Desestímulo na lavoura de trigo

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Desestímulo na lavoura de trigo

Preço baixo, custos elevados, importação e estoques altos desanimam os triticultores. Neste ano, a área dedicada à principal cultura de inverno ficará menor, apontam os primeiros levantamentos do ciclo feitos por Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Emater. Para a…

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Desestímulo na lavoura de trigo

Preço baixo, custos elevados, importação e estoques altos desanimam os triticultores. Neste ano, a área dedicada à principal cultura de inverno ficará menor, apontam os primeiros levantamentos do ciclo feitos por Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e Emater. Para a Conab, o recuo será de 10% (699, 2 mil ha). Para a Emater, de 6,49% (727,7 mil ha).

Com área menor, diminui também a produção. Foram 2,49 milhões de toneladas em 2016, segundo a Conab, e 2,24 milhões de toneladas, conforme a Emater. Neste ano, serão 1,63 milhão e 1,76 milhão de toneladas.

Para Carlos Bestetti, superintendente da Conab no estado, a área só não será menor porque o produtor manterá a rotação de cultura para favorecer o cultivo de soja no verão.

Conforme o presidente da Emater, Clair Kuhn, apesar do desestímulo, o produtor está consciente da importância de manter a cobertura do solo no inverno. “As áreas que deixarão de receber o trigo devem ser ocupadas por aveia, azevém, cevada e plantas forrageiras. São culturas de custo menor de plantio e que não deixam o solo desprotegido”, diz.

Se forem considerados os rendimentos obtidos nos últimos anos, a produtividade média do trigo para o estado será de 2.420 kg/ha, projetando um total de 1,76 milhão de toneladas para a safra 2017, caso as condições meteorológicas sejam favoráveis. Essa produção seria 26,71% menor que a do ano passado, quando foram colhidas 2,24 milhões de toneladas. “Essa significativa diferença na produção é explicada pela boa produtividade obtida no ano passado (3.132 kg/ha), embora a qualidade final do produto não tenha sido proporcional à produtividade”, avalia Kuhn.

Paulo Pires, presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), acrescenta que o baixo preço da soja também faz com que o agricultor busque uma compensação com o trigo.

A área apontada pela Conab é a menor desde 2006, quando somou 693,3 mil hectares. “É um retrocesso. Além das dificuldades de venda, queda no preço, o governo ainda reduziu em 3,6% o preço mínimo. Está em R$ 37,26. No mercado, o valor chega a R$ 28.”

Lamenta o fato de o produtor não ter opção para substituir o trigo. É fundamental cobrir a terra e as demais culturas alternativas ainda não têm expressão econômica. Segundo Pires, o triticultor enfrentou problemas nas últimas três safras. Em 2014 e 2015, as condições meteorológicas foram adversas. No ano passado, o clima foi favorável, a qualidade e a produtividade foram históricas, no entanto, a comercialização trouxe percalços. “O produtor está desanimado. Mesmo com cereal com PH alto, ele sofreu desvalorização”, explica.

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Com a aproximação do período de plantio das safras de inverno, entidades começam a divulgar os primeiros e divergentes números sobre o encolhimento da cultura do trigo. Apesar de concordarem com a perspectiva de redução de área, a Emater e a Conab têm projeções diferentes para a produção final.

No ponto mais extremo da queda está a Conab, que, em seu oitavo levantamento sobre a safra brasileira, estima queda de 34,6%, mesmo prevendo redução de somente 10% da área. Menos pessimista, a Emater, que também divulgou sua projeção no início do mês, acredita em redução inferior a 7% na área e de cerca de 20% na produção.

Para as outras culturas de inverno, o cenário é diferente: a aveia branca (230,7 mil hectares, alta de 1,32%), canola (com 52 mil hectares, mais 5%) e cevada (51,50 mil hectares, alta de 16,5%), segundo a Emater.

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Foco no exterior

A Secretaria Estadual da Agricultura, Pecuária e Irrigação (Seapi) estuda alternativas para diminuir o impacto aos produtores. Segundo o coordenador técnico da Câmara Setorial do Trigo, Altair Hommerding, o governo, junto com entidades da cadeia produtiva, tenta encontrar soluções para melhorar a logística de mercado, aumentar a capacidade de armazenamento dos grãos e diminuir despesas portuárias, para facilitar a exportação do produto.

“Queremos melhorar a qualidade do trigo colhido para atrair novos mercados. Para isso, trabalhamos na segregação das cultivares, de modo a reduzir a mistura”, explica. Conforme ele, já existe orientação aos produtores para que cultivares de trigo com propósitos diversos sejam armazenadas em diferentes lugares. “Lotes mais homogêneos vão conferir mais qualidade aos grãos. É importante fazer a segregação também desde o plantio”, adverte.

Valorizar a qualidade

O triticultor Martin Fernando Beuren (foto), de Santa Clara do Sul, começou a semeadura nesta semana. Plantará 150 hectares, dez a menos do que no ciclo anterior. A área será mantida pelas vantagens agronômicas que refletem nas culturas de verão como a soja.

Apesar da frustração com o preço da safra anterior, Beuren acredita em um cenário positivo. “Depende muito da oferta e procura. Se houver perdas em outros países como a Argentina, podemos obter bons preços”, analisa.

Como principal desafio, cita a necessidade de valorizar e pagar um valor justo quando o grão é de boa qualidade. “Nosso grão registrou PH de 82 e mesmo assim foi destinado para ração. Vendemos a saca por R$ 25. É injusto desperdiçar o que produzimos e depois importar um trigo de menor qualidade para fazer farinha”, opina.

O trigo é a principal cultura de inverno. Beuren destaca que o retorno proporcionado pela aveia e canola é muito baixo, além da falta de tecnologias para aprimorar a colheita e a ausência de mercado consumidor na região.

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