Quem deprecia quer comprar

Opinião

Filipe Faleiro

Filipe Faleiro

Jornalista

Quem deprecia quer comprar

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Essa é uma máxima no mundo dos negócios. Uma regra central em uma negociação. Apresente problemas e tente reduzir a pedida inicial. Isso vale para compra de um carro, de um frigorífico e, principalmente, quando o assunto é bens ou serviços públicos.

Justo neste último tópico gostaria de me concentrar. A sanha privatizante me causa calafrios. Explico antes de ser chamado de esquerdista, comunista ou petista.

Pense comigo, frente aos acontecimentos mais recentes nesta pátria chamada Rio Grande do Sul, em especial no caso Sulgás. O governador Eduardo Leite, com um entusiasmo palpável, celebrou a entrega da empresa pública à iniciativa privada. Fez um ano agora em janeiro.

arquivo/divulgação

A estatal foi arrematada pelo preço mínimo de R$ 927,8 milhões. Fundada em 1993, a Sulgás, responsável pela distribuição de gás natural desde 2000, apresentava lucro ano a ano. O governo, detentor de 51% das ações, decidiu privatizar, defendendo uma modernização que, para alguns, parece comprometida com interesses multinacionais.

Como resultado, postos de combustível pelo Rio Grande afora abandonam o GNV. Um aumento de preço no início deste ano surpreendeu, pois estava fora do cronograma. O que era solução para combustível mais acessível e menos poluente, simplesmente sumiu. Os motoristas não querem mais.

E a Corsan? Outro enrosco difícil de explicar. Veja bem, caro leitor, a vencedora do leilão, única concorrente, buscou empréstimo no BNDES para o arremate da estatal. Algo em torno dos R$ 19 bilhões. Pagou quatro pela companhia e prometeu R$ 16 bi em investimentos. Dinheiro público para comprar um bem público.

Cabe lembrar, a exigência para esgotamento sanitário só veio depois de 2010. Até então, a Corsan era responsável por abastecimento de água. Críticas e críticas pelos percentuais pífios de tratamento dos resíduos domésticos nunca questionaram essa curva temporal.

O futuro dirá se o serviço vai melhorar de fato, frente a tantas promessas de universalizar o tratamento de esgoto em uma década.

Em resumo, não sou contra concessões ou privatizações. Houve momentos em que o serviço melhorou, é o caso da telefonia. Mas, ficam perguntas: a energia elétrica, com a RGE, está melhor? E quanto aos serviços de gás natural? E agora, diante de uma nova etapa de pedágios, o exemplo da BR-386 está muito distante do que faria o poder público?

Aprendi desde muito cedo com René Descartes. Comigo levo sempre a dúvida como método. Não compro narrativas só porque todo mundo embarca. Não vou com a manada. Quando a maioria acredita em algo como verdade intocável, aí é que está o perigo.

Olho vivo

Foto: Filipe Faleiro

Uma nova etapa de concessões se avizinha. O fim da EGR se aproxima. O governo Leite espera que 2025 inicie com uma nova empresa responsável pelos pedágios nas ERSs 128, 129, 130 e 453.

Hoje o secretário de Parcerias, Pedro Capeluppi, estará em Encantado para conversar com prefeitos, vereadores e líderes setoriais do Vale do Taquari.

O intuito dos representantes do Vale é apresentar as reivindicações com base em estudos e evidências. Neste momento é fundamental apresentar embasamento para cobrar um edital de acordo com as prioridades locais.

Em tempo, no fim da tarde de ontem, distante dos holofotes da imprensa, representantes locais estabeleceram as linhas da reunião. Um spoiler. A região quer dividir o Bloco 2 das concessões. Com um projeto específico para trechos das rodovias que passam pelo Vale do Taquari.


O vereador Mozart Lopes (PP), líder do governo na câmara de Lajeado, se antecipou ao Executivo em responder às críticas de Sérgio Kniphoff (PT) sobre o aluguel social para atingidos pelas enchentes do ano passado.

Afirmou que a administração iria prorrogar por mais um ano os contratos. Estranho, acima do que o tempo de seis meses previsto na legislação, inclusive. Na mesma hora veio a reprimenda. O prefeito Marcelo Caumo ficou, ohh, brabão, e desmentiu o líder progressista ainda durante a sessão da semana passada. Pelo telefone sem fio, o selo “Isso Sim é Lamentável” vai para o nobre parlamentar, que inclusive está de saída da câmara. Logo, logo, Fabiano Bergmann, assume a cadeira.

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