Lajeado – A presença de crianças indígenas nas ruas do Centro reação dos órgãos públicos. Em reunião ontem, o governo municipal se comprometeu em construir um quiosque para venda de artesanato no espaço da feira do produtor, na rua Santos Filho.
Em contrapartida, as famílias indígenas devem garantir a permanência dos menores no espaço destinado à venda dos produtos. O encontro ocorreu na Secretaria de Saúde, com presença de secretários municipais, integrantes do Ministério Público Federal, do Conselho Municipal de Saúde e do vereador Ildo Salvi (PT).
A partir de agora, inicia a elaboração do projeto arquitetônico para a construção. Engenheiros da Secretaria de Obras e Serviços Urbanos farão a planta da obra. Nesse momento, não há ideia de quanto será investido nem do tamanho do quiosque.
Depois dessa etapa, o governo deve encaminhar projeto de lei ao Legislativo para autorizar o gasto. O vereador Salvi sugeriu que a definição do tamanho do espaço seja debatida da aldeia caingangue. Representante dos índios no encontro, Gelson da Silva acredita que o local ajudará na venda dos artesanatos, mas mostra dúvidas quanto à permanência das crianças. “Se não tiver nada para eles fazerem, vão optar por voltar às ruas.”
Conforme o secretário de Saúde, Glademir Schwingel, a ideia da Administração é reunir profissionais das áreas da Educação e do Esporte e Lazer para promover atividades lúdicas às crianças indígenas no turno inverso às aulas.
Risco nas ruas
Em meio aos carros, crianças oferecem produtos para os motoristas. Para o presidente do Conselho Municipal de Saúde, Márcio Dal Cin, é necessária uma ação urgente para retirada dos menores das ruas. “Daqui a pouco teremos um atropelamento, uma morte. Temos que nos precaver.”
Na semana passada, ocorreu a primeira reunião do grupo. A proposta partiu do conselho. “Em nossa visão, unir as forças da sociedade possibilita mais agilidade para resolver esse problema”, opina.
A procuradora do Ministério Público Federal (MPF), Jerusa Viecili, lamenta o fato de as crianças estarem nas ruas. Segundo ela, o órgão tenta auxiliar os poderes públicos locais na busca de um consenso com a comunidade indígena. “É inadmissível aceitar que crianças estejam nas ruas, expostas a diversos perigos.”
Abandono às margens da ERS-130
Na divisa dos bairros Santo Antônio e Jardim do Cedro fica a aldeia da tribo caingangue. No local, vivem cerca de 80 pessoas, divididos em 16 famílias. As condições do local são insalubres. Há um banheiro para todos.
Em setembro de 2012, o A Hora publicou reportagem sobre a marginalização a que estão expostos os índios. Em entrevista naquela ocasião, o antropólogo Rogério Reus Gonçalves Rosa, atribui a esse quadro de miséria dos índios o avanço das cidades.
Para ele, as tribos perderam áreas de terra para construção de vias. Isso obrigou os índios a migrarem para as margens das rodovias e periferias. No campo do trabalho, pouco sobrou aos indígenas. Hoje, autuam como coletores de maça, feijão, em frigoríficos, como camelôs ou vendendo roupas e artesanatos nas cidades.
No estado, do total de 25 milhões de hectares, 97,5 mil são ocupadas pelos índios. Isso significa um percentual de 0,39%, sendo que aqui vivem duas das maiores etnias do país – os guarani e os caingangue.