Lajeado – A direção do Hospital Bruno Born (HBB) avalia o fechamento da UTI pediátrica para os próximos meses. Há uma semana, a instituição recebeu comunicado de que a unidade mista deveria ser encerrada a partir de novembro. Como a separação dos leitos pediátricos e neonatais depende da construção de um novo ambiente, cujo projeto segue travado, o hospital pretende manter apenas um tipo de UTI.
Em junho de 2013, a Secretaria Estadual da Saúde confirmou a construção da unidade pediátrica para este ano. Seriam R$ 2 milhões para a criação de dez vagas, metade custeada pelo governo do Estado. “Volta e meia tivemos um pedido de adequação. Não sai do papel. Pela demora, descartamos essa obra”, aponta o diretor-técnico do HBB, médico Cláudio Klein.
O espaço utilizado pelas UTIs – separado de forma provisória no fim de 2012 após determinação do Ministério da Saúde – conta com três leitos credenciados para pediatria e quatro para neonatal. Como a demanda de recém-nascidos tem crescido nos últimos anos, a direção pretende ocupar todas as vagas com recém-nascidos. “Ainda vamos debater isso com o Estado. Mas a pediatria cai junto com aquele projeto, que não deslanchou.”
Além disso, ressalta o diretor, o hospital passa por uma série de adequações na estrutura e não teria condições de iniciar mais obras ainda este ano. Entre as mudanças, cita a construção de uma escada de incêndio, espaço específico para acadêmicos de Medicina da Univates, novo acesso pela rua Saldanha Marinho e a conclusão do bloco cirúrgico.
Com o encerramento da UTI pediátrica, o Hospital Estrela se torna o único do Vale do Taquari a oferecer esse tipo de atendimento. Em agosto do ano passado, a entidade inaugurou novos espaços a partir de um incentivo de R$ 150 mil do Estado. Na macrorregião dos Vales, há também leitos em Santa Cruz do Sul e Cachoeira do Sul.
Vagas no limite
Enquanto isso, as sete vagas pelo SUS na UTI mista seguem quase sempre ocupadas. Por vezes, em virtude da demanda, as credenciais da pediatria são preenchidas pelos recém-nascidos. “Em regra não podemos fazer isso. Mas se está nascendo uma criança e tem leito vago, não podemos mandar para outra região. Essa negociação leva horas e pode custar uma vida.”
Klein ressalta que o paciente neonatal é muito frágil. De acordo com ele, o tratamento deve ser feito por um médico neonatologista, em um ambiente específico: berço aquecido, área própria e equipe treinada.
Cita um caso ocorrido há duas semanas. Recebeu um telefonema durante um fim de semana sobre o nascimento prematuro de uma criança com 24 semanas. Sem vagas no HBB, a Central de Regulação de Leitos pediu a transferência para Bagé. Mas o médico pediatra responsável disse a Klein que caso isso fosse feito o bebê morreria no caminho. “Tivemos que pegar um que estava em melhor estado e mandar para Bagé.”
Em virtude das seguidas lotações, o hospital passa a comunicar as famílias da situação. Segundo Klein, essa é uma forma de o usuário se prevenir e poder recorrer a outra entidade de saúde. “Quando realmente vemos que tá complexo, comunicamos o Ministério Público, a Central de Regulação de Leitos e emitimos nota na imprensa. Precisamos externar nossas dificuldades à comunidade.”
Entenda
– UTI neonatal: destinada para crianças que tenham até 28 dias de vida. De janeiro a abril deste ano, foram 41 internações SUS no HBB. Em média, cada bebê ficou 13,5 dias internado. A taxa de ocupação chegou a 105,32%.
– UTI pediátrica: para crianças de 29 dias até 12 anos de idade. Nos quatro primeiros meses de 2014, foram 26 internações via SUS. A média de permanência é de sete dias e a taxa de ocupação atinge 64,34%.