“Não temos condições de controlar enchentes”

Opinião

Rodrigo Martini

Rodrigo Martini

Jornalista

Coluna aborda os bastidores da política regional e discussão de temas polêmicos

“Não temos condições de controlar enchentes”

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Atualizado quinta-feira,
25 de Janeiro de 2024 às 10:41

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Nada mudou na usina hidrelétrica 14 de Julho após os trágicos eventos de setembro e novembro de 2023. A rotina e todos os procedimentos e planos de ação – com ênfase à abertura ou fechamento das comportas em momentos de cheias – continuam os mesmos. Um sinal claro de que a estrutura não teve intervenção nas duas cheias que assolaram o Vale do Taquari, e tampouco intercederá em novos fenômenos. Diante de agentes do poder público e da Defesa Civil do Vale do Taquari, que foram até Cotiporã para conhecer a imponente estrutura, os gerentes da Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) foram categóricos: aquela barragem não tem capacidade ou ferramentas para controlar ou mitigar os efeitos das enchentes na nossa bacia Taquari/Antas. Apesar da afirmação, os representantes da empresa deixaram clara a preocupação com o sistema de monitoramento de toda a bacia hidrográfica e se colocam à disposição para, em conjunto com outros entes municipais, regionais e estaduais, construir um planejamento integrado para estudos, pesquisas e debates sobre as recorrentes enchentes dos rios Taquari e Antas . Mas reforçam: as usinas 14 de Julho, Monte Claro e Castro Alves não possuem ferramentas, hoje, para “frear” a força das águas e impedir tragédias e prejuízos em nossa região. No momento, todos os rígidos e complexos planos de segurança, monitoramento e evacuação da Ceran buscam minimizar ao máximo os riscos de um eventual rompimento das barragens.

Foto: Rodrigo Martini

Defesa Civil Regional à deriva?

Por ora, a Defesa Civil do Vale do Taquari está à deriva. O ex-chefe da unidade regional, Everton de Souza Dias, foi exonerado do cargo nesta semana. Nas redes sociais, o prefeito de Lajeado se manifestou. “Fizemos apelo para que seja nomeado um profissional técnico e que efetivamente viva no Vale do Taquari”, escreveu Marcelo Caumo (PP). Nos bastidores, o nome de um profissional com
forte atuação no Vale do Rio Pardo foi sugerido ao governo estadual.

E nosso “Plano de Evacuação’?

Muito embora o plano de evacuação da Ceran esteja 100% focado em um eventual rompimento das barragens, há pontos a serem observados – ou copiados – pelo Vale do Taquari. Especialmente a sinalização de pontos seguros para refúgios e posterior resgate (foto), e a instalação de sirenes em pontos mais suscetíveis aos riscos das inundações. Duas situações bastante simples, diga-se de passagem, mas que podem salvar vidas em momentos de pânico e/ou falta de informação.

Cheque em branco

As grandes concessionárias de energia que mantém quase um completo monopólio sobre os gaúchos estão contra a parede. Os poderes judiciário e político resolveram engrossar o caldo de vez e devem garantir um verdadeiro “cheque em branco” à população,
inclusive ao Vale do Taquari. Diante da pressão popular e da visível ineficiência no reestabelecimento do serviço nos últimos dias, é hora de reivindicar e reivindicar muito. Não podemos mais aceitar postes, fios e escusas frágeis. A região precisa se organizar para aproveitar o momento. A hora é agora!

“É um rio nervoso”

Gerente de Operação e Manutenção da Ceran, André Akashi fez coro à opinião de outros especialistas que estudaram ou
ainda estudam a bacia hidrográfica Taquari/Antas. Já ouvi que nosso manancial “é único”, que é um dos “mais sinuosos e rápidos”, e outras tantas teses instigantes sobre uma das nossas maiores riquezas naturais. Pois o agente da companhia energética veio com uma nova. Para ele, “é um rio nervoso”. “Estamos em uma região de difícil previsibilidade”, resume.

O Rio Taquari “nasce” no encontro entre os rios Antas e Carreiro, no distrito de Santa Bárbara, na cidade de São Valentim do Sul. Lá onde caiu a ponte da ERS-431. E um dado curioso: o referido ponto fica localizado a 16 quilômetros – seguindo pelo traçado do rio – da Usina Hidrelétrica 14 de Julho, em Cotiporã.

Foto: Divulgação

TIRO CURTO

  • Em Porto Alegre, e após o caos no abastecimento de energia após os recentes temporais, o governo municipal volta a falar sobre fiação subterrânea.
  • Prefeito de Lajeado, Marcelo Caumo (PP) está de férias na praia catarinense de Jurerê. Durante o descanso do gestor, Gláucia Schumacher (PP) assume a prefeitura. Aliás, é bom a vice-prefeita assumir agora. A partir do dia seis de abril – seis meses antes do pleito de outubro –, e se de fato deseja concorrer a prefeita, ela não poderá mais assumir o cargo de forma interina.
  • Os dirigentes da Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) afirmam e reafirmam: a abertura das comportas nas usinas hidrelétricas instaladas no Rio das Antas não influencia ou interfere nas enchentes. E de nada adiantaria reduzir o nível da água na barragem antes das inundações.

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