Lajeado – As análises iniciaram em novembro do ano passado, a partir de um convênio assinado entre o município e o Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo da Univates (Emau). Foram quase nove meses até a conclusão da proposta, entregue ontem de manhã ao governo de Lajeado.
A ideia central seria avaliar o prolongamento da Avenida Décio Martins Costa, conforme aponta a engenheira Ivana Lazzaron Pereira. Mas pouco tempo depois, a Secretaria do Planejamento (Seplan) manifestou intenção de revitalizar a rua Osvaldo Aranha. “Com isto decidimos ampliar este estudo, envolvendo questões sociais, de trânsito e ambientais.”
Diante da mudança no quadro, o Emau decidiu prolongar a rua Capitão Leopoldo Heineck em vez da Décio Martins Costa, construindo uma rótula para interligar a rua Bento Rosa com a Décio Martins – acesso para a BR-386. O governo também idealizou a construção de um terminal de ônibus naquela região.
No que tange à orla do Rio Taquari, foi projetada de maneira a reformar o espaço e preservar as construções existentes. De acordo com Ivana, manter a área verde no entorno do Arroio do Engenho e construir um parque linear no local. O parque seria na junção da Leopoldo Heineck com a Osvaldo Aranha.
O prefeito Luís Fernando Schmidt recebeu os estudos em mãos. Conforme o gestor, a proposta vem ao encontro dos anseios da comunidade com aquilo que o governo se propõe a fazer. Solicitou aos secretários a elaboração de projetos para execução em etapas, incluindo com estimativas de custos. “Se hoje estamos ampliando o Parque dos Dick, foi porque já havia um norte. Vamos deixar um norte para o futuro.”
Opinião semelhante tem o presidente do Comitê Gestor do Centro Antigo, Ítalo Reali. De acordo com ele, as propostas devem ser colocadas em prática o quanto antes, sob o risco de demorar muito para avançar. “Quando começarmos, as pessoas vão perceber a importância. Daí em diante vai ser um somatório”, avalia.
Secretária do Planejamento, Marta Peixoto, ressaltou a importância do serviço desenvolvido pelo Emau para concretizar os planos. “Estes documentos vão servir de base para os projetos técnicos. Afinal, os estudos contemplam apenas a parte arquitetônica.”
De acordo com o governo, as indicações serão postas em prática de médio a longo prazo. A primeira etapa compreende a reestruturação da rua Osvaldo Aranha – incluindo belvederes – como a construção da rótula entre a Bento Rosa e a Décio Martins. Tais projetos são elaborados pela Seplan.
Área de preservação
A legislação ambiental impede obras a menos de cem metros do Rio Taquari, espaço considerado Área de Preservação Permanente (APP). Mas um acordo entre o Ministério Público (MP) e o governo de Lajeado para o trecho pode ser arquitetado. Como argumento, ambos se baseiam no fato de construções estarem consolidadas no perímetro.
Há meses tal medida está em análise. De acordo com o secretário-adjunto do Meio Ambiente, Jean Todeschini, o governo elabora estudo jurídico para a utilização dessa área. “Contudo não basta apenas o parecer da Sema, também é preciso do MP.” A liberação, segundo estimativa do secretário, deve ocorrer ainda neste ano.
Principais sugestões
Setor 1 (área de 2,9 hectares, acima da av. Décio Martins Costa, com a rua Bento Rosa) – Readequação do estacionamento público, instalação de áreas de estar, bicicletário, rótula entre as duas vias, nivelamento de ruas transversais à Décio Martins, sobretudo para pedestres.
Setor 2 (espaço de 2,7 hectares, abaixo da Bento Rosa, ligação com Osvaldo Aranha) – continuação do parque linear, rampa, playground, quadras multiuso, banheiros, arquibancadas naturais e coberturas para vendedores de lanches no prolongamento da rua Capitão Leopoldo Heineck.
Setor 3 (são 3,8 hectares, antes da rua Osvaldo Aranha, acesso para a BR-386) – terminal rodoviário e parte da marina, onde haveria rampa aos barcos. Estacionamento próximo à marina e local para guardar os barcos. Restaurante de onde seria possível avistar o Porto de Estrela.
Setor 4 (3,4 hectares, espaço da rua Osvaldo Aranha e da orla do Rio Taquari) – revitalização de antigas estruturas, como belvedere. Estudo apontou a possibilidade de construir molduras em meio à vegetação para valorizar o visual do rio. Rampas com arquibancadas, próximas à água.
Ponto de encontro no passado
A orla do Rio Taquari já viveu dias de mais glamour. Antes da inauguração da eclusa de Bom Retiro do Sul, em 1972, as praias formadas por dezenas de rochedos localizados em meio ao leito reuniam centenas de pessoas todos os fins de semana. “Nós acampávamos onde hoje cruza o rio. Era o principal ponto de encontro dos jovens”, lembra Elton Herder.
Festas e encontros de namorados eram comuns à beira do Taquari. “A farra da cidade estava virada para o rio.” Após a construção da barragem, os balneários sumiram. Foram necessários quase 20 anos para que um novo investimento voltasse a atrair o público jovem. A instalação de uma ciclovia e uma pista de caminhada trouxe movimentação à orla.
Meses depois, algumas reformas no belvedere motivaram empresários a investir na abertura de pequenos bares e restaurantes. Pequenos palcos recebiam bandas de músicos da região, e o local estava sempre lotado aos fins de semana. Rodízio de pizza e pratos à base de peixes atraíam casais de outras cidades da região.
“Muitos casais, que até hoje estão casados, se conheceram ali”, lembra Pedro Schmitz, que ainda hoje vive próximo ao local. A ascensão do ponto, no início dos anos 90, durou pouco tempo. Falta de manutenção e constantes erosões causaram danos à estrutura. Em 1998, jornais estampavam na capa o perigo causado pelos seguidos desbarrancamentos.
Desde então, um dos principais pontos turísticos do município recebeu poucos investimentos. Foram instaladas algumas placas incentivando a prática de esporte, e também houve trocas de pavimento em trechos mais próximos do rio. A histórica escadaria, que serviu de entrada para comerciantes no passado, virou ponto de usuários de drogas. “Eu não desço mais ali, é perigoso”, atesta Rivaldo Silva do Amaral, o “Taquariano”.
Sem pintura e manutenção, a ciclovia é hoje pouco utilizada. Avarias no solo não permitem a prática segura de esportes. Alguns restaurantes resistiram ao tempo, mas há movimentação apenas durante o verão. Trechos do belvedere estão ruindo. Há risco de desmoronamentos em alguns locais. “Hoje, somos os únicos a utilizar o belvedere. O resto do pessoal tem medo”, lamenta Taquariano, que há anos aproveita a beleza do local para reencontrar os amigos.