O fim das equipes de vôlei da Avates é um fracasso da sociedade?

Opinião

Rodrigo Rother

Rodrigo Rother

Professor na UNIVATES e no CEAT - @rodrigorother

Colunista Esportivo

O fim das equipes de vôlei da Avates é um fracasso da sociedade?

Por

Atualizado quinta-feira,
04 de Janeiro de 2024 às 09:45

Vale do Taquari

A Associação Vale do Taquari de Esportes (AVATES) nasceu em 2007, a partir do trabalho que já se fazia com voleibol no Colégio Martin Luther, em Estrela. Naquele mesmo ano veio o primeiro título do Campeonato Estadual da série ouro com a categoria sub14. Em 2008 criou-se a equipe adulta, que conquistou por cinco anos seguidos o título máximo no RS e, em 2012, foi campeã brasileira universitária da divisão especial (a maior disputada). A sequência foi avassaladora: todos os anos desde 2007 conquistando o título de Campeã Estadual da série ouro em alguma categoria, por vários anos em mais de uma categoria (por exemplo, em 2011 venceu 4 das 5 categorias existentes! Incrível!). Em 2016 veio mais um título nacional: campeã nacional dos Jogos Escolares da Juventude (da divisão especial). Citar todas as conquistas seria impossível, pois foram várias dentro e fora do Brasil (Argentina, Uruguai e Equador).

As atletas reveladas pela AVATES ganharam o mundo. Hoje atuam em várias equipes brasileiras da Superliga, na Europa (Portugal, Espanha, França, Itália…) e nos Estados Unidos. Alguém conhece o Lucão? Campeão Olímpico? Pois é…a AVATES conhece ele desde a época que seu apelido era “Pequeno” e jogava descalço.

Por compreender o esporte como ferramenta social, não somente para competir e revelar atletas, a AVATES mantinha escolinhas de iniciação em bairros, no turno inverso ao escolar, de forma gratuita. Isso mesmo, toda criança que jogava na AVATES não pagava nada para participar. Se não bastasse, a parceria com o Colégio Martin Luther proporcionava bolsa de estudos para várias meninas que não teriam condições de estudar na rede privada, contribuindo de forma integral na sua formação esportiva e acadêmica. E o que falar do Festival Internacional? Noventa equipes de toda a América do Sul, frequentando e fazendo circular recursos no comércio, gastronomia, rede hoteleira, turismo e tantos outros setores. Comenta-se que o período do Festival era um “segundo natal” para o comércio de Estrela e da região.

A AVATES tornou-se referência no trabalho com o voleibol de base na América do Sul. É fato. Mas como explicar que algo dessa grandeza (grande não só em tamanho, mas em propósito e valor social) encerra as atividades com suas equipes de competição e projetos sociais?

Na minha opinião, fracassamos como sociedade. Explico: não porque as pessoas envolvidas se omitiram, muito pelo contrário. Depois do anúncio do término de algumas atividades várias famílias se mobilizaram de alguma forma para ajudar a manter as atividades. Uso o termo “sociedade” porque todos temos responsabilidades coletivas, não só os envolvidos diretamente. Quando um diretor de uma escola toma uma decisão, ele deve ser respaldado pela comunidade escolar, ou pela entidade mantenedora que o colocou lá (a qual pode demiti-lo da função, mesmo que as vezes tardiamente). Quando um prefeito toma uma decisão, os seus eleitores (responsáveis por ele estar lá) merecem justificativas, e mesmo os que não votaram nele e que agora estão submetidos ao governo de suas decisões. Me refiro a “sociedade” porque foi ela (ou nós) que de alguma forma colocamos as pessoas que tomam decisões nas posições de poder que elas ocupam (seja no público ou no privado). O nosso fracasso como sociedade está nas péssimas escolhas feitas por nós e na confiança depositada em quem não a merece. Isso é cultural e ocorre historicamente com frequência, em vários lugares.

Mesmo triste com esta situação, desejo que nossa sociedade se recupere em 2024 dos seus fracassos, evolua culturalmente, se preocupe mais com a formação e o futuro de nossos jovens, dando ao esporte a importância que merece como ferramenta biopsicossocial. Aproximar-se de novos parceiros que atuam de forma coerente com esse pensamento já é uma forma de iniciar uma caminhada de recuperação, manter a esperança viva e seguir em frente. Vamos fazer melhor de agora em diante.

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