quilo da maçã média por R$ 0,90 e a miúda por apenas R$ 0,30.
Armazenadas em câmeras frias, as frutas são destinadas para mercados de Minas Gerais e São Paulo no período de entressafra para elevar a remuneração. As variedades cultivadas são gala, fuji e eva.
Outra dificuldade é a falta de mão de obra qualificada para auxiliar na colheita. Neste ano, Guarda contratou trabalhadores de um assentamento de Sananduva.
Menor frio em 35 anos
Segundo Ênio Todeschini, engenheiro agrônomo da Emater, a cultura exige entre 400 e 700 horas de frio durante o inverno. Para ele, é um dos fatores fundamentais para garantir o bom desenvolvimento da planta após o período de dormência.
Exemplifica que em Bento Gonçalves foram registradas apenas 188 horas de frio abaixo de 7,2ºC. “Na colheita anterior, tivemos 530 horas, o que justifica a safra histórica”, diz.
A média histórica, de acordo com Todeschini, é de 410 horas. “Este ano ficamos abaixo disso, inclusive foi a menor incidência nos últimos 35 anos”, finaliza.
Clima e polinização são adversidades
Faz 40 anos que Valdocírio Bozzetti, o popular “Valdo”, de Boqueirão do Leão, aposta na produção de maçãs. No entanto, o clima e a dificuldade em fazer a polinização prejudicam o desenvolvimento das frutas.
No pomar mantido em parceria com o irmão Luiz, mantém 1,1 mil plantas. “Chegamos a colher 20 mil quilos. Problemas meteorológicos, ausência de abelhas e calotes de compradores nos fizeram reduzir a área. Mas nunca desanimamos, gosto de produzir maçã”, afirma.
Cultiva as variedades gala, moles, delícia e ana. Além da maçã, produzem melão, melancia e uva, vendidos para o mercado local.
Celita Peterson, chefe do escritório da Emater-RS/Ascar, diz que a regularidade de frio afeta a produtividade. “Até existem abelhas. O que falta é uma variedade polinizadora em meio ao pomar. Teríamos mercado para a fruta no município, mas como a planta exige muita mão de obra é outro empecilho”, comenta.
Aumento de 30%
Apesar da projeção de queda média de 20% na produção em relação ao ano passado, o preço deve compensar os prejuízos, conforme expectativas do presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Maçãs (Agapomi) Eliseu Zardo Boeno. A estimativa é de colher entre 450 e 500 mil toneladas. “As adversidades meteorológicas influenciaram no tamanho e na coloração do fruto. Faltou chuva em dezembro e frio no inverno”, explica.
Segundo Boeno, o cenário será decisivo para a retomada dos preços. “Esperamos um aumento de 30%. Estimamos uma média de R$ 1,30 por quilo. Na safra passada, variou entre R$ 0,75 e R$ 1”, compara.
As exportações devem contribuir para uma maior valorização da fruta. Atualmente, 10% da safra é destinada a mercados do exterior. Segundo a Fundação de Economia e Estatística (FEE), em 2017, chegaram a 34,4 milhões de quilos e geraram receita de US$ 27,3 milhões. Os principais compradores são Bangladesch, Irlanda, França, Rússia e Emirados Árabes Unidos. Na projeção da Associação Brasileira de Produtores de Maçã (ABPM), o RS deve exportar até 40 milhões de quilos em 2018.