Agosto Lilás e a Barbilândia

Opinião

Elisabete Barreto Müller

Elisabete Barreto Müller

Professora universitária e delegada aposentada

Agosto Lilás e a Barbilândia

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Confesso ter pensado que o filme da Barbie seria ruim. Para mim, essa boneca era sinônimo de uma imposição de padrão de beleza (loira, magra, cintura fina, cabelo liso e por aí) e que marcou de forma negativa uma geração de meninas sem esse perfil. Porém, para não fazer um julgamento precipitado, fui ao cinema conferir.

Vi e gostei! É um filme que leva à reflexão sobre os papeis de gênero atribuídos no meio social. Conta que Barbie e seu namorado Ken entram em choque quando descobrem que o mundo real era de dominação dos homens sobre as mulheres. Só que Ken gostou da experiência e quis implantar o mesmo na Barbilândia. Ou seja, instituiu um sistema de opressão às mulheres porque viu o quanto o patriarcado lhe forneceria poder e privilégios em todos os campos e, pior, fazendo com que as próprias mulheres daquela cidade de brinquedo aceitassem ser submissas aos homens.

Na vida real, apesar de nossas lutas históricas e direitos arduamente conquistados, também muitas mulheres não se dão conta de que fazem um papel servil ao patriarcado. E o que a campanha nacional Agosto Lilás, lançada no mês de aniversário da Lei Maria da Penha, destinada à conscientização para o fim da violência contra a mulher, tem a ver com o filme? Ora, numa cultura machista e patriarcal, em que um gênero se considera melhor que outro, onde a misoginia impera, é óbvio que é uma sociedade violenta contra as mulheres. E essa violência ocorre de todas as formas, desde as mais sutis até a mais perversa, o feminicídio. Se o filme fosse um drama, quando nasceu o patriarcado na Barbilândia, poderíamos ter visto Ken agredindo a Barbie.

Então, se olharmos o filme com crítica, entenderemos a importância da desconstrução dessa cultura opressora às mulheres. A própria Mattel, empresa que vende a boneca Barbie e fez o filme, percebeu que precisava mudar para vender, que o mercado indicou que a Barbie estereotipada (aquela do início do texto) não mais lucrava diante da mulher moderna e plural. A humanidade avançou e a equidade de gênero precisa prevalecer.

Especialmente para as mulheres, ressalto, todavia, que não adianta usar rosa e ir ver o filme, dizendo-se empoderadas. Se não estamos dispostas a perceber que outras mulheres não têm as mesmas condições para o empoderamento e que não conseguem sozinhas romper com o ciclo da violência, a aversão ao patriarcado é uma mera modinha. É preciso que pensemos na mulher pobre, negra, indígena, migrante, com deficiência, trans, lésbica, que sofre mais preconceito, vulnerável, e agir para além de nosso umbigo.

Lugar de mulher é onde ela quiser, mas muitas precisam de uma mão estendida para chegar lá.

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