Vale do Taquari – Comemora-se hoje o Dia Internacional do Idoso. A data foi instituída pela ONU em 1991 com a proposta de sensibilizar a sociedade a respeitar e proteger os mais velhos. A cada ano, a transição de setembro para outubro marca uma série de atividades alusivas à chamada terceira idade, em eventos que movimentam milhares de pessoas na região.
A promoção do III Encontro Regional de Idosos do Vale do Taquari, realizado ontem na Univates, em Lajeado, exemplifica a tradição. Palestras, oficinas, brincadeiras e teatro fizeram parte da programação. Aos 88 anos, Delézia de Oliveira Lopes foi a participante mais velha.
Nascida em São Sebastião do Caí, veio com os pais para Lajeado ainda bebê. Primeira entre os dez irmãos, teve oito filhos. Ostenta o título de tataravó de uma menina com 2 anos. Apesar da idade, faz questão de preparar todas as refeições diárias. “Entendo que o segredo da longevidade é ter hábitos saudáveis, mas não abro mão de uma comida bem gordurosa.”
Em contrapartida, faz exercícios de forma periódica. A condição física melhorou há quatro anos, quando começou a participar das atividades do Sesc. Se acostumou a começar o dia com alongamentos. “Talvez por isso, as visitas ao médico são raras. Não tomo remédio”, afirma.
Viúva há 18 anos, mora sozinha e encontrou nas amigas o amparo para se divertir e manter a lucidez. É com elas que gosta de dividir uma garrafa de vinho de pêssego todos os fins de semana. Revela jamais ter sonhado em chegar à tal idade com tamanha disposição. O único problema, relata, são pequenas dores na coluna, o que não a impede de qualquer atividade. “Levanto da cama às 6h. Levo a vida numa boa, só me preocupo quando meu neto sai para as festas. Fico controlando pela janela”, brinca. Outro segredo é o hábito diário de tomar chimarrão. “Quando tenho visita, tomamos duas térmicas.”
Qualidade de vida em alta
Diversas cidades da região estão entre as melhores do Rio Grande do Sul no que tange à qualidade de vida, entre elas, Forquetinha, Lajeado e Colinas. Índices da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan), divulgados no fim do primeiro semestre, comprovam a afirmação.
A entidade apresentou os resultados do estudo sobre educação, saúde, emprego e renda de 5.565 municípios brasileiros. O índice varia de 0 a 1. Quanto mais próximo de um, mais desenvolvida a cidade.
Dos 496 municípios gaúchos, Lajeado apresentou a pontuação mais alta dentro dos critérios avaliados, com 0,8825 pontos. No ranking nacional, a cidade polo do Vale do Taquari está em 15ª lugar. Na área da saúde, a melhor nota: 0,9486. Para o governo municipal, o resultado é decorrente das estratégias montadas ao longo dos últimos anos.
O segundo lar
Clínicas geriátricas ganham espaço no mercado ao ofertar atendimento ímpar as famílias que não conseguem mais cuidar dos idosos, e acabam se tornando o segundo lar das pessoas mais velhas. A Fundação Vovolândia São Pedro, de Estrela, está entre as maiores e mais antigas da região.
Segundo o coordenador Ivanor Palm, 51, a proposta de construir o espaço surgiu há 40 anos. Por duas décadas, um grupo de famílias – apoiado pelo governo e pelas igrejas católica e evangélica luterana – peregrinou em busca de dinheiro para comprar as terras e erguer o imóvel. Rifas, bailes, sorteios estiveram entre as ações voltadas à arrecadação de fundos.
O espaço foi inaugurado em novembro de 1995, concentrando nos primeiros tempos quase 90 moradores. Eram pessoas mais autônomas, que dispensavam cuidados mais específicos. Costumavam ajudar no funcionamento da casa, prestando auxílio inclusive no cultivo da horta.
Com o tempo, a legislação mudou e proibiu tal tipo de integração. “Eles até talvez gostariam, mas não podem. Tudo que acontece com os vovôs é de nossa responsabilidade”, frisa Palm. Por isso, a procura de pessoas com problemas de saúde tornou-se maior. Hoje, a entidade atende 60 idosos, divididos em três graus de dependência. As idades variam de 60 a 97 anos. Qualquer um pode morar no local, cujos custos devem ser arcados pela família.
Oferta de emprego
Na região, a profissão de cuidador de idoso está em alta, porém faltam profissionais qualificados para preencher as vagas nas clínicas, casas de repouso e domicílios. A dificuldade foi atenuada nos últimos anos a partir da formação oferecida pelo Pronatec.
A primeira turma de Estrela se formou no ano passado. Foi a oportunidade ideal para Maria de Fátima Araújo, 30, que trabalha desde junho de 2013 na Vovolândia. Começou no ramo ainda na adolescência. Com 15 anos, tomava conta de um casal de idosos em Três Passos.
Aos 20 anos, mudou-se para Estrela em busca de serviço. Sem emprego na área, chegou a atuar de faxineira e industriária, até conhecer a clínica. “Agora que consegui me fixar, parte da minha família também veio morar por aqui.” A irmã dela também optou por seguir a profissão. Há nove meses trabalha na Vovolândia.
Mas as clínicas geriátricas também têm dificuldades para encontrar técnicos de enfermagem. Os profissionais são disputados entre as instituições e também com os hospitais. O problema se agrava na medida em que a demanda de idosos mais dependentes também cresce.
Coqueiro Baixo: a cidade mais velha do Estado
Com menos de duas décadas sendo considerado município, Coqueiro Baixo tem maior proporção de idosos no Estado, segundo dados IBGE. Dos 1.528 habitantes, 449 têm mais de 60 anos – um total de 29,38%. Este índice é quase três vezes maior que a média nacional (10,8% da população é idosa).
O êxodo rural é o maior desafio dos gestores públicos. A saída de jovens em busca de oportunidades é constante. A terceira idade recebe atenção singular dos governantes, pois é capaz de decidir qualquer eleição. Os aposentados têm cursos, encontros, palestras, bailes, danças e ginásticas (incluindo hidroginástica) promovidos pela administração municipal.
Para os moradores, a qualidade de vida na cidade é invejável. Pelas ruas, durante a semana, é difícil encontrar uma pessoa com menos de 40 ou 50 anos. A maior distração e forma de lazer é o carteado. São seis bares no centro. As festas da terceira idade sempre estão lotadas.
Vovôs são jurados de skatistas
Neste sábado, a Vovolândia terá um evento atípico: o primeiro Skate no Asilo. Um grupo de jovens se comprometeu a promover um evento radical para interagir com os idosos. Uma pista será montada no estacionamento. “O mais bacana é que os moradores serão jurados da disputa”, aponta a supervisora da entidade, Maria Inês Vogt, 44.
O evento começa às 15h e segue até as 17h. “A ideia do projeto é levar o campeonato de skate para dentro entidade e ‘chacoalhar’ a vida da maturidade. O foco é motivar a interação entre o pessoal do skate, que é cheio de energia com os vovôs e vovós”, informa o organizador Rodrigo Kronbauer, da marca Verssa Shoes, promotora do evento.
A Secretaria de Cultura e Turismo de Estrela (Secultur) é apoiadora. “O skate no asilo é uma intervenção para chamar atenção da sociedade e fazer a interação de gerações. Nós apoiamos porque é uma ótima iniciativa que valoriza os nossos vovôs”, diz Bruna Geller Ribeiro, da Secultur. Além das manobras, o dia promete mais agitação: terá música dos anos 50, grafiteiros, churros, sucos naturais e slackline – esporte praticado sobre uma fita esticada entre dois pontos fixos.