Prevenção contra obesidade infantil começa na família

NOSSOS FILHOS

Prevenção contra obesidade infantil começa na família

Dados do Atlas Mundial da doença mostram que, até 2035, um terço das crianças brasileiras serão obesas. Especialistas tratam o tema como uma questão de saúde pública

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Prevenção contra obesidade infantil começa na família
A chave para o sucesso do tratamento da criança é o envolvimento da família, sobretudo nas alterações alimentares, destacam especialistas. (Foto: DIVULGAÇÃO)
Vale do Taquari

O aumento acelerado da obesidade infantil preocupa profissionais da saúde. Segundo dados do Atlas Mundial da Obesidade, em 2035, o Brasil pode ter até um terço das crianças e adolescentes vivendo com sobrepeso.

Em 4 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) celebrou o Dia Mundial da Obesidade e emitiu um alerta sobre a temática. Pensando nisso, o tema ganhou os microfones da Rádio A Hora 102.9 na quinta-feira, 14, durante o programa Nossos Filhos.

O pediatra João Paulo Weiand destaca que sempre houve uma maior preocupação com a desnutrição das crianças e, agora, a obesidade entra na lista. A doença é resultado de uma série complexa de fatores genéticos e comportamentais, que atuam em diferentes contextos, como a família e a escola. Os maiores responsáveis pelo aumento de peso entre as crianças brasileiras, no entanto, são os alimentos ultraprocessados.

Para Weiand, a obesidade é uma das maiores doenças da vida moderna. Ele ressalta que a responsabilidade da alimentação dos filhos é dos pais, e não das crianças. “Na infância, a criança vai comer só o que precisa. Vai preferir brincar do que comer e isso angustia os pais. Essa angústia acaba refletindo no insistir para comer, colocar na frente da Tv, colocar uma tela, oferecer uma recompensa. Boa parte dos distúrbios de alimentação vem desse período”.

Saúde alimentar e emocional

A psicóloga Morganise da Cruz destaca que a taxa de obesidade infantil é de 1 para 3, e o trabalho de combate é multisetorial, envolvendo a pediatria, nutrição, mas também a psicologia.

Ela diz que o sobrepeso, hoje, também está associado ao uso de celulares e videogames na hora da refeição, uma vez que as crianças se alimentam sem criar consciência sobre os alimentos, além de trocarem as brincadeiras ao ar livre pelas telas, incentivando o sedentarismo.

“Falamos muito na autoestima. Crianças que têm obesidade, têm muita dificuldade na socialização, às vezes são preteridos em atividades físicas e isso tudo vai prejudicando o emocional. Vem a questão do bullying e a família só vai dar conta da saúde alimentar do filho quando acontecem essas coisas”, reforça a psicóloga.

De acordo com Morganise, o alimento acaba sendo uma fuga e a forma encontrada pelas crianças e jovens de lidar com a ansiedade, para fugir das frustrações, em muitos casos, incentivada pelos pais, que iniciaram um processo de recompensa para acalmar os filhos ainda na infância.

Segundo a profissional, quem teve obesidade infantil, tem 50% de chance de desenvolver a doença quando adulto. “A pessoa vai poder reverter isso, mas vai estar sempre em luta com ela mesma. Este é um dos quadros que mais acarreta sofrimento, porque o alimento é para ser algo benéfico e se torna, muitas vezes, um vilão”.

Sobrepeso e desnutrição

A nutricionista Nicoli Gerhard afirma que a consciência já começa na gestação, com o controle do peso da mãe, passando pelo aleitamento materno e introdução alimentar. “Quando oferecemos alimentos hiperpalatáveis que, devido à combinação de açúcar, sal, gordura e texturas, provocam uma resposta intensa de prazer no cérebro, isso vai ativar o paladar das crianças, muito mais do que os alimentos naturais”.

Nicoli destaca um quadro comum de obesidade infantil e subnutrição em que a criança vai estar obesa, mas não vai estar nutrida. “O melhor cuidado é estar presente e oferecer uma alimentação de qualidade. Muitas famílias liberam alguns alimentos para suprir a falta do pai e da mãe na rotina dos filhos”. Segundo ela, a prática pode ocasionar problemas ainda maiores para a saúde da criança e a prevenção começa em casa.

Obesidade em números

  • O excesso de peso afeta mais de 4 milhões de crianças com menos de 5 anos e quase 50 milhões de crianças e adolescentes entre 5 e 19 anos;
  • Uma em cada 10 crianças brasileiras de até 5 anos está com peso acima do ideal. São 7% com sobrepeso e 3% já com obesidade;
  • A região Sul possui 11,52% de crianças obesas, maior índice do país;
  • Brasil pode ter até um terço das crianças vivendo com obesidade em 2035, segundo Atlas Mundial.
  • Em relação aos adultos, os dados também são preocupantes: até 2035, 4 em cada 10 adultos (41%) no Brasil podem ter obesidade.

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