Aos 102 anos, ex-combatente mantém viva a memória da Segunda Guerra

HERÓI EM MONTE CASTELO

Aos 102 anos, ex-combatente mantém viva a memória da Segunda Guerra

Último pracinha vivo na região recebeu ontem homenagem do Exército. Solenidade marcou as comemorações do aniversário de José Maria Vedoy da Silva, o “Seu Dedé”

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Aos 102 anos, ex-combatente mantém viva a memória da Segunda Guerra
No dia do aniversário, José Maria Vedoy da Silva recebeu homenagem do Exército e de familiares no ginásio do bairro Jardim do Cedro, em Lajeado. Crédito: Felipe Neitzke
Lajeado
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Em uma noite de maio de 1944, um grupo de 20 soldados deixou a base militar de Santa Maria rumo ao Rio de Janeiro. De lá, embarcaram em um navio com destino à Itália. Os militares integraram a Força Expedicionária Brasileira (FEB) na Segunda Guerra Mundial.

Entre os combatentes estava José Maria Vedoy da Silva, o “Seu Dedé”. Natural de Boqueirão do Leão, completou ontem 102 anos. Para marcar a data, recebeu homenagem do 7º Batalhão de Infantaria Blindado (BIB), de Santa Cruz do Sul. A cerimônia ocorreu no ginásio do bairro Jardim do Cedro, em Lajeado.

De acordo com o comandante do 7º BIB, Marcelo Soares, “Seu Dedé” é um herói e exemplo de pessoa. “Ele integrou um grupo com cerca de 25 mil combatentes que colocaram suas vidas à disposição do Brasil. Ocasião na qual representaram muito bem o país e o Exército. Nada mais justo do que prestar essa homenagem.”

Ao som da banda marcial, cerca de 40 pessoas prestigiaram a solenidade. A confraternização foi momento de reunir familiares e amigos. “Quando criança não se dava muita importância. Depois que começamos a entender o que é uma guerra, aí ficamos pensando o que ele deve ter enfrentado”, conta o filho Darcy Vedoy da Silva, 67.

Apesar da dificuldade auditiva, Silva chega aos 102 anos lúcido e com lembranças do combate. Algumas situações das quais prefere não compartilhar. Pai de nove filhos, um já falecido, tem 29 netos e mais de 30 bisnetos.

Banda do 7° BIB de Santa Cruz do Sul se apresentou durante celebração de aniversário do último pracinha vivo na região. Crédito: Felipe Netzke

Sobrevivente dos campos bélicos

Em entrevista concedida ao A Hora em 2016, Seu Dedé contou detalhes da experiência de guerra.Durante dez meses, esteve nos campos bélicos ao lado de soldados de outras cinco nações. Divididos em grupos de 12 combatentes, a uma distância de 20 metros, ajudava a proteger o armamento e a comida de toda a tropa.

Ele também participou da batalha de Monte Castello. Local onde em novembro de 1944, após cumprir missões no vale do rio Serchio avançaram sobre a divisa central das regiões de Toscana e Emília-Romanha.

As posições de artilharia alemãs eram consideradas privilegiadas. “Ficamos dias e dias sobre fogo cruzado, diversos soldados morreram nos ataques aéreos promovidos pela Alemanha Nazista. Muitas bombas não explodiram, mas deixava todos numa situação delicada”, descreveu.

O veterano ainda contou que, no fim da guerra, estava receoso com a possibilidade de ser enviado ao Japão, onde mais tarde os EUA lançaram a bomba atômica sobre as cidades de Hiroshima e Nagasaki. “Ao embarcar no navio, o medo era de não ser enviado ao Brasil e sim participar das ofensivas de ataque às tropas do Império Japonês.”

Quando retornou para casa, em agosto de 1945, foi recepcionado em Lajeado no Colégio Madre Bárbara e com festa na comunidade de origem, em Passo de Pedras Brancas, hoje, interior de Boqueirão do Leão. Na época, seguiu a vida como agricultor e, mais tarde, ingressou como funcionário do governo municipal.

Ex-combatente da FEB completou 102 anos ontem. Ele integrou pelotão de combate na Itália entre 1944 e 1945. Crédito: Felipe Neitzke

“Ele não gosta de falar sobre a guerra”

Seu Dedé sempre foi motivo de orgulho e inspiração à família. O filho Paulo Vedoy da Silva, 58, lembra que ele não gosta de falar sobre a guerra. “Nós também não tínhamos muita ideia, naquele tempo, do que foi a 2ª Guerra Mundial. Quando perguntávamos algo, às vezes, ele falava um pouco, mas mudava de assunto. A gente entendia logo”, relata.

Apesar da carreira militar de Silva, os filhos não seguiram na área. “Meu irmão mais velho até serviu um ano no quartel em Santa Maria, mas preferiu voltar. A gente sempre teve muito receio por conta dessa experiência do nosso pai”, destaca Paulo.

Inspiração aos jovens

O capitão reformado do Exército, Lúcio Flávio Pereira Adriano, 74, mora desde 2014 em Lajeado e visita com frequência Dedé. Segundo ele, está cada vez mais difícil atrair jovens para a carreira militar.

“Eu também tinha medo de ingressar na área, mas depois da experiência e do convívio diário percebi que era aquilo mesmo que eu queria para meu futuro”, reforça Adriano. Ele soma 37 anos de vida militar. A última experiência foi em Guaporé.

O militar destaca também o orgulho ao celebrar os 102 anos do amigo ex-combatente. “Ele é fonte de inspiração para gerações e o último pracinha vivo na região dos vales do Taquari e Rio Pardo.”

Já o capitão aposentado Antônio Rodrigues de Oliveira, 68, conhece Seu Dedé há pouco mais de oito anos. “Nas visitas, tem dias em que ele quer conversar, contar as coisas, em outros não. Ele nos orgulha por todo o trabalho que fez pelo nosso país”, destaca.

 

 


 

 

Confira um trecho da homenagem

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