Nos cães, o estímulo para a recuperação

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Nos cães, o estímulo para a recuperação

Projeto “Patinhas que Cuidam” leva cachorros a instituições da cidade para interagir com pacientes de hospitais, clínicas e pessoas com necessidades especiais. Iniciativa contempla os animais do canil municipal, que são treinados e colocados para adoção

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Nos cães, o estímulo para a recuperação
Primeira visita do projeto no Hospital Bruno Born ocorreu no dia 5 de janeiro. Ideia é proporcionar os encontros todas as semanas
Vale do Taquari

Os pacientes do Hospital Bruno Born, de Lajeado, tiveram uma tarde diferente na semana passada, dia 5. A instituição recebeu a visita da Cléo, uma cadela do canil municipal, treinada para divertir os internos.

A ação faz parte do projeto “Patinhas que Cuidam”, organizado pela Secretaria do Meio Ambiente (Sema) de Lajeado. As visitas desenvolvem a chamada cinoterapia, a terapia com cães.

Enfermeira há 10 anos no HBB, Angélica Rocha de Oliveira conta que o hospital já tinha um projeto semelhante há cerca de quatro anos. Pacientes podiam receber seus próprios animais durante a internação.

Conforme Angélica, a equipe percebe vários benefícios com essas visitas. “A recuperação dos pacientes é mais rápida e eles ficam mais tranquilos, inclusive aceitam melhor os tratamentos”, explica.

Arquivo Secretaria de Meio Ambiente

O contato com os pets influencia também na qualidade de sono e no apetite durante as refeições. “Além dos internados, as famílias contam que os próprios animais ficam mais animados ao reverem seus donos”, detalha.

De acordo com a enfermeira, a primeira experiência do “Patinhas que Cuidam” teve grande aceitação no hospital. “Quase todos os pacientes quiseram participar da atividade. Muitos estavam sonolentos e, depois da interação, estavam totalmente despertos e felizes. Foi muito legal”. Angélica cita que, inclusive, alguns já solicitaram quando seria a nova visita.

O hospital está em conversação com o município, explica. A expectativa é que sejam encontros semanais, duas a três vezes na semana. “A princípio, participam pacientes de internação clínica e psiquiátrica. O momento deve ocorrer na hora em que estão no pátio, para poderem brincar melhor com os cachorros. Mas existem também os atendimentos nos leitos”, conta.

Um olhar ao canil municipal

Lançado em julho de 2023, o projeto “Patinhas que Cuidam” já passou pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) e pela Associação de Deficientes Físicos de Lajeado (Adefil).

No programa, os animais são usados como estímulo à reabilitação das pessoas, ao desenvolverem capacidades físicas, cognitivas, sociais e funcionais.

À frente da Secretaria de Meio Ambiente durante as férias do titular, Letícia Sena explica que o projeto surgiu primeiro com o adestramento dos cães. “Depois, pensamos em levar esses animais para instituições da cidade. Foi uma sugestão das próprias entidades. É uma iniciativa inédita em Lajeado”, conta.

Para este ano, Letícia adianta que mais instituições serão contempladas. “O projeto será retomado no HBB ainda em janeiro. Recebemos pedidos também para levar os animais em lares geriátricos na cidade.”

A profissional explica que, hoje, o projeto tem dois cães aptos para as visitas. Mas, todos os meses, cerca de dez animais são adestrados no canil e colocados para adoção. Isso contempla outro nicho do projeto. “O canil municipal de Lajeado é o único do estado que tem cães adestrados para adoção”, explica.

O projeto foi lançado em julho de 2023, na Apae. (Foto: BIBIANA FALEIRO/ARQUIVO)

Hoje, são mais de 200 cachorros. A maioria que passa pelo adestramento é adotada antes mesmo de finalizar as aulas. “Esses cães raramente voltam ao canil depois. E, nas instituições, recebemos feedbacks muito positivos dos pacientes. Percebemos que estamos no caminho certo com o projeto”.

Carinho e treinamento

Os cães são adestrados por Luciano Costa de Castro, da Cão Solução, que já trabalha na área há 26 anos. Todos os meses, dez animais são escolhidos para aprender, em 30 dias, o básico da obediência: como não pular, controlar o latido, saber comandos de caminhada, como sentar, deitar, entre outros.

“No canil, temos cães traumatizados. Por isso precisamos trabalhar também a ressocialização desses animais com os humanos. Durante 15 dias, ensinamos eles a receber carinho e confiar. Nos outros 15, treinamos”, explica o tutor.

Conforme Castro, já foram adestrados mais de 50 cães desde o início do projeto. Desses, apenas dois estão aptos para a cinoterapia. “Estamos com outros dois em observação. Este ano ainda devemos ter quatro animais para os encontros.”

Os cães que participam do Patinhas que Cuidam têm outro treinamento. “Levamos bem mais tempo e precisamos de cães não reativos. Porque vão estar sujeitos a eventuais puxadas de orelha, por exemplo, e não podem reagir”, detalha. A higiene também é muito observada, além do treinamento do olfato.

Castro já acompanhou vários encontros. “Sempre vai um profissional junto. A cinoterapia é um sonho antigo meu. Eu sabia que seria um sucesso, porque conheço o amor que os cães são capazes de oferecer”, destaca.

“Percebo que não somente os pacientes ficam felizes, mas todos os profissionais também. No hospital, éramos para ter ficado somente uma hora, mas passamos muito disso. Todo o clima mudou.”

Momentos de socialização

A Associação de Deficientes Físicos de Lajeado (Adefil) recebe o projeto desde novembro. Foram seis encontros, realizados duas vezes na semana, explica a assistente social Carine Eberts. “Cerca de 45 dos nossos usuários já participaram da atividade e o resultado é sempre positivo”, avalia.

Psicóloga na Adefil, Paula Vettorello explica que a convivência com animais estimula o cérebro. “Para o nosso público não é diferente. Os cachorros ajudam na socialização, autoestima e também no alívio de sintomas de estresse e ansiedade”, destaca.

Adefil é uma das instituições que recebe os animais desde novembro. (FOTO: Divulgação)

O projeto foi bem recebido pelos usuários, que já perguntaram sobre os próximos encontros. “Aqui na Adefil, esse tipo de atividade está atrelada ao lazer. É quando têm novas experiências junto do animal”, cita Paula.
Em novembro, a moradora do bairro Conventos, Loreci Kern, participou pela primeira vez do momento. Ela tem problema de mobilidade na perna e ficou muito feliz quando soube dos encontros.

“Não posso ter cachorro em casa, pois meu pátio não é cercado. Sempre que vou na minha vizinha, fico com a cadela dela no meu colo, ela gosta tanto que até dorme. Eu adoro os animais. Eles fazem muito bem para o grupo aqui na Adefil”, relata Loreci.

O que é a cinoterapia?

É uma forma de terapia que treina cães para ajudarem pacientes. Nas sessões, uma equipe multidisciplinar usa os animais como um reforço, estímulo e uma forma de facilitar a reabilitação da pessoa que necessita do atendimento.

Principais benefícios

  • Diminui o nível de ansiedade;
  • Libera hormônios que causam bem-estar e felicidade;
  • Diminui a pressão arterial e a frequência cardíaca;
  • Estimula a sensação de relaxamento.

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