Em 10 anos, iniciativa impacta mais de 30 mil estudantes

Vida+Viva Sem Álcool

Em 10 anos, iniciativa impacta mais de 30 mil estudantes

Programa comunitário alerta sobre o consumo precoce de substâncias psicoativas entre adolescentes dos 12 aos 17 anos. Exemplo de casa, necessidade de participar de algum grupo e a falta de limites são alguns fatores que levam o jovem a beber

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Atualizado sábado,
08 de Outubro de 2022 às 07:09

Em 10 anos, iniciativa impacta mais de 30 mil estudantes
Nos dois primeiros diagnósticos, incidência do consumo de álcool mostra ascensão entre faixa etária dos 12 aos 17 anos. Crédito: Filipe Faleiro
Vale do Taquari
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O comportamento de pré-adolescentes alerta sobre valores da sociedade. Ao reproduzir a ideia de que para se divertir é preciso beber, o contato com substâncias psicoativas ocorre cada vez mais cedo. Como forma de manter fórum permanente para debater os riscos dessa exposição, instituições públicas e sociais sem fins lucrativos criaram o programa Vida+Viva sem Álcool.

Por meio de atividades lúdicas e seminários nas escolas, procura-se elevar a consciência dos jovens e das famílias sobre os malefícios do álcool e das drogas. “A primeira conquista do Vida+Viva foi se firmar como uma grande ação comunitária efetiva na discussão deste tema”, frisa o promotor de Justiça, Neidemar Fachinetto.

Entre os movimentos com os adolescentes, o programa também mantém contato com órgãos de segurança pública, com especialistas na área da saúde e da educação. Por meio de pesquisas, traz um diagnóstico sobre o momento em que os menores têm o primeiro contato com as substâncias e também a periodicidade desse consumo.

“Mostramos por meio de evidências a necessidade de falarmos sobre alcoolismo e drogadição na juventude. Saímos do achismo e comprovamos que há um crescimento assustador no consumo entre menores”, ressalta.

O Vida+Viva desenvolveu atividades em mais de 100 escolas, tanto da rede pública quanto particular, com impacto direto em mais de 30 mil estudantes. Pelo Concurso e Mostra Cultural, foram 126 projetos, com roteiros de teatro, composições musicais, danças e vídeos.

A iniciativa surgiu em dezembro de 2012. Mantida pela Associação Lajeadense Pró-Segurança Pública (Alsepro), conta com a parceria da Associação Comercial e Industrial de Lajeado (Acil), Ministério Público (MP), Poder Judiciário, Sesi, 3ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE) e Administração de Lajeado.

Novo diagnóstico em curso

Ao longo da primeira década de atuação, o programa fez duas pesquisas sobre a incidência do consumo de álcool e outras substâncias psicoativas entre estudantes. O primeiro diagnóstico ocorreu em 2012, e o segundo entre 2017 e 18.

O terceiro está em desenvolvimento. A estimativa é apresentar os dados em dezembro, durante Mostra dos 10 anos. Nos dados já apurados das edições anteriores, há um crescimento no consumo de álcool na faixa etária dos 12 aos 17 anos.

O percentual passou de 63,1%, em 2012, para 75,6%, entre 2017/18. Destes, 92,8% beberam pelo menos uma vez nos últimos 12 meses. Tal indicador caracteriza a continuidade no uso.

Conforme o coordenador da pesquisa, o professor doutor Luís César de Castro, o contato precoce, antes dos 25 anos, tem impacto negativo sobre o desenvolvimento físico e cognitivo dos adolescentes.

Como resultado, há danos que provocam dificuldades neuropsicológicas e potenciais prejuízos na maturidade cerebral. De acordo com ele, quanto mais cedo o uso de álcool, mais suscetíveis à dependência. “É muito necessário previnir esse uso precoce.” Para tanto, defende fortalecimento de vínculos entre escola, sociedade e, especialmente, familiares.

