Suspeita da PC recai sobre filha e genro

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Suspeita da PC recai sobre filha e genro

Polícia Civil prendeu suspeitos de matar casal no bairro Moinhos D´Água

Lajeado – Stanislau dos Santos estava ao lado do pastor quando os corpos de João Dullius e Isolde Müller Dullius foram sepultados na quarta-feira passada. Apoiado sobre sua companheira, a filha do casal assassinado, Ana Luiza Müller Dullius, ele segurava uma rosa e demonstrava abatimento. Dois dias depois, ambos foram presos como os principais suspeitos de planejar e matar o casal.

04Para a Polícia Civil (PC), os suspeitos são responsáveis pela morte dos idosos. Na manhã de terça-feira, as vítimas – ambas com 59 anos – foram assassinadas com golpes de machadinho dentro do imóvel, no bairro Moinhos D’água. Ele, agredido na nuca dentro de um galpão. Ela, dentro da cozinha com um golpe na face. A crueldade ganha proporção ainda maior com o suposto envolvimento da filha.

As suspeitas recaíram sobre Santos e Ana Luíza desde a manhã do crime. Depoimentos divergentes e mentiras comprovadas fizeram com que a PC, desde terça-feira, exigisse que eles informassem qualquer mudança de endereço. De acordo com o delegado responsável, Silvio Huppes, são várias provas incriminando filha e genro, que namoravam há pelo menos três anos.

O homem estava na residência quando os policiais encontraram os corpos. No entanto, não soube precisar o que havia ocorrido. Ele possuía várias manchas de sangue na roupa e no antebraço direito. Afirmou ter sido agredido na cabeça enquanto amarrava os sapatos, e, após acordar de um suposto desmaio, teria se deparado com os idosos mortos.

Levado ao Hospital Bruno Born (HBB) pela equipe do Samu – após Ana Luiza insistir aos médicos, que desconsideravam a necessidade de atendimento – ele foi liberado em seguida. Para os investigadores, a lesão superficial na cabeça e o pequeno corte no dedo da mão do suspeito não condizem com a brutalidade das agressões sofridas pelo casal morto. Santos é suspeito de golpear os idosos.

Ana Luiza afirmou ter saído da casa dos pais um pouco antes do crime. Segundo depoimento, ela teria ido até o sobrado do casal – localizado a pouco mais de 50 metros do local do crime – onde iria receber a entrega de uma geladeira. Ao voltar, teria percebido os assassinatos e avisado a Brigada Militar (BM) e o Samu.

De acordo com a investigação, não havia qualquer entrega de geladeira marcada para aquele endereço por parte da empresa responsável pela manutenção do eletrodoméstico. Uma testemunha teria visto a suspeita na rua no provável momento do crime, em um local onde conseguia observar o sobrado e a casa dos pais. Segundo vizinhos, nenhum movimento de pessoas estranhas ocorreu durante a manhã do assassinato.

Santos e Ana Luiza moravam há cerca de três semanas de forma temporária na casa dos idosos. A razão, conforme testemunhas, seria um problema de infiltração no sobrado onde o casal vivia. O imóvel está em nome dos assassinados. A PC desconfia que a razão apresentada para a mudança de endereço também é falsa, ou que os danos causados tenham sido feitos de propósito.

Falsa audiência na Promotoria

Conforme a polícia, o casal de suspeitos teria ludibriado as vítimas e outros familiares a respeito de uma suposta audiência com um promotor, marcada para as 9h da manhã do crime. “Para alguns familiares, teriam dito que o encontro seria realizado na Promotoria Pública. Para outros, na agência da Caixa Econômica Federal”, conta Huppes. Em ambos os locais, nenhuma reunião estava pré-agendada com a família.

