Diagnóstico mostra região imersa na discriminação

Desigualdade social

Diagnóstico mostra região imersa na discriminação

Estudo feito pela Faculdade La Salle analisou cinco maiores municípios do Vale e aponta que, mesmo despercebida, segregação faz parte da cultura comportamental da população

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Diagnóstico mostra região imersa na discriminação
Vale do Taquari
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O preconceito, seja pelo gênero, renda ou etnia, faz parte do cotidiano da população dos cinco maiores municípios da região. O comportamento faz parte da cultura social e pouco é reconhecido ou admitido.

O apontamento faz parte de diagnóstico feito pela La Salle de Estrela. Pelo menos 11% dos entrevistados admitem ter passado por algum tipo de discriminação. Durante a pesquisa, 540 pessoas foram entrevistadas, 108 em cada município.

Dessas, 57 passaram por preconceito de gênero, etnia ou renda. A análise faz parte da pesquisa Desvelando o que queremos esconder e é resultado da ampliação do estudo feito em Estrela no ano passado.

Na primeira oportunidade, a La Salle procurou identificar as desigualdades sociais do município. Os resultados mostraram uma sociedade desigual. Aspectos culturais e econômicos foram apontados como agentes que condicionam o cenário de disparidade.

Os dados foram apresentados durante fórum em setembro de 2016. No encontro, os participantes sugeriram ampliar a pesquisa e diagnosticar o contexto de outras cidades do Vale.

A pesquisa começou a ser elaborada em fevereiro. Os questionários foram aplicados em Arroio do Meio, Encantado, Estrela, Lajeado e Teutônia, no dia 6 de maio. O projeto é coordenado pelo reitor da La Salle, irmão Marcos Corbellini, e pela diretora acadêmica, Andréa Gerhardt.

A amostragem definiu aplicação em três bairros, em cada município. Os questionários foram aplicados na região central, em um bairro de alta e outro de baixa renda.

Segundo Andréa, um dos principais aspectos identificados na pesquisa é o fato de os entrevistados não reconhecerem a existência da segregação no cotidiano. Pelo menos 25% acredita que existe preconceito no município. Enquanto isso, 75% não percebe.

Por outro lado, 75% dos entrevistados acreditam que a discriminação não diminuirá ou deixará de existir. Cerca de 25% acreditam que, com o tempo, ela desaparecerá. “Isso mostra que as pessoas são resistentes às mudanças. Ao mesmo tempo, mostra que elas aceitam essa realidade.”

Formas de segregação

Cerca de 265 homens, 252 mulheres e oito LGBTs responderam os questionários. Menos de 5% dos homens entrevistados declararam ter passado por alguma discriminação relacionada ao gênero. A maior parte enfrentou a situação em virtude da renda ou etnia.

No meio feminino, a maioria foi vítima em relação ao gênero. Em seguida, parte aponta ter passado pela situação em virtude da renda ou pela etnia.

Oito pessoas se declararam LGBT. Todas afirmam ter sofrido preconceito devido à renda. Apenas três disseram ter enfrentado a situação em virtude do gênero.

A renda é uma das principais formas de preconceito enfrentadas pelas pessoas que se declararam brancas. Aquelas negras, pardas ou indígenas passaram por preconceito devido ao grupo étnico.

Faixa etária

De acordo com Andréa, o diagnóstico mostra que, quanto maior a faixa etária dos entrevistados, menor é a percepção das discriminações. “As pessoas de mais de 60 anos dizem que quase não sofreram preconceito. Aquelas com menos de 40 anos conseguem identificar com mais facilidade.”

Na avaliação de Andréa, isso é resultado da conduta cultural. Para ela, as pessoas mais velhas têm atitudes preconceituosas ou foram vítimas, mas não percebem esse comportamento no meio onde estão inseridas.

Escolaridade

Dos 540 entrevistados, 11 se declararam analfabetos. Nenhum é de Estrela. A maioria era de pessoas idosas na faixa de 80 a 90 anos. Quanto ao grau de instrução, a maioria tem ensino Fundamental incompleto. Pessoas com mais escolaridade têm facilidade em reconhecer.

Renda

Pouco mais da metade dos entrevistados declarou ter renda maior que R$ 2,2 mil. Pelo estudo, quanto maior a renda, menor a percepção da discriminação. Aquelas que tinham menor renda percebem a segregação.

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Conforme a coordenadora, aqueles com menor poder aquisitivo afirmam ter passado por situações de discriminação devido à etnia.

Dados mostram que 75% das pessoas não reconhecem a discriminação no dia a dia

Dados mostram que 75% das pessoas não reconhecem a discriminação no dia a dia

População não reage

Os entrevistados responderam 15 perguntas no total. Três questionavam se a pessoa havia passado por alguma situação discriminatória. Na sequência, qual atitude foi adotada diante do ato. A maioria disse não reagir diante da situação. Poucos alegaram revidar com algum xingamento. Das 540, apenas 26 pessoas buscaram resolução da situação por meio da Justiça.

Apresentação dos resultados

A La Salle apresenta os dados da pesquisa durante um novo fórum. O encontro ocorre em outubro e pretende oportunizar um espaço de discussão. “O estudo pode auxiliar no desenvolvimento de políticas públicas educativas para alterar essa conduta”, sugere a coordenadora.


Relembre

O primeiro estudo, feito no ano passado, apontou um cenário desigual. Mulheres, negros, pardos e indígenas são segregados em situações comuns que passam despercebidas. Uma das disparidades é apontada na distribuição de renda. Aspectos culturais e históricos também exercem influência nesse cenário. A pesquisa foi feita entre agosto e setembro.

Ao todo, 399 pessoas foram entrevistadas, em 17 bairros. Elas responderam a 30 perguntas baseadas em dados estatísticos do IBGE, do censo demográfico de 2010. As perguntas eram relativas a questões de gênero, raça, renda, escolaridade e idade.

Os dados mostram uma sociedade em que prevalece a discriminação em virtude de gênero ou etnia. Os brancos têm mais oportunidades em relação aos outros grupos étnicos. As mulheres, apesar do mesmo nível de formação que os homens, recebem salários inferiores. Os mais pobres têm menos oportunidades e enfrentam o preconceito devido à renda obtida.

 

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