Vale do Taquari – A América Latina Logística (ALL) aceita a implantação de um trem turístico na malha ferroviária instalada entre os municípios de Estrela e Guaporé. Sob concessão da empresa, a Ferrovia do Trigo recebe uma média de apenas dois trens de carga por dia. A Serra Verde Express aparece como principal investidora. Planeja implantar, até março de 2015, o primeiro trem de passageiros desde 1982. Investimento deve superar R$ 1 milhão.
O diretor comercial da Serra Verde, Adonai Arruda, demonstra confiança na concretização do projeto. Cita acordos firmados no Mato Grosso do Sul e no Paraná, onde a empresa também negociou as linhas com a ALL, detentora de concessões naqueles dois estados. Em Curitiba, por exemplo, a concessionária fica com 39,9% da tarifa cobrada dos passageiros para o passeio de trem.
Conforme assessoria de imprensa da ALL, restam apenas ajustes no projeto para enviá-lo à Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), reguladora do transporte ferroviário no país. Uma equipe da ANTT deve percorrer em dezembro os 63 quilômetros do trecho para avaliar as condições de segurança da malha. Hoje, segundo o representante da Amturvales, Gilberto Keller, os trilhos estão adequados apenas para trens de carga. “A agência exige mais segurança para passageiros.”
A proposta é incluir os municípios de Estrela, Colinas, Roca Sales, Muçum, Dois Lajeados e Guaporé no roteiro turístico. Conforme o diretor da Serra Verde, o trem terá capacidade para 56 passageiros. O preço da tarifa deve girar em torno de R$ 120. “Este valor depende da negociação com a ALL, que ficará com parte da tarifa como forma de aluguel.”
Sobre a vistoria da ANTT, Arruda afirma que não será necessário investir em segurança. “O trilho está adequado, mas o trem de passageiro precisa trafegar numa velocidade inferior.” Segundo ele, os vagões devem atingir no máximo os 30 km/h. O modelo do vagão será uma Litorina Standard, o mesmo utilizado no passeio realizado em Curitiba. Ele conta com ar-condicionado e janelas panorâmicas.
A reportagem questionou a agência reguladora sobre a possibilidade de reiniciar o transporte de passageiros na Ferrovia do Trigo, mas o órgão ainda não respondeu. Em maio de 2005, a ANTT liberou – para a mesma Serra Verde Express – a exploração de trem turístico em trecho do Pantanal. Entre 2004 e 2010, foram autorizadas outras 25 linhas em todo o país. Três delas no Estado, sendo duas na região da Serra.
Sebrae auxilia prefeitos
Conforme o representante da Amturvales, o Sebrae auxiliará na qualificação dos gestores para implantar a novo roteiro turístico. Um convênio foi firmado para assessorar as equipes municipais e também os empreendedores que almejam negócios ligados à ferrovia. “Queremos evitar que os municípios apresentem, por exemplo, os mesmos atrativos turísticos.”
Keller também cobra projetos e investimentos de cada prefeito. Melhorias nas antigas e avariadas estações ferroviárias são necessárias. “Queremos que cada município reserve cifras em seus orçamentos para investir no projeto em 2015.” Sobre o convênio com o Sebrae, com prazo de um ano e meio de duração, ele ressalta que o mesmo foi realizado no Paraná e no Espírito Santo. O investimento será custeado pelo Ministério do Turismo.
Histórico da Ferrovia do Trigo
A ferrovia EF-491 foi inaugurada em 1978, após 67 anos do início do traçado. A primeiro excursão ocorreu no dia 18 de março daquele ano, entre Passo Fundo e Porto Alegre. Conhecido como trem húngaro, realizava viagens de 289 quilômetros que duravam em torno de cinco horas. Há 32 anos, em 1982, a linha foi suspensa pela Rede Ferroviária Federal.
O traçado da Ferrovia do Trigo está entre os mais belos do mundo. O trem cruza montanhas e vales, passando por 26 viadutos e pontes, e 34 túneis. Destes, 21 estão entre Guaporé e Muçum. É no trecho do Vale do Taquari que se encontra o Viaduto do Exército, com 509 metros de comprimento e 143 de altura. É o maior da América Latina e está entre os cinco maiores do mundo.
Outra importante estrutura é o viaduto da “Mula Preta”, localizado entre Dois Lajeados e Guaporé. Houve tentativas de reativar o trem de passageiros. Em 2005, Colinas entregou projeto, aprovado pela ALL. Em 2008, a ANTT também aprovou o projeto, avaliado em R$ 2 milhões. O Dnit chegou a doar seis vagões,que nunca chegaram ao Estado. A iniciativa acabou cancelada após a morte de um dos investidores interessados.s