Janela indiscreta

Opinião

Jandiro Koch

Jandiro Koch

Escritor

Colunista do Caderno Você

Janela indiscreta

Por

Gustavo Adolfo 1 - Lateral vertical - Final vertical

Tenho comichão diante da máxima “o livro salva”. O conhecimento faz isso. Mas há muito texto desqualificado nas prateleiras. Se há lucro, o mercado não tem escrúpulos. Uma das melhores maneiras de triar entre o que presta e o que não vale é o hábito da leitura. Mas um levantamento do Instituto de Pesquisas de Opinião (IPO) apontou que 48,3 % dos gaúchos não o exercem.

Baixa escolaridade explica alguma coisa. Os que têm o Ensino Fundamental (in)completo, quando investem em literatura, dão preferência para temáticas religiosas e de autoajuda. Compreensível. Já entre os que leem assiduamente, sul-rio-grandenses superam a média nacional em quantidade de títulos.

No Rio Grande do Sul, são em torno de oito livros por ano, enquanto o número não passa de três por pessoa no restante do país. Não há como esquecer o menor poder aquisitivo em tempos de cesta básica inflacionada.

Chegando ao Vale do Taquari, dá para observar se lemos ou não nos sites de imobiliárias. Como assim? Nos rolês virtuais, vejo pouquíssimos apartamentos, casas ou sobrados com livros. Janelão aberto. Muitos anúncios vêm acompanhados de fotografias dos espaços ainda mobiliados, onde não aparecem nem mesmo estantes vazias em que a mente criativa poderia imaginar volumes em vez de decoração.

Outra coisa que chama a atenção é não termos sebos, que são lugares que se especializam na venda de usados. São famosíssimos em Porto Alegre. Há mais de trinta municípios gaúchos na Estante Virtual, site que reúne esse tipo de comércio. Ijuí e Guaíba, com o número de habitantes semelhantes ao de Lajeado, estão lá.

Nos corredores desses estabelecimentos, além dos valores atraentes, das raridades, é fácil encontrar pessoas bacanas para um bom papo ou uma amizade. Nem todos são fãs de boteco. O que acontece com os livros entre nós? São descartados? Seguem para as bibliotecas públicas?

Para colecionadores particulares? Conheço apenas uma persistente iniciativa para dar conta de girar a literatura dos usados: a banca mantida pela Laura Peixoto, no Bairro Americano. O acesso é gratuito.

Sorte dos lajeadenses. Só por esse projeto em área deficitária, ela deveria receber as honras de promotora cultural. Não ter uma rotina de leitura fragiliza as discussões, sobremaneira na política, responsável pelos rumos nacionais. Quantos leitores há no Vale? Coceirinha de novo.


Acompanhe nossas