O mesmo investimento responsável pelo desenvolvimento de bairros, cidades e regiões é capaz de se tornar, sem a presença de políticas e obras públicas credíveis, um dos piores calvários para as mesmas comunidades beneficiadas. Estamos falando das rodovias estaduais que “cortam” Lajeado, mais especificamente as ERSs 130 e 413.
As comunidades dos bairros Moinhos D’Água, São Bento e Floresta vivem uma relação de amor e ódio com suas rodovias asfaltadas. Se de um lado essas são a única saída – e entrada – para as localidades, elas matam. Ameaçam. Preocupam. Assustam.
Não são poucos os casos de morte e atropelamento nessas duas vias de alta velocidade, encravadas em perímetros urbanos de alta densidade populacional. E cuja mesma população aumenta a cada semestre. A cada mês. Quase, a cada dia.
Muito por isso este caderno, assim como a maioria das cinco publicações anteriores, discorre – e muito – sobre o assunto trânsito. Talvez por ser mais “visível” ou por estar tão profundamente ligado ao nosso cotidiano é que o trânsito de veículos seja tão debatido e questionado em cada comunidade onde o projeto Mapa da Cidade realiza este raio X das localidades.
E é preciso, sim, discutir e discutir mais sobre as questões do trânsito. Não podemos mais aceitar que vidas sejam interrompidas de forma tão brusca e violenta com a frequência que acompanhamos nas nossas rodovias. E precisamos discutir, sim, porque as soluções apresentadas e concretizadas ao longo dos últimos anos são pífias, irrisórias. Quase um deboche.
Falta acostamento para os pedestres e ciclistas dos bairros Moinhos D’Água e São Bento, obrigados a utilizar a ERS-413 para ir ao trabalho. Faltam passarelas para os estudantes do bairro Floresta cruzarem com segurança a perigosa ERS-130 para chegarem à escola. Aliás, os alunos dos três bairros carecem de segurança todos os dias em meio à velocidade de carro e caminhões.
O progresso ainda assusta aquelas três comunidades, cujas raízes estão marchetadas no ambiente rural. E essa transição entre o meio rural e urbano, por si só, já é traumática. O impacto social é inevitável. Deixa-se a tranquilidade interiorana para adentrar-se na roda-viva da cidade “grande”. Ao governo – ou ‘aos governos’ – cabe fazer dessa mudança o menos aflitivo possível. Torná-la segura, a grosso modo.
Da mesma forma, o progresso trouxe novos anseios para cada uma daquelas comunidades. Se antes bastava a tranquilidade do campo, a quietude da lida com os animais e as aprazíveis conversas com os compadres e vizinhos, hoje as pessoas querem e exigem mais.
E cabe ao governo, o agente controlador dos recursos públicos, garantir certas exigências básicas desses moradores. Áreas de lazer, acesso à comunicação de qualidade, praças de esporte, unidades de saúde e médicos próximos. Escolas. Escolas. E escolas.
A educação padece diante da falta de estrutura. Alunos sentados em cadeiras de plástico, salas de informática transformadas em dormitórios para abrigar alunos do turno integral são realidades difíceis de engolir em um município tão rico e próspero como Lajeado. Alunos desviando de pesados caminhões nas rodovias estaduais para chegarem às escolas, então, é inaceitável. Inaceitável!
Esperamos, mais uma vez, que todos os compromissos firmados pelos representantes do poder público dentro deste caderno sejam cumpridos. A curto prazo, de preferência.
Flagrante
Em meio ao avanço urbano, moradores ainda arrumam uma forma de manter certas tradições rurais. No início da rua Primeiro de Maio, quase esquina com a João Benno Mallmann, no bairro Moinhos D’Água, os gansos ainda são utilizados como forma de afastar possíveis invasores. Assim como essa criação, é comum verificar outros abrigos de animais junto às residências nos dois outros bairros.