Languiru encerra 2023 com prejuízo acima dos R$ 460 milhões

ECONOMIA E NEGÓCIOS

Languiru encerra 2023 com prejuízo acima dos R$ 460 milhões

Só de juros dos empréstimos, valor desembolsado pela cooperativa alcança R$ 410 mil por dia. Associados aprovam contas de 2023 e mantém esperança de que processo de liquidação possa reverter endividamento e salvar patrimônio dos produtores

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Atualizado quinta-feira,
28 de Março de 2024 às 16:48

Languiru encerra 2023 com prejuízo acima dos R$ 460 milhões
Associados da Languiru aprovaram contas da gestão de 2023. Expectativa é para a entrega do relatório final da consultoria externa em junho. (Foto: FILIPE FALEIRO)
Vale do Taquari

Conseguir fechar as negociações de mercados, frigoríficos e retomar as produções de frango e leite por meio de parcerias. Nestes movimentos se sustentam a estratégia para estancar a sangria nas receitas da cooperativa Languiru.

Em assembleia ontem, associados e a presidência liquidante aprovaram as contas da gestão de 2023, ano marcado pelo colapso nas finanças. De uma das maiores cooperativas de proteína animal do RS, a Languiru mingou.

Dos mais de 3,4 mil funcionários, o período passado gerou demissões em massa. Como consequência, sobraram pouco mais de 800. Entre os associados, sentimentos se contrastam. Há quem mantenha a esperança de ver a cooperativa se recuperar e, pelo menos, pagar as dívidas.

Para outros, o prejuízo acima dos R$ 460 milhões, é como uma “pá de cal”. Em comum, poucos aceitam se identificar quando conversam com a imprensa. O medo dos mais de 5 mil associados é com o fim do processo de liquidação.

As contas precisam estar resolvidas até junho de 2025. Do contrário, a proteção legal para ajuste financeiro acaba. Isso significa que os credores podem judicializar as cobranças. Neste momento, a cobrança recai sobre todos os associados.

“Isso seria uma tragédia. É algo muito pior do que aconteceu com a Coopave”, afirma o ex-vice-presidente da Languiru, Renato Kreimeier. Um dos líderes da oposição ao antigo presidente, Dirceu Bayer, foi chamado por produtores para dar um depoimento.

No entanto, pelas regras da Assembleia Geral, ex-associados estão impedidos de ingressarem na reunião.

Foram dois momentos, entre apresentação dos dados da gestão do ano passado, encaminhamentos sobre a consultoria externa e formação de um grupo para a reforma estatutária.

Surpresa na assembleia

Ainda sócio, o ex-presidente Dirceu Bayer, participou do encontro com os associados. Inclusive tomou a frente para se pronunciar. Direcionou questionamentos ao presidente liquidante Paulo Roberto Birck. Tais como qual seria o capital de giro durante o ano.

Defendeu os investimentos feitos nas plantas dos frigoríficos nos anos de crise, entre 2021 e 2022. Também relembrou a negociação com investidores chineses. As falas de Bayer foram acompanhadas por muitas vaias e gritos para que ele deixasse a reunião.

Na saída, ainda pela manhã, passou por onde estavam os jornalistas. Ao lado da mulher, não aceitou dar entrevista. Resumiu que no momento oportuno, chamaria a mídia para conversar.

Consultoria externa

A empresa contratada para fazer a auditoria das contas da cooperativa apresentou uma revisão sobre a gestão de 2022. Nas contas aprovadas no início de 2023, o prejuízo havia sido de R$ 123,3 milhões. Pela atualização, saltou para R$ 243,2 milhões.

“Isso beira a irresponsabilidade”, diz o presidente liquidante, Paulo Birck.

Em 2022, com o pior resultado na história da cooperativa até então, foram feitos mais de R$ 85 milhões em investimentos. A grande maioria a partir de financiamentos.

Devido aos atrasos no pagamento dos créditos, hoje são pagos cerca de R$ 410 mil por dia só de juros. Em 2023, foram pagos mais de R$ 149 milhões. “O que mais me assustou foi o custo do dinheiro. Não tem como sobreviver. Estou bastante pessimista”, diz o associado Jayme Mallmann.

Um relatório com os últimos cinco anos de gestão da Languiru está em análise. A perspectiva é que seja apresentado em julho.

Resultado líquido

Entrevista
Paulo Roberto Birck• presidente liquidante da Languiru

“Chegamos a esse resultado negativo por causa de uma má gestão”

A Hora – Houve um momento conturbado, com a participação do ex-presidente, Dirceu Bayer. No fim das contas, os números foram aprovados. Como avalia todo esse momento da Languiru?

Paulo Birck – A assembleia é um ato democrático dos associados. Tivemos dois ex-presidentes acompanhando. O Dirceu (Bayer) nos pegou de surpresa. Não imaginava a  vinda dele. Pena que não ficou na parte da tarde, para ver os números de fato. Nós tivemos uma perda no exercício de 2023, acima dos R$ 460 milhões. Outro número interessante, o ajuste de 2022. A dívida real é maior do que foi aprovado na gestão anterior.
Nosso trabalho foi mostrar ao associado. Chegamos a esse resultado negativo por causa de uma má gestão. Por não terem sido tomadas decisões no passado e por ter havido pouca cautela nos financiamentos.

– As atividades na produção de leite, de aves e de suínos representavam mais de 80% do faturamento. Em 2023, a cooperativa diminuiu de tamanho. Como é equalizar esse cálculo, um alto grau de endividamento, prejuízo, com menos receita?

Birck – Por isso que a gente chegou nesse resultado negativo dos R$ 460 milhões. Nós estamos desde maio sem recurso novo. E as contas estão no dia a dia. Só de dívidas trabalhistas, já pagamos R$ 18 milhões. Agora, precisamos manter os associados unidos. Aí teremos chance. Se cada um puxar para um lado, e abandonar o barco, a conta virá para todo mundo pagar.

– Quando o resultado operacional mensal positivo poderá fazer frente aos pagamentos dos credores?

Birck – Desde o começo do ano a gente está trabalhando para ser o quanto antes. Por isso que agora as operações começam a andar. Frigorífico de frangos, abatendo frangos, ou seja, passando mais carne dentro do frigorífico. Isso já dá um respiro. Em seguida voltamos com a linha dos lácteos. É receita extra. E o grande ativo será a venda do frigorífico de suínos. Será um dinheiro para investir onde é preciso e começar a enfrentar esse pagamento aos credores. Não adianta eu lançar um plano de pagamento se eu tenho prejuízo. Como é que o credor vai aceitar o meu plano, como é que eu vou pagar? Então, tudo isso a gente está alinhando agora.

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