De acordo com o promotor Neidemar Fachinetto, a ideia do grupo de profissionais envolvidos no Vida+Viva é repetir os estudos a cada cinco anos. “Com essa linha do tempo, atingimos gerações diferentes. Conseguimos ver se o consumo continua se agravando ou se há algum retrocesso”.

Na avaliação dele, esses dados são relevantes pois é possível conferir se a própria iniciativa teve algum impacto direto. “É angustiante pensar que o programa sozinho será responsável por reduzir ou não o consumo de álcool ou de outras drogas. Agora uma coisa é certa, influenciamos e transformamos muitas vidas. Nossa preocupação é conseguir ajudar a termos uma sociedade mais protetiva com os filhos, com as crianças.”

Mais de 2 mil respondentes

Segundo Luis César de Castro, a próxima edição da pesquisa dirigida pelo Departamento Científico do Vida+Viva, traz novidades. Pela profundidade do questionário e o formato de aplicação digital, é possível análises estatísticas para além do espectro do consumo de entorpecentes.

“Aprofundamos as análises para conhecer hábitos, comportamentos e a saúde dos jovens. Teremos estatísticas que poderão ser usadas para nortear políticas públicas de cuidado e proteção dos menores.”

O questionário é autoaplicável com total preservação do anonimato, conta Castro. O estudante recebe por meio digital, lê e responde sem qualquer contato ou entrevista de terceiros. Isso proporciona o sigilo e proteção do menor. De acordo com o coordenador, o estudo está em fase de conclusão. Já foram recebidos 850 arquivos. A perspectiva é se aproximar ou superar o número de 2 mil participações.

Porta de entrada

O álcool e o cigarro são as primeiras substâncias usadas pelos jovens, inclusive com mais percentual de continuidade do uso. Frente a análise das informações coletadas pelo Vida+Viva, o médico cardiologista, precursor da neurolinguística no RS, Nelson Spritzer, considera grave os indicativos sobre o uso precoce de entorpecentes.

Para ele, não há uma causa para essa ânsia em beber. “Os jovens fazem parte da sociedade. Vemos que há um abuso cada vez maior de bebidas alcoólicas em todas faixas etárias.” A partir disso, considera dois aspectos centrais para esses resultados vistos nas pesquisas: a falta de valores e o exemplo de casa.
“Percebo uma questão geracional. Os adolescentes de hoje estão mais expostos e sem um acompanhamento mais próximo. Desconhecem o que é importante na vida. Eles estão vazios de valores. Muito dirigidos pelas redes sociais, por uma sociedade narcisista.”

Dentro disso, destaca um comportamento de manada. “Muitos querem ser aceitos em algum grupo. Se os outros bebem, ele também precisa beber. Neste ponto está a falta dos valores, de formação da personalidade forte, de saber dizer não.” Em outra ponta, a ideia de que para se divertir é preciso ter álcool. Como referência, as experiências no ambiente familiar.

“Os pais são a vitrine. O jovem vê o pai alcoolizado, ou a mãe abusando do vinho, da cerveja. Por vezes até são estimulados. As famílias são muito responsáveis pelas trapalhadas dos adolescentes.”

Corrigir as condutas passa por uma reeducação. “Tem de ser ao mesmo tempo. Tanto dos jovens quanto das famílias”, argumenta Spritzer. Diante disso, enaltece o programa Vida+Viva. “A sociedade estar preocupada e manter um debate sobre esse tema é fundamental. Agora, se vai funcionar, é a pergunta de um milhão de dólares.”

A dificuldade está na cultura criada sobre o álcool. “Como fazer para mudar de comportamento? Isso exige muitas frentes. Vamos sensibilizar as famílias. Isso é um ganho. Agora o quanto é possível influenciar, não temos como prever.”

Histórico do programa

Ao longo de dez anos, Vida+Viva reuniu especialistas em saúde, segurança, autoridades públicas e da sociedade civil. Chegou nas escolas e nas famílias para sensibilizar sobre a prevenção ao consumo de substâncias psicoativas. Confira alguns marcos:


 

 

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