Lajeado – O déficit financeiro gerado pelo Setor de Emergência do Hospital Bruno Born (HBB) se aproxima de R$ 100 mil mensais. Para atenuar a situação, a instituição encerrará as consultas eletivas a partir do dia 6 janeiro de 2014. A medida será antecipada caso a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) inicie os serviços antes do fim do ano.
O HBB pretende aumentar e qualificar a equipe responsável para casos de maior urgência. Segundo a direção do hospital, cerca de 70% são casos simples que poderiam ser resolvidos em postos de saúde do município.
De acordo com o diretor-técnico do HBB, Cláudio Klein, o setor realizará só atendimentos considerados de urgência ou emergência. A UPA, o Samu, hospitais da região, postos de saúde e demais prestadores de serviços semelhantes do Estado serão os responsáveis pela triagem dos pacientes.
Klein alerta para a possibilidade de falhas no atendimento em razão do excesso de consultas. Hoje, a média mensal no setor é de 3,6 mil. Nesse ano, o pico foi de 180 num mesmo dia. Em 2012, foram 39,5 mil no total, dos quais 80% são de Lajeado. Há cinco anos, em 2008, o número foi de 40,1 mil.
O diretor informa que haverá mudanças na estrutura atual do setor. A sala de espera e os bancos utilizados pelos pacientes darão lugar a uma rampa de acesso para ambulâncias. “A emergência não receberá pacientes que venham por vontade própria e sem gravidade.”
Em nota oficial enviada há três meses para a administração municipal e ao Ministério Público (MP), a direção reitera a necessidade de mudar o atual sistema da Emergência. Solicita a concretização de contratos prévios de gestão para melhor funcionamento do novo modelo de serviço. Até hoje, nenhuma resposta foi apresentada ao HBB.
Receitas x Gastos
A direção sempre reclamou dos poucos recursos enviados à instituição. Conforme Klein, toda estrutura do setor custa em torno de R$ 480 mil mensais ao HBB. O valor paga salários de médicos, funcionários, contas de luz, água, material para atendimento, entre outros encargos. Em média, 50 médicos fazem parte da equipe de plantonistas.
Segundo o diretor, o hospital recebe todo mês um valor aproximado de R$ 380 mil. Desse montante, R$ 198 mil são repassados pela Secretaria de Saúde de Lajeado.
O restante dos recursos recebidos pelo hospital vem do Sistema Único de Saúde (SUS), do Samu e de outros municípios conveniados com o HBB. São recursos municipais, estaduais e federais. O déficit aproximado de R$ 100 mil mensais é compensado com os serviços de alta complexidade oferecidos pelo HBB. “Não fosse por isso, o hospital já estaria quebrado. Assim como ocorre em instituições menores. ”
Mais de quatro horas de espera
No fim da tarde de ontem, cerca de 30 pessoas aguardavam atendimento em frente Setor de Emergência. Nenhuma em estado grave. Pela falta de espaço, algumas estavam sentados em calçadas ou muros em frente ao hospital. Picada de animal, dor no estômago, febre, mal-estar e enjoos eram as principais queixas.
A aposentada Renita Beuren levou a filha, Fátima. Elas chegaram por volta das 12h30min, e até as 17h30min não haviam sido chamadas. Antes disso, tentaram, sem sucesso, atendimento no posto de saúde do bairro Conventos. “Mas lá faltam médicos e são poucas senhas. Está sempre cheio e ainda fecham durante o horário de almoço”, reclama.
Jandir Schwartz era outro que aguardava há mais de duas horas por atendimento. Com dores no joelho, ele aguardava por uma consulta escorado na porta de entrada do setor. Questionado sobre a opção por postos de saúde, ele afirma que na própria unidade lhe foi dito para se dirigir ao HBB. “Ninguém se entende”, ironiza.
Klein lamenta a situação. Comenta que a imagem do hospital é prejudicada pelo Setor de Emergência, que, ao contrário de outras especialidades, é alvo constante de críticas por parte de pacientes. “Todo mundo perde com essa falta de triagem.”
Secretário critica HBB
Para o secretário de Saúde, Glademir Schwingel, a intenção do hospital precisa ser melhor discutida com o Conselho Municipal de Saúde, com a participação da comunidade.
Sobre a nota oficial enviada pela direção do hospital, Schwingel é enfático. Para ele, o HBB não pode ser uma empresa que vise lucro. “O hospital tem filantropia e tem responsabilidade com a comunidade. Não pode simplesmente dizer que não quer mais fazer.”
Schwingel considera suficiente os R$ 198 mil mensais repassados ao hospital. Atenta para outros recursos recebidos do Estado e da União, além dos demais municípios conveniados. “Com os recursos que recebe, deve se organizar em torno do seu papel.”
Para o secretário, o HBB precisa dar assistência pelo SUS em todas as assistências, e não só na alta complexidade. Ele diz que a gravidade do problema de saúde do paciente depende da interpretação das pessoas, mas que todos precisam ser atendidos. Apesar das críticas, Schwingel concorda com a necessidade de haver uma conscientização maior por parte dos pacientes.
Esperança é a UPA
Hoje, informa Schwingel, os 15 postos de saúde atendem entre 12 e 15 mil pacientes por mês. Para o diretor do HBB, as unidades são insuficientes para atender a demanda da cidade.
O secretário confirma a UPA como solução para os problemas. Segundo ele, a possibilidade de atender até 300 pacientes por dia desafogará o fluxo de pacientes do HBB e também dos postos de saúde. A unidade deve ser inaugurada nas primeiras semanas de 2014.