Os mais de R$ 20 milhões em perdas após duas enchentes históricas fizeram a Lajeadense Vidros sair da rua Bento Rosa. Equipamentos, estoques, máquinas e matéria-prima ficaram inutilizáveis.
Passados seis meses da maior tragédia natural da história gaúcha, hoje a produção está em um pavilhão alugado. Para os próximos anos, a estratégia é transferir o parque fabril para um terreno no bairro Imigrante, nas imediações da BR-386.
O protocolo de intenções com o governo municipal foi assinado no ano passado. “Acreditamos que o empreendedorismo é a força de desenvolvimento da cidade. Atuamos nessa proposta com a Lajeadense Vidros e sempre vamos auxiliar da maneira que pudermos as nossas empresas”, afirma o prefeito Marcelo Caumo.
A partir disso, a parceria foi estabelecida e, nesta semana, a câmara de vereadores aprovou o projeto de incentivo. Na prática, isso significa a autorização para a transferência do terreno.
A nova sede ocupará uma área com mais de 30 mil metros quadrados, com um custo total avaliado em mais de R$ 5,56 milhões. O acordo prevê que a empresa pague à vista um terço do valor.
Para o negócio, o município fez uma permuta com o proprietário do terreno. A contrapartida envolve a transferência de três áreas públicas em outras partes da cidade. Como parte do acordo, a indústria compromete-se a quitar o débito em 10 anos, incluindo os tributos correspondentes.
Perspectivas de desenvolvimento
A mudança para uma nova sede representa uma oportunidade de impulsionar o desenvolvimento econômico e social nos bairros próximos à BR-386, acredita Caumo. “Com a duplicação, a perspectiva é que tenhamos a valorização das áreas nas imediações da rodovia. Para as empresas, significa facilidades logísticas e segurança.”
Outro aspecto é a oferta de mão de obra. “Um dos diferenciais de Lajeado é a qualificação das pessoas. E naquela região, temos bairros com características de famílias trabalhadoras. Há um potencial enorme de geração de emprego e renda naqueles bairros. Além do Imigrante, o Bom Pastor, Olarias e Conventos.”
Conforme um dos diretores da empresa, Régis Arenhart, a nova sede começa a ser construída até 10 de abril. “Estamos no projeto de preparação do solo. Será uma fábrica em pré-moldados. Queremos estar lá até o fim do ano”, planeja.
Hoje o trabalho está em dois locais. O administrativo e uma parte da produção na sede atual, na Bento Rosa. Outra linha em pavilhão alugado em Estrela.
Seis meses depois
Hoje a capacidade produtiva da Lajeadense Vidros está em 60%, diz Arenhart. “Temos ainda quatro máquinas muito importantes ainda em manutenção. Uma delas é o forno de têmpera, que só vamos religar na nova sede. Isso representa duas linhas de produção paradas”.
Serviços específicos precisam ser terceirizados, assinala o empresário. “Tudo o que tínhamos de pedidos em atraso conseguimos resolver. Agora, estamos contatando antigos clientes, para retomarmos negócios e contratos”. Hoje a Lajeadense Vidros emprega 100 pessoas.
Diálogo com o governo federal
A Lajeadense Vidros está na lista de 15 grandes indústrias que não tiveram acesso a créditos do governo para recuperação econômica após a inundação. Em 5 de fevereiro, diretores estiveram na comitiva de empresários da região que se reuniu com executivos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
“Não temos expectativa quanto a isso. Estamos abertos ao diálogo, se algo mudar, poderemos acessar os recursos. Mas, no momento, nossa estratégia é agir pelas nossas próprias forças”, afirma o diretor, Régis Arenhart.
Sem novidades quanto a financiamentos específicos para mitigar os prejuízos das enchentes, o grupo aguarda um posicionamento do governo federal. Na última visita à região, o ministro da Secretaria de Comunicação da Presidência, Paulo Pimenta, conversou com um dos líderes da representação dos empresários.
No âmbito da organização regional, de acordo com o presidente da Associação Comercial e Industrial de Encantado (Aci-E), Angelo Fontana, é importante manter o contato com o governo. “Ele assegurou que as empresas não foram esquecidas e que o grupo técnico dos ministérios da Fazenda e do Desenvolvimento Econômico trabalham para encontrar uma alternativa.
O modelo apresentado cerca de dois meses após a catástrofe de setembro não agradou as indústrias com faturamento de até R$ 300 milhões. O acesso ao crédito com juros de 1,75% ao mês e carência de um ano e meio foi considerado insuficiente.
As principais solicitações envolvem mais prazos de pagamento de empréstimos já contratados; a criação de novas linhas de crédito com juros mais atrativos, e mais tempo de carência.
Detalhes
- Após os prejuízos da enchente, a Lajeadense Vidros transferirá parque fabril para o bairro Imigrante.
- O Legislativo aprovou o projeto do governo de Lajeado para transferência do terreno.
- A nova sede ocupará área de mais de 30 mil metros quadrados, custo total avaliado em R$ 5,56 milhões.
- A empresa pagará à vista um terço do valor, o restante em dez anos.
- A expectativa de geração de emprego e renda nos bairros próximos à BR-386.
- Construção da nova sede começa até 10 de abril, previsão de conclusão até o fim do ano.