A PC acredita que a falsa audiência teria ligação com o sumiço indevido de R$ 16 mil da conta bancária do casal morto. O encontro com o promotor ocorreria para acordar a possível devolução dos valores. Na casa dos idosos, um bilhete escrito à mão com nome do promotor e local da reunião estava fixado na geladeira. A letra, conforme um familiar, pertence à Ana Luiza.

Outro fato intriga os investigadores. Na manhã do assassinato, enquanto o casal de idosos, a filha e o genro tomavam chimarrão na sacada da casa, Ana Luiza chamou um táxi. O horário acordado com o taxista era 8h45min. Neste momento, conforme depoimento, ela foi até o sobrado. Santos teria ligado novamente e prorrogado a chegada do veículo para as 9h15min, 15 minutos depois do horário agendado para a suposta audiência. A suspeita é que o crime tenha ocorrido entre as 8h20min e 8h50min.

Delegado aguarda perícia

Stanislau dos Santos, 24, era servente de pedreiro e estava desempregado. Ana Luiza Müller Dullius, 34, trabalhava em uma empresa de calçados, mas estava em licença médica. Eles foram presos por volta das 20h de sexta-feira. Estavam na casa da mãe do suspeito, no bairro São Caetano, em Arroio do Meio. Pretendiam passar o fim de semana no local.

O mandado de prisão chegou no fim da tarde. Eles foram levados no mesmo veículo da PC. Nenhum dos dois esboçou reação. Apenas negaram qualquer tipo de envolvimento no crime. A frieza, conforme testemunhas, também foi demonstrada no dia do crime e durante o velório do casal morto. Ela vestia a mesma roupa utilizada no enterro dos pais. Ele raspou os cabelos.

Na Delegacia de Polícia, tentaram esconder os rostos. Ambos foram encaminhados ao Presídio Estadual de Lajeado. A prisão temporária tem validade de 30 dias, podendo ser prorrogada pelo mesmo período. Conforme o delegado, a intenção é finalizar o inquérito dentro desse período. Para isso, aguarda resultados periciais da roupa do suspeito, e dos objetos supostamente utilizados para matar os idosos.

Semelhanças com o caso “Richthofen”

O assassinato do casal Dullius remonta às mortes de Marísia e Manfred von Richthofen, caso ocorrido em 2002, e que ficou nacionalmente conhecido por envolver familiares no crime. O casal de empresários foi morto pelos irmãos Daniel e Cristian Cravinhos, a mando da filha Suzane. Ela teria planejado o homicídio dos pais dois meses antes do crime.

De acordo com as investigações, Marísia e Manfred dormiam quando Suzane e os irmãos Cravinhos chegaram à mansão da família com o carro da jovem. Então, ela foi até o quarto dos pais para conferir se dormiam e chamou Daniel (seu namorado) e Cristian.

Eles se aproximaram do casal – enquanto Suzane desceu para o primeiro andar – e golpearam ambos na cabeça com barras de ferro. Também usaram toalhas molhadas e sacos plásticos para sufocá-los. Na tentativa de forjar um latrocínio, o escritório foi revirado. Cerca de 5 mil dólares e R$ 8 mil sumiram.

Após o assassinato, Suzane e o namorado foram para um motel. Às 3h, deixou o rapaz em casa e buscou o caçula Andreas em uma lan house. Os irmãos voltaram à casa dos pais, viram os corpos e acionaram a polícia.

Em julho de 2006, o Tribunal do Júri condenou Suzane e os irmãos Daniel e Cristian Cravinhos à prisão pelo assassinato do casal. O trio foi condenado por duplo homicídio triplamente qualificado. A condenação aponta que ela não aceitava a educação rígida dada por eles, além de ter interesse na herança dos pais.

Depois da condenação, a Justiça decidiu que ela não teria direito a receber nenhum bem dos pais e que somente o irmão teria direito à herança. Desde 2007, ela está na Penitenciária Feminina de Tremembé, a 147 quilômetros da capital paulista. A jovem cumpre pena de 39 anos e os irmãos, em regime semiaberto.

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