Pesquisa revela danos causados por produto usado na agricultura

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Pesquisa revela danos causados por produto usado na agricultura

Estudo de mestrado possibilita entender o que os agrotóxicos estão causando no meio ambiente externo

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Pesquisa revela danos causados por produto usado na agricultura
Trabalho de pesquisa da doutoranda Jéssica Herek rendeu artigo publicado em revistas científicas internacionais
Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Anfíbios expostos ao glifosato, substância presente em diversos agroquímicos usados no mundo inteiro, apresentaram alterações morfológicas e genéticas, ainda que expostos a concentrações consideradas baixas. A descoberta ocorreu durante a pesquisa de mestrado da bióloga Jéssica Samara Herek dos Santos. O trabalho “Glifosato e seus efeitos sobre duas espécies de anfíbios nativos da América do Sul” rendeu publicações de artigos em revistas científicas internacionais. Mais que isso, acende novamente um alerta sobre o produto, que tem venda e uso liberados, conforme legislação brasileira.

A escolha de anfíbios se deu, conforme Jéssica, porque estão em declínio populacional desde 1980, e muitas espécies estão se extinguindo. “Essas perdas populacionais estão diretamente ligadas as suas características, como pele permeável e ovos sem casca. O fato de passarem as fases mais críticas de vida na água os torna bons bioindicadores de poluição aquática”. A partir de então, é possível entender o que os agrotóxicos estão causando no meio ambiente externo.

Como agem produtos a base de glifosato

O glifosato é sistêmico e não seletivo e, desta forma, atinge uma grande quantidade de plantas, assim a aplicação em uma lavoura vai matar todas as plantas, menos os cultivares de milho e soja, por exemplo. “Mata uma grande quantidade de plantas e só não vai matar as que são geneticamente modificadas”, conhecidas como transgênicas. “Então, o objetivo principal da pesquisa é descobrir e mostrar quais efeitos o glifosato pode causar em espécie que não são o alvo dele, por exemplo, os anfíbios.”

Várias concentrações a base de glifosato foram testadas. Produtos tal qual são vendidos no comércio e utilizados na agricultura.

Jéssica observa que hoje existe uma grande quantidade de plantas transgênicas. “Se é transgênico é porque foi modificado para suportar uma determinada quantidade de agrotóxicos misturados, claro que testei somente um agrotóxico, que já foi capaz de causar efeitos negativos, o que mais preocupa é que nas lagoas, habitat principal da espécie, existem vários misturados, imagina-se que o efeito seja ainda pior”, reflete.

Outro ponto que a pesquisadora destaca é o teste em um tipo de animal, que é sensível. E alerta: “claro que não podemos generalizar, extrapolar isso para o ser humano, mas se levar em conta a cadeia alimentar, podemos dizer que, se está fazendo mal para os anfíbios, possivelmente fará para os peixes, e, possivelmente estamos comendo peixes contaminados. Assim vai chegar na escala humana, de forma indireta.

A pesquisa

Desovas de anfíbios eram
coletadas na natureza e
levadas ao laboratório
para testes

A pesquisadora retirava as desovas de açudes e lagoas em regiões distantes das lavouras para garantir que não estivessem expostas ao agrotóxico. A retirada ocorria em menos de 24 horas de oviposição. Neste período, as desovas são envolvidas com uma espuma e não entram em contato direto com a água, desta forma se reduz qualquer tipo de contaminação do ambiente.

Os ovos eram colocados em aquários. Quando chegavam em um estágio que já comiam e nadavam bem, eram colocados em testes. “Quanto maior a concentração de glifosato, maior a gravidade dos efeitos.” A pesquisadora relata o prejuízo não só da sobrevivência, mas também ficar no cardume, o convívio em sociedade é prejudicado. “Dificilmente estes animais conseguiriam sobreviver na natureza com as alterações que tiveram nas concentrações que foram testadas.”

SAIBA MAIS

Danos morfológicos
Edema de intestino, enrolamento intestinal (reduz a absorção de nutrientes); olhos foscos (reduz a visibilidade), ausência de serrilha bucal (prejudica a alimentação e respiração), desvio de coluna e tortuosidade da cauda (prejudica o nado e corre mais risco de ser predado). Qualquer alteração corporal pode prejudicar o sucesso reprodutivo e consequentemente a continuação da espécie.

Danos genotóxicos
São danos a nível celular, irreversíveis. Geram problemas na célula e podem ser passados para gerações futuras. Podem ser indícios de câncer, são danos genéticos, a nível de DNA.

Importância dos anfíbios
O anfíbios têm papel importante: são considerados controladores de pragas, se alimentam de insetos, aranhas, moscas, ou seja, limpam o ambiente, ingerindo, inclusive, o mosquito da dengue. As substâncias encontradas em sua pele podem ser usadas para fazer medicamentos. O habitat natural de sapos, por exemplo, são lugares úmidos, próximos de rios, lagoas, florestas. Por isso também a necessidade de preservação da água e da vegetação no seu entorno.

Em busca da biodegradabilidade
Jéssica é Mestre em Ciência e Tecnologia Ambiental pela Universidade Federal Fronteira Sul, campus Erechim, sua cidade natal, onde fez a pesquisa sobre os impactos do glifosato nos anfíbios orientada pela professora doutora Marília Hartmann. Atualmente, cursa doutorado no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia na Univates. Sob a orientação da professora doutora Lucélia Hoehne, trabalha com imobilização de enzimas para
degradação de micropoluentes da água. O trabalho se segue na mesma linha, buscando minimizar os impactos negativos de micropoluentes, como por exemplo agrotóxicos, em animais e ecossistemas aquáticos, prevenindo
também a saúde humana.

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