Um certo Mário Quintana

Opinião

Carlos Schäffer

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Um certo Mário Quintana

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“Se me esqueceres, só uma coisa, esqueça-me bem devagarinho”. (Mário Quintana). 

Não sei por que esta semana me deu vontade de escrever sobre Mário Quintana. Sempre admirei o grande poeta, um dos mais populares deste país. Foi desconsiderado três vezes para ingressar na Academia Brasileira de Letras. Não conseguia os votos suficientes. Contam que numa quarta vez teriam garantido sua eleição, mas que ele teria dito apenas: “Não. Obrigado”. Em resposta à atitude da entidade para com ele criou o Poeminha do Contra, que é o seguinte: “Todos esses que aí estão, atravancando o meu caminho, eles passarão, eu passarinho”.

Já contei esta história por aí, mas peço licença para repeti-la. No dia 3 de outubro de 1973, como de hábito, eu visitava a Feira do Livro, em Porto Alegre. Nesse dia eu percorria as Bancas procurando livros de meu interesse. Um deles, especificamente, era o Caderno H, do Mario. Perguntei ao vendedor se ele tinha este livro e ele me respondeu que sim, e ao me entrega-lo quis saber se eu o queria autografado. Surpreso questionei:

— Mas como? Já estão vendendo o livro autografado? E ele me respondeu:
— Não. É que o autor está aí ao seu lado e pode autografa-lo agora.
Surpreso olhei para o lado, e lá estava o Mario Quintana, um dos meus poetas favoritos, me olhando todo sorridente, encostado na casinha de madeira do livreiro.

Escreveu no livro que adquiri a seguinte dedicatória:
“Para Carlos Alberto Schäffer, lembrança amiga do Mário Quintana.
Pal. 31/10/73
Mário Quintana faleceu no dia 5 de maio de 1994 em Porto Alegre, com 87 anos.
Dele guardo frases memoráveis, que marcaram a minha vida:
“Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas”.
“A vida é um incêndio: nela dançamos, salamandras mágicas. Que importa restarem cinzas se a chama foi bela e alta”.
“A saudade é o que faz as coisas pararem no tempo”.
Se eu acredito em Deus? Mas que valor poderia ter a minha resposta, afirmativa ou não? O que importa é saber se Deus acredita em mim”.
“O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado”.
“Há noites que eu não posso dormir de remorso por tudo o que eu deixei de cometer”.

Com tanta gente ruim por aí, que poderia partir desta para uma pior sem deixar saudade, bem que Deus poderia ter permitido que Mario Quintana ficasse aqui com a gente, eternamente, criando mais poesias e alegrando a nossa vida.

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