“Entendi que, sendo leigo, poderia fazer o mesmo trabalho com a comunidade”

ABRE ASPAS

“Entendi que, sendo leigo, poderia fazer o mesmo trabalho com a comunidade”

Do seminário às salas de aula, o professor Jair Kreutz, 65, dedicou mais de 40 anos à educação. Natural de Arroio do Meio, é professor desde 1984 e coleciona memórias de várias escolas e alunos

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“Entendi que, sendo leigo, poderia fazer o mesmo trabalho com a comunidade”
Foto: Raica Franz Weiss

Por que decidiu ser professor?
Eu nasci no interior de Arroio do Meio, em Arroio Grande. Aos 14 anos, fui estudar no seminário. Segui para Viamão e durante três anos, estudei filosofia, história, psicologia e sociologia. Quando me formei, percebi que não queria mais ser padre. Entendi que, sendo leigo, poderia fazer o mesmo trabalho com a comunidade. Então virei professor, acho que não sabia fazer outra coisa (risos).

Quando começou a dar aula?
Eu me formei em 1982, no seminário de Viamão, mas não consegui emprego como professor. Cheguei a trabalhar em curtume e até em fumageira. Até que, um dia, recebi o convite da prefeitura de Lajeado para ser professor em uma comunidade do interior, em Linha Serrana, na época era Distrito de Santa Clara do Sul. Morei de pensão em casas de famílias humildes. Em 1985, fui transferido para a comunidade de Chapadão. Naquela época, já tinha uma namorada e fomos morar juntos lá, casamos naquele ano. A escolinha precisava de uma professora para o pré, então minha esposa acabou cursando magistério também.

Como era naquela época?
A gente, como professor, fazia de tudo, enterro, missa, era responsável por envolver a comunidade, ajudar as pessoas. Como eu cresci no interior, conseguia conectar com esse pessoal, falava alemão e tudo. Naquela época era muito diferente, a gente tinha um livro e um mimeógrafo. Mas o convívio social, por outro lado, era muito maior, as comunidades eram unidas.

Quando começou a dar aulas na Emef Campestre?
Comecei aqui em 1992, onde continuo até hoje, na parte diretiva. Dava aulas de história e geografia. Sempre ensinei à noite e isso acabou me tirando bastante da vida social.

Teve algum episódio que marcou a sua trajetória?
Nunca vou esquecer de Linha Serrana, um aluno me convidou para ir a casa dele. Eles viviam sem luz, água, sem banheiro. Mas a família era muito unida. Isso me marcou.

Houve outras situações?
Uma vez decidimos fazer uma festa à fantasia na escola. Até os professores entraram na brincadeira. Eu estava de palhaço. Uma hora, entrei na sala de aula dos mais velhos e percebi que tinha algo errado. Estavam tomando bebida alcoólica. Pensei para mim: ‘Estou mesmo vestido à caráter’.

Depois de tantos anos, qual o incentivo para continuar?
Eu gosto muito de trabalhar com crianças. Ajudar as comunidades. Minha esposa sempre me incentivou, ela também é envolvida. Esse ano, inclusive, nós dois estamos à frente da diretoria da Comunidade Nossa Senhora do Caravaggio. Eu gosto de me envolver.

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