A única certeza

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

A única certeza

Por

“ Se quiseres poder suportar a vida, fica pronto para aceitar a morte.” Sigmund Freud.

Nesse recém findado dia onde celebramos a memória de nossos mortos,convém parar para pensar um pouco. Se existe uma única certeza nesse mundo é a de que um dia partiremos. O que vira depois é uma grande incerteza,com as religiões dando diferentes caminhos mas sempre nos dizendo: há algo depois!

Essa incerteza sempre assustou a humanidade e fez com que criássemos rituais,alguns respeitosos,outros tristes e até alguns alegres e divertidos. Lembro ainda com espanto da alegre festa que os mexicanos fazem no dia de “los muertos”,sua tradicional celebração para os finados.

As cidades ficam repletas de alegres caveiras,pois segundo a tradição indígena local esse é o dia em que os mortos vem visitar seus parentes. E essa visita e motivo de alegria,razão pela qual se faz festa e comidas especiais.

A igreja católica teve ter olhado com o nariz torcido para essa festa,mas o máximo que conseguiu foi traze-lá para a data oficial do catolicismo. Mas a visão católica de céu e inferno não colou por lá visto que o destino não estava ligado a uma vida mais ou menos virtuosa,mas sim ao tipo de morte de cada um: havia um lugar especial aos que morriam nos campos de batalha enquanto o pior local estava reservado para os que faleciam de morte natural.

No Brasil predominantemente católico temos o dia dos finados, uma antiga tradição que remonta ao século V,quando a igreja católica instituiu um dia para rezar pelos mortos dos quais ninguém se lembrava ou ninguém rezava: era o dia de todos os mortos.

Apenas por volta do ano 1000 que a data dessa celebração passou a ser o dia dois de novembro ,um dia depois do dia de todos os santos.

Essas datas ajudam a explicar uma festa tradicional nos países de língua inglesa e que aos poucos chega até nos, o Halloween.

Fica mais fácil entendemos essa festa se formos até a origem da palavra inglesa “All-hallow-even”, a noite de véspera do dia de todos os santos,ou seja a noite de 31 de outubro.

Embora hoje seja chamado de dia das bruxas o termo é uma imprecisão histórica pois jamais se quis homenagear essas temíveis criaturas.

A data na verdade é uma mescla do festival celta de fim do verão, o Samhain onde entre outras coisas também havia a festa dos mortos.

Acredita-se que os disfarces do Halloween nasceram na França nos tempos pós peste bubônica onde havia uma multidão de mortos para homenagear. Algumas dessas homenagens ficaram conhecidas como danças da morte e eram executadas com disfarces onde a própria morte vinha lembrar a todos de nossa finitude.

Já a aparentemente inocente pedida de uma gostosura ou uma travessura remonta do tempo em que os católicos eram perseguidos pelos protestantes ingleses. Pois bem , houve uma tentativa dos católicos de matar o rei protestante que foi descoberta em 1605 e, logo após a execução dos acusados ocorreu uma grande festa que passou a ser repetida anualmente e perdura até hoje. Nesse dia muitos protestantes vestiam mascaras e visitavam a casa dos católicos pedindo por comida e cerveja e lhes diziam: “trick or treat”,travessura ou gostosura!

Como se vê a antiga festa dos druidas acabou por caminhos tortos se tornando a festa das bruxas. E o único elo em comum de todas as tradições que resultou no Halloween continua apenas a ser a morte.

A mesma morte que reverenciamos,tristes e aterrorizados nesse dois de novembro.

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