A técnica dos  tiranos

Opinião

Carlos Schäffer

Carlos Schäffer

Advogado

A técnica dos tiranos

Por

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Antigamente, os ditadores adotavam técnicas especiais para submeter e obrigar o povo a obedecer suas ordens sem questioná-las.

Os romanos, por exemplo, utilizavam os espetáculos, as lutas na arena dos gladiadores contra animais ferozes, e outras farsas para dominar. Recorriam, também, com frequência, a outros meios, como a distribuição de alimentos, vinho e um sistércio (sistércio era uma moeda grande, de bronze, mas de valor insignificante). Aquela gente se empanturrava nos banquetes públicos e bendizia a generosidade daquele que, procedendo assim, lhes tirava a liberdade e os mantinha sob domínio absoluto. Mesmo assim, o grito que se ouvia nas galerias das arenas era o de “Viva o rei!

No dia seguinte, no entanto, podiam ser obrigados a abandonar seus bens à cobiça dos donos do poder, seus filhos à luxúria, seu sangue à crueldade desses imperadores que ontem aplaudiam entusiasmadamente. E em razão da sua submissão, tinham que suportar as maldades calados e impotentes.

Outros usavam técnicas diferentes. Os primeiros reis do Egito nunca se mostravam em público sem trazer consigo um gato, fogo na cabeça, para parecer que eram mágicos. E o povo, ignorante, acreditava neles, os reverenciava e os admirava como se fossem deuses. Diante daquelas figuras imponentes e espetaculosas tornavam-se servis, obedientes, e trocavam, assim, sem pensar, sua liberdade por essas ninharias que lhes eram oferecidas.

Étienne de La Boétie, que viveu no século XVI, quando tinha 16 ou 18 anos, escreveu um pequeno livro, com cerca de 43 páginas, a que deu o título de o Discurso da Servidão Voluntária, no qual nos ensina que os homens se tornam escravos por que permitem, mas que as tiranias se destroem sozinhas quando os cidadãos se recusam a obedecer, a consentir, e reagem.

Segundo esse raciocínio, é inimaginável que uma só pessoa ou um pequeno grupo possa dominar, explorar e obrigar todos os cidadãos de uma sociedade a obedecer a ordens absurdas com tanta mansidão, com tanta submissão voluntária.

Considerando o que vem acontecendo no Brasil ultimamente, é recomendável que os brasileiros leiam esta pequena obra, e tomem conhecimento de como agem, desde sempre, os ditadores, e de como é possível lutar contra eles, sem violência.

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