Lajeado – As mortes do casal João e Isolde Müller Dullius, ambos de 59 anos, começam a ser desvendada pela Polícia Civil (PC). Vestígios da autoria foram encontrados ontem à tarde pela perícia, após quase duas horas de análises da cena do crime. De acordo com o delegado Sílvio Huppes, o principal suspeito deve ser apontado durante o dia.
A brutalidade dos homicídios choca a comunidade e moradores da avenida dos Ipês, no bairro Moinhos d’Água, onde os aposentados moravam. Segundo a investigação, o corpo de João estava em um galpão onde guardava ferramentas. Ele foi o primeiro a morrer. O assassino o golpeou na nuca com um machado.
Em seguida, o autor entrou na casa em busca da mulher de João. O corpo de Isolde estava na cozinha. Conforme relato de populares – que entraram no local antes da polícia chegar – a aposentada tinha quatro dedos cortados. Ela recebeu um golpe de machado na cabeça.
Genro do casal, Stanislau dos Santos também estava na casa no momento do crime. Informou à polícia ter sido atingido na cabeça e desmaiado. Antes de os policiais militares chegarem, foi socorrido pela equipe do Samu e levado ao Hospital Bruno Born. Ele tinha ferimentos na cabeça. Apesar dos machucados, recebeu alta ainda ontem de manhã.
Mulher de Santos, Ana, disse ter saído pouco tempo antes para receber a entrega de móveis, no sobrado do casal, na esquina. Durante a tarde, o genro prestou depoimento e declarou não ter visto nada em virtude da pancada na cabeça. “Disse que desmaiou”, conta Huppes.
Os assassinatos foram percebidos por Ana, que também acionou o Samu e a BM. Quando os policiais chegaram, se depararam com um taxista. A filha do casal disse que chamou o motorista pouco antes de ir até o sobrado, pois os quatro deveriam comparecer a uma reunião na Promotoria. “Mas verifiquei e não havia nada marcado lá. Vamos averiguar, ouvir mais testemunhas e nos pronunciarmos sobre o caso”, diz o delegado.
Dentre outros objetos, a polícia apreendeu uma espingarda calibre 28 manchada de sangue. Conforme vizinhos, ela seria uma herança da família Dullius. Para Huppes, a arma não foi usada no crime, mas utilizada para dar coronhadas depois que ambos já estavam mortos.
Segundo moradores da rua, o genro e a filha estavam morando de forma provisória na parte de baixo da casa dos aposentados, pois o sobrado onde moravam tinha problema de infiltração.
Família tradicional
Conhecidos ainda tentam compreender a brutalidade dos assassinatos. De acordo com moradores do bairro, João e Isolde sempre foram atuantes na comunidade. Amigo de infância de João, Rubem Inácio Klahr, 56, aponta a boa relação deles com todas as pessoas e descarta a existência de qualquer inimizade do casal. “Ele sempre era selecionado para ajudar a assar churrasco nas festas.”
Mas nos últimos tempos problemas de saúde afastaram os aposentados das atividades locais. João sentia dores nas pernas e a mulher, na coluna. Por isso, ela fazia fisioterapia de forma periódica. Segundo Klahr, ambos eram caprichosos com tudo. “A casa e o jardim estavam sempre impecáveis.”
A família Dullius é uma das mais tradicionais no bairro. Partiu dela grande parte das terras hoje ocupadas por construções. A partilha das terras era negociada entre irmãos. Tal entrave, segundo vizinhos, não seria o motivador do crime.
Número de homicídios chega a 19
Com os assassinatos do casal Dullius, chega a 19 o número de homicídios na cidade neste ano. No Vale do Taquari, o índice aponta 32 mortes. Até então, bate todas as marcas de 2013, quando 18 pessoas foram mortas na região, sendo 11 apenas em Lajeado.
O caso anterior ocorreu em Roca Sales, na madrugada de segunda-feira. O corpo de Mateus Cacimiro Dias, 26, foi encontrado às 0h23min no meio da rua Emílio Lenger, próximo ao CTG Tropeiros. Ele foi morto a tiros.
Chega a três o número de casais assassinados neste ano. O primeiro foi dia 19 de março. Lucas de Linhares da Silva Rosa dos Santos, 21, e Bárbara Dutra de Mari, 22, foram assassinados a tiros dentro de uma lancheria em Lajeado.
No dia 12 de abril, Luís Carlos, 57, e Marli Cornelli, 38, foram mortos dentro de casa, na comunidade Lambari Alto, no interior de Encantado. O crime foi semelhante ao do casal Dullius. Os suspeitos estão presos e teriam assassinado o casal com pauladas e facadas.
Desde 2003, foram 127 homicídios e oito latrocínios em Lajeado. O ano de 2004 teve os maiores índices, com 19 assassinatos. A polícia encontra dificuldade em conseguir provas. Por medo, testemunhas escondem informações dos investigadores.
SEPULTAMENTO
O casal está sendo velado na capela mortuária da comunidade evangélica de Conventos. O enterro deve ocorrer às 15h, no cemitério da localidade.