Vale do Taquari – Crimes de estelionato estão entre os mais praticados no Estado, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública. De janeiro a março deste ano, foram mais de três mil registros na Polícia Civil gaúcha. No Vale do Taquari, 62 pessoas informaram ter sofrido algum tipo de golpe neste período (veja tabela) – média de um a cada 35 horas.
Lajeado concentra quase a metade das ocorrências da região: 28. Teutônia, Encantado e Arroio do Meio estão na segunda posição com cinco registros cada. A exposição de informações particulares e a inocência das vítimas colaboram para a recorrência de golpes. No ano passado, 92 pessoas foram enganadas nos três primeiros meses.
Mensagens premiadas e bilhetes de loteria estão entre os mais comuns. De acordo com o delegado titular de Lajeado, Sílvio Huppes, as vítimas são influenciadas pela proposta de ganho fácil e rápido. Mas o especialista alerta: “ninguém receberá um prêmio sem se inscrever”.
No primeiro tipo de golpe, o delegado pondera que nenhum concurso exigirá o pagamento de caução para liberar o prêmio. “Se você ganhou, é gratuito. Precisamos desconfiar disso.” Caso a pessoa realmente esteja convicta de ter sido premiada, a polícia orienta para entrar em contato direto com a respectiva empresa, não por meio dos números que lhe enviaram a mensagem.
Em relação aos bilhetes de loteria, o delegado questiona: “Quem abriria mão de um prêmio? Ninguém.” Foi nesse golpe que um aposentado de Lajeado perdeu R$ 18 mil no dia 17 de março. Morador do bairro São Cristóvão, foi abordado por uma mulher nas proximidades de sua casa. Aparentando ter 40 anos, ela carregava em mãos um bilhete vencedor.
Enquanto tentava convencer o aposentado da veracidade do prêmio, outro envolvido, um homem ruivo, fingiu ouvir a conversa e se intrometeu. Depois de interagir, simulou um telefonema para a Caixa Econômica Federal e “confirmou” ser, de fato, um bilhete premiado.
A mulher então propôs um acordo. O aposentado deveria dar certa quantia em dinheiro para poder ficar com parte do prêmio. Iludido, foi de carona com os golpistas em um automóvel Fox branco, para duas agências bancárias da cidade retirar R$ 18 mil. A quantia foi entregue nas mãos da dupla. Em seguida, a vítima foi deixada no Centro Alvorada para aguardar. Depois de esperar certo tempo, percebeu a fraude e procurou a polícia.
Investigação dificultosa
Identificar a autoria desses crimes é a principal dificuldade da polícia. Os golpistas se valem de diversas alternativas para despistar e deixar rastros falsos. Muitas vezes a investigação esbarra na presença de laranjas ou de documentos falsificados.
No caso das mensagens premiadas, cita o delegado Huppes, não é difícil descobrir de onde partem as ligações e o nome de quem o aparelho está registrado. Mas são números habilitados em nome de terceiros, quase sempre, de pessoas que perderam a documentação. A mesma dificuldade está em descobrir pistas pela conta bancária dos criminosos.
Em quase todas as situações apuradas pela polícia, os falsários que cometem os crimes em uma determinada região são de outros estados. Exemplifica o caso de um homem investigado em Lajeado. Diversas pessoas de outras partes do país contatam o policiamento denunciando-o por vender produtos na internet, cobrar, mas não entregá-los. “Já instauramos dois inquéritos. O indivíduo sempre alega que o envio dos materiais pode demorar. Caso não chegue ao destinatário, diz que o valor será ressarcido.”
“Conscientização é o caminho”
Caso alguém perceba qualquer suposta fraude, a polícia orienta para registrar um Boletim de Ocorrência (BO). Dessa forma, a delegacia poderá iniciar um inquérito policial para investigar o fato e prevenir possíveis golpes.
De acordo com o delegado Huppes, o crime de estelionato apenas continuará se não houver conscientização da comunidade. Pede às pessoas para ficarem mais atentas quando surgir uma proposta tentadora, de ganho fácil, ou até mesmo quando alguém solicitar dados pessoais. “A conscientização é o melhor caminho.”
Com documentos de terceiros, as possibilidades de fraudes tornam-se inúmeras. Entre outras coisas, os criminosos conseguem abrir contas bancárias para fazer financiamento e até mesmo criar uma empresa. Depois que conseguem grande quantidade de dinheiro, desaparecem e deixam todas as responsabilidades às vítimas.