Não adianta brigar com a notícia

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Não adianta brigar com a notícia

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Cheguei por volta das 8h30min na sede da Associação dos Funcionários da Languiru. A pauta: acompanhar a Assembleia Geral da cooperativa. Na entrada, me chamou a atenção a presença de policiais militares. Inclusive faziam abordagens de motoristas nos dois lados da rodovia.

Pensei: “uma reunião de agricultores? Precisa?”. Temos noção de que os ânimos dentro da Languiru estão acirrados. Acompanhei um pouco aquele movimento, em seguida me encaminhei à entrada.

Todo o RS olha com apreensão para a cooperativa, pelo que representa no desenvolvimento econômico e social do Vale e de outras localidades. Pelas milhares de famílias envolvidas e pelo significado de uma organização liderada pelos associados.

Diferente do esperado, não foi autorizada a presença da imprensa dentro do salão. A informação era de uma coletiva após a reunião, lá pelas 16h.

Fiquei os dois turnos ali na frente. Conversando com cada agricultor que deixava a assembleia. Ou melhor, tentando. Pois alguns direcionavam suas angústias ao trabalho do A Hora. Como se a cobertura sobre a instabilidade financeira feita desde dezembro de 2021 tivesse sido responsável pela bancarrota da cooperativa. Gente, não adianta brigar com a notícia.

Faço essa remissão, nobre leitor, para deixar claro: o jornalismo se sustenta em dois pilares. A notícia só é notícia quando existe verdade factual e quando o assunto é de interesse público. Por isso, nossos olhares permanecerão atentos a Languiru e tudo o que virá de desdobramentos nos próximos meses.

A conversa com o presidente liquidante

Quase oito horas de espera do lado de fora da associação. Quando os maiores grupos de produtores saíam do salão, a imprensa foi chamada para a coletiva. Com muita gentileza, o presidente liquidante, Paulo Roberto Birck, explicava os números, os possíveis motivos da crise e os próximos passos.

Uma parte da conversa foi publicada na edição de ontem. Alguns trechos que não saíram, chamo atenção para alguns:

  • Plano de liquidação
    Esse dispositivo garante a proteção para gerenciar as próprias finanças por um período. É um ano, prorrogável por igual período. Significa que em junho ou julho de 2025, os credores poderão cobrar via judicial. “A cooperativa pode sim, ter mais anos em liquidação, só que ela vai perdendo algumas proteções. Não vamos conseguir fazer tudo em um ano, isso é impossível.”
  • Auditoria externa
    Empresa contratada avalia os últimos cinco anos de exercício financeiro da cooperativa. Apresentação do relatório final previsto para junho. “Teremos uma assembleia específica com os números. Queremos entender o que houve. Por que se chegou nesse endividamento? E chamar quem tem que ser chamado para dar as respostas. Se a auditoria encontrar indícios de ilegalidade, existe a chance de imputação criminal.”

Foi dito sobre o alucinado ofício do jornalismo

“Pois o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e torná-lo humano por sua confrontação descarnada com a realidade.

Ninguém que não a tenha sofrido pode imaginar essa servidão que se alimenta dos imprevistos da vida.

Ninguém que não a tenha vivido pode conceber, sequer, o que é essa palpitação sobrenatural da notícia.

Ninguém que não tenha nascido para isso e esteja disposto a viver só para isso poderá persistir num ofício tão incompreensível e voraz, cuja obra se acaba depois de cada notícia como se fora para sempre, mas que não permite um instante de paz enquanto não se recomeça com mais ardor do que nunca no minuto seguinte.”
(Gabriel Garcia Márquez)

Acompanhe
nossas
redes sociais