Um país dividido

Opinião

Marcos Frank

Marcos Frank

Médico neurocirurgião

Colunista

Um país dividido

Por

Vale do Taquari

No século III depois de Cristo surgiu um profeta onde hoje existe o Iraque. Na língua persa ele era chamado de Mani e em grego de Maniqueu. De modo semelhante a outros profetas, ele teve quando jovem ainda, uma visão em que seu anjo protetor o ordenava isolar-se do mundo para receber a revelação de uma nova religião, que seria a interpretação correta de diversas crenças religiosas da época.

Suas ideias reuniam elementos do zoroastrismo, do hinduísmo, do budismo, do judaísmo e do cristianismo. Mani considerava Zoroastro, Buda e Jesus como “pais da Justiça”, e pretendia, através de uma revelação divina, purificar e superar as mensagens individuais de cada um deles, anunciando uma verdade completa: A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Por isso a doutrina maniqueísta está alicerçada em um dualismo que ensina a existência de dois princípios opostos e eternos, o Reino da Luz e o Reino das Trevas. O Reino da Luz é intrinsecamente bom, e o Reino das Trevas é intrinsecamente mal.

Sua doutrina se espalhou por vários países, provocando admiração em alguns e indignação em outros. Preso e condenado como herege, teria sido, segundo a tradição, esfolado vivo e sua carne atirada ao fogo, enquanto que sua pele foi crucificada em praça pública na cidade de Bendosabora.

Na história cristã, Santo Agostinho foi maniqueísta até aceitar o batismo e se converter ao cristianismo.
Hoje os dicionários descrevem assim os maniqueístas: Partidário do maniqueísmo, da doutrina de Maniqueu. [Por Extensão] aquele que só consegue compreender o bem e o mal de modo absoluto, sem restrições. Etimologia (origem da palavra maniqueísta). Do antropônimo de Maniqueu + ista.

É dessa corrente teológica e filosófica que surge o maniqueísmo político, cujo ideário consiste na oposição entre os pensamentos de rivais políticos, que buscam “demonizar” a imagem do oponente e “santificar” os seus próprios argumentos, mesmo que caiam em contradições. Esse mesmo maniqueísmo é utilizado ainda como estratégia de marketing político, sendo um modo eficiente para arregimentar multidões e aniquilar o raciocínio crítico, eliminando filtros e produzindo barreiras para outras possibilidades políticas.

As reações vistas nessa semana durante a passagem da primeira-dama Janja por Lajeado, nos deram uma oportunidade ímpar de assistir o fenômeno maniqueísta em toda sua extensão. Infelizmente tanto bolsonaristas como lulistas seguem em oposição, cada um vendo no outro a encarnação do mal e totalmente cegos para o que cada lado tem de bom.

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