O mês de março e o grito dos machistas

Opinião

Elisabete Barreto Müller

Elisabete Barreto Müller

Professora universitária e delegada aposentada

O mês de março e o grito dos machistas

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Como mulher que sou, ao defender os direitos das mulheres, defendo também a minha existência.

Assim, é impossível admitir o machismo porque ele é uma ideia de superioridade dos homens sobre as mulheres e que, logo, afasta a equidade de gênero. Aceitar o machismo seria concordar que o papel da mulher na sociedade é de submissão e hierarquia inferior, restrito a certos espaços e não onde ela quiser estar.

Muitas pessoas nem se dão conta de que têm atitudes machistas porque essas ações estão enraizadas e naturalizadas dentro de uma sociedade que se organiza atribuindo papeis desiguais para homens e mulheres, consequência de um sistema patriarcal. O machismo é, portanto, estrutural.

Quando cursei a faculdade de Direito numa turma formada majoritariamente por homens e, depois, quando fui delegada de polícia num tempo em que éramos pouquíssimas mulheres no cargo, jamais alguém ousou me dizer: machismo é cultura de respeito, me orgulho de ser machista. Evidentemente, as ações machistas aconteciam e muito lutei contra elas, mas era vergonhoso se assumir machista.

Então, fico estarrecida quando, no século 21, ainda preciso explicar que o machismo é péssimo para mulheres e homens, gera violência, que machismo mata. Basta entender um pouquinho do conceito de feminicídio para fazer as conexões com suas causas e concluir sobre as estatísticas alarmantes no país.

Mais perplexa ainda fico quando, ao falar o óbvio em programas de rádio, e defender a igualdade de direitos entre as pessoas e a desconstrução da cultura machista, apareçam comentários de homens e mulheres nas redes sociais que se assumem machistas, que se orgulham dessa aberração. Alguns deles são toscos, com emojis ofensivos ou com gírias ridículas como o tal “mimimi” (próprio de quem não tem empatia pela dor alheia). Outros, pseudointelectuais, usam linguagem rebuscada, mas acabam entregando que não estão ali para uma crítica construtiva, para um debate respeitoso, pois logo esbravejam seu ódio, citam política partidária, esquecendo de qualquer marco civilizatório. Se as letras tivessem volume, se ouviriam os gritos dos machistas. Na verdade, tentam silenciar uma mulher que está num lugar de fala conquistado. Em pleno mês da mulher, é bem emblemático.

O que legitimou essa gente a defender o machismo? Será que não percebem que viver num estado democrático de direito não lhes dá permissão para externar preconceito e ofender a honra alheia? Fico em dúvida: não se dão conta de que são machistas ou são perversos mesmo?

Como sempre digo, o mês de março é mais uma oportunidade de celebrarmos as conquistas das mulheres, refletirmos sobre os desafios e ficarmos vigilantes para que retrocessos não aconteçam.

Machistas não passarão!

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