Museu moderno põe cidade em evidência

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Museu moderno põe cidade em evidência

Projeto possibilita criação de espaço dinâmico para arquivamento municipal e maior envolvimento com os vistantes . Modernização de museu proporciona integração com os melhores do país

Bom Retiro do Sul – Uma verba de R$ 58 mil pode transformar parte da futura Casa de Cultura do município em um espaço-modelo no Rio Grande do Sul. O Projeto Modernização do Museu – A sala de visitas da cidade concorria com mais de 400 propostas no Estado e alcançou nota de 8,5 – a mais alta na avaliação da banca do Concurso Pró-Cultura.

1O espaço destinado à exposição de artigos históricos do município que hoje é alugado será transferido para um novo prédio, ainda em construção. Ele faz parte do Espaço Mais Cultura. O empreendimento total tem 364 metros quadrados de área construída, destes, 97,2 metros quadrados serão destinados ao novo museu.

O principal objetivo é aumentar o número de visitantes. O Plano Museológico prevê o estudo e a qualificaçãode monitores, contratação de museólogos e reaparelhamento de computadores de pesquisa. Um curador deve aperfeiçoar a narrativa aos visitantes. Com a mesma plataforma colaborativa, no ano passado, Lajeado também ficou em primeiro lugar no Estado, com um projeto que modernizou o Museu Municipal. A modernização do museu bom-retirense conta ainda com uma contrapartida de R$ 8,8 mil do município.

Segundo o especialista em Gestão Cultural e Negócios Eduardo Gomes, a proposta se destacou devido ao mérito e relevância cultural. Um dos principais desafios do atual modelo implantado na maioria das cidades é tornar os espaços de conservação histórica modernos e dinâmicos. “Nesta iniciativa haverá a possibilidade de manifestações artísticas regulares, pesquisa, democratização e inclusão.”

No Plano Museológico, há a previsão de melhor condicionamento dos objetos e arquivos, aquisição de bens para infraestrutura e computadores de alta tecnologia que estarão interligados à mesma rede dos principais museus do Brasil.

Considerado ousado pelo Sistema Estadual de Museus (SEM), o projeto fornecerá à população acesso livre às informações históricas arquivadas em órgãos como Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e Instituto Brasileiro de Museus (Ibram).

Para que servem Iphan e Ibram

O Iphan é vinculado ao Ministério da Cultura e promove a preservação do Patrimônio Cultural Brasileiro. A responsabilidade do instituto implica em divulgar e fiscalizar esses bens de forma que assegure a permanência e usufruto disso para as futuras gerações. Foi criado em 1937 pelo governo de Getúlio Vargas e desde então realiza tombamentos e arquivamentos históricos. A instituição serve para regular e proteger a história do país. Nela é possível ter acesso a banco de dados para consultas de arquivos e acesso a sistemas de informações e gerenciamentos destes bens culturais, inclusive de patrimônio arqueológico.

O Ibram, por outro lado, é responsável pela Política Nacional de Museus (PNM). Ele regula e incentiva por meio de programas de financiamento e implementação de projetos a manutenção e integração entre os museus.

Para não perder a memória

Com uma sociedade acelerada, marcada pela desconstrução tradicional das identidades locais, os museus ampliam uma responsabilidade estratégica e desafiadora. Por serem os representantes da memória e do acesso ao passado, precisam superar a ideia de espaços conservadores e ociosos para uma proposta de conexão e agilidade.

Conforme o historiador João Timotheo Esmerio Machado, a manutenção dos objetos e arquivos do passado é fundamental para entender os costumes de determinados grupos e projetar o futuro a partir destas experiências. Para ele, a história da humanidade vive um dilema: de um lado existe a lembrança, os detalhes, a biografia e os dados de personagens líderes da sociedade. Por outro lado, os costumes e a história de vida das pessoas comuns permanecem no anonimato. “Por isso o museu não é só espaço da lembrança, mas também do esquecimento. Temos uma história pela metade.”

Segundo Timotheo, essa percepção histórica precisa ser intensificada, pois é preciso que as pessoas reconheçam nos museus o próprio passado. Para isto, há a necessidade dessas ferramentas abertas ao público serem atrativas. “Precisam ter o sentimento de pertencimento ao lugar, para que possam voltar em outro momento”. O historiador afirma que muitos museus espalhados pelo Estado existem de fato, mas não de direito. E isto impede que o órgão e o município busquem verbas públicas.

Na região muitas cidades não têm museus. Onde há estes espaços, não há certificação oficial. Isto faz com que a população, detentora do maior acervo, resguarde esses valores históricos em suas casas. “Não tem capacidade técnica e muitas vezes acondiciona objetos de valor inestimável em galpões por não confiar no sistema público”.

Conforme a coordenadora de Cultura Lene Petry, as sucessivas mudanças de endereço do museu provocam a perda de material. Com a estruturação de um lugar definitivo e profissionalizado, a comunidade poderá doar artigos, fotos, totens que serão armazenados de forma adequada. O prédio da Casa de Cultura, onde está o atual museu, tem infiltração e alta umidade, o que pode danificar as peças.

O passado na palma da mão

A professora de História Dalva Rocha de Souza, 72, foi a primeira secretária de Educação da cidade, em 1997. A primeira ação foi encontrar uma sala para resguardar as relíquias de famílias. Três anos depois, foi estruturada a primeira Casa de Cultura, com biblioteca e oficinas de artes. Em uma sala foi feito um memorial com objetos de familiares que contavam a história do município.

Este acervo contém as características da cidade que no passado era importante na navegação estadual, bem como na criação de gado e na manutenção de grandes frigoríficos da região. Peças antigas contam também como a escravidão era arraigada no município. Dalva reuniu fotografias de Jacob Arnt, proprietário da navegação onde hoje se localiza a Barragem Eclusa. Nessas saídas a campo, em que saía em busca de arquivos, encontraram as roupas do padre Leopoldo Marx, personalidade ícone por dedicar sua vida à comunidade.

Em sua casa, Dalva mostra em um armário de vidro seu acervo familiar, incluindo peças que ganhou de presente como xícaras, taças, abotoaduras e prendedores de lenços. Alguns destes objetos ultrapassam os cem anos. “Um povo que não preserva sua cultura não tem memória e não passa conhecimento às gerações futuras. São elas que vão construir suas histórias influenciadas pelas experiências do passado.”

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