Quem frequenta o futebol amador de Lajeado e região já ouviu falar no “Pinico” ou “PiniGol”. Bom de bola, o morador do bairro São Bento se tornou massagista de clubes por acaso, entre tantos acasos registrados na vida desse lajeadense, caçula entre oito irmãos. O nome verdadeiro? Poucos conhecem. Mas ele faz questão de reforçar: “Me chamo Daniel Cristiano Lienemann. Com dois enes.”
Ele nasceu no dia 2 de outubro de 1985. Foi o nono e último filho do casal Artêmio e Gerda Lienemann, já falecidos. Ele, em 2002, em decorrência de um câncer. Ela, em 2017, após supostas falhas nas avaliações médicas e muito sofrimento em função de uma apendicite.
E é falando da mãe que ele, Pinico, mais se emociona. Ele chora ao lembrar de Gerda. “Ela fazia tudo para nós. Eu sinto falta dela todos os dias. Não tem um dia em que não pense um pouquinho só nela”, diz.
Gerda morreu em um sábado à noite. Era véspera do Dia das Mães. Ele não esquece dos últimos momentos. “Levamos cinco vezes na UPA nas últimas semanas, e ela sempre reclamando de dores. Exames não mostravam muita coisa, e ela sempre piorava. No sábado, estava com muita dor. Foi na UPA e o médico disse a mesma coisa. Levamos então para o hospital, mas ela acabou falecendo. Deu infecção”, resume, e logo pede para trocar de assunto.
Hoje mora com um irmão e uma irmã na casa dos pais. Próximo ao Pró-Bairro. Sobre a vizinhança, ele alerta. “Nosso bairro mudou bastante.” Questionado sobre o que, exatamente, mudou, resume. “O povo, com muita gente nova. Ficou menos rural e mais urbano.”
Mas Pinico, ao contrário de muitos moradores, não reclama do avanço do progresso sobre a antiga comunidade rural de São Bento. “Nossa infraestrutura melhorou muito. Agora temos mercado, posto de saúde, colégios, creches. O que piorou foi a insegurança, uso de drogas. Eu ainda não fui assaltado. Acho que tenho um pouco de sorte. Mas vejo muitos roubando para consumir drogas, é triste.”
Pouco estudo e muitos sonhos
Pinico, ou “Daniel Lienemann com dois enes”, estudou até a 5ª série na Escola Municipal São Bento. “Não gostava de estudar. Ia na aula por ir. Acabei repetindo muitas vezes e por fim desisti. Não era o que eu queria.” Mesmo assim, os empregos vieram ao natural, conta. O primeiro foi no Mercado São Bento. Lá, ajudava no estoque. “Fazia o que dava, o que me pediam.”
Depois, ele também atuou como office boy no próprio jornal A Hora. “Fazia entregas diversas, serviços de banco em geral. Serviços de escritórios, podemos dizer assim. Depois saí para auxiliar candidato em uma campanha política para vereador, em 2016”, conta.
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Hoje, ele trabalha no cartório e está muito feliz. Faz os serviços de banco e caminha muito pela cidade. Aliás, se tem algo que gosta de fazer, é caminhar. “Gosto de estar sempre de bermuda e tênis, sempre caminhando nas ruas. Sem terno e gravata. Deus me livre ter que ficar usando sapatos”, brinca.
Massagista amador
Mesmo sem formação acadêmica na área, Pinico se autodenomina um “massagista”. Iniciou por acaso, claro. “Também comecei com isso em São Bento. Havia trabalhado um pouco no time de Nova Santa Cruz. Mas pouco tempo. Eu pedi: vocês têm massagista? Eles não tinham. Daí assumi. Acharam a ideia boa. Os atletas corriam mais. E o que iniciou meio de bobeira dura até hoje”, orgulha-se.
Bem conceituado entre os clubes, passou a ampliar o leque de “clientes”. Passou pelo São Bento, Campestre, Santo André, Carneiros e SER São Cristóvão. Fora de Lajeado, Canarinho e 15 de Novembro, de Cruzeiro do Sul. “O Lajeadense ainda não. Mas quem sabe um dia. Problema é que ali tem que ser todos os dias. Mas profissional eu também atendo a Alaf.”
Sonhos para o futuro
Entre os sonhos dele, não está o casamento, brinca. “Tem umas namoradas por aí, mas casar nem pensar. Hoje tem mais gente separando do que casando. Não serei eu o próximo”, resume.
“Tenho muitos sonhos na vida. Abrir um escritório de massagem. Ter os próprios clientes. Talvez fazer isso à noite, e durante o dia seguir com o trabalho no cartório e os ‘bicos’ no futebol durante os fins de semana. Gosto da vida que levo, e sou feliz assim”, garante que o homem que ainda jovem já venceu duros problemas cardíacos e não tem medo de morrer. “Meu único medo é fazer as pessoas que gostam de mim sofrerem com a minha partida. Sei que vou deixar saudades.”
Rodrigo Martini: rodrigomartini@jornalahora.inf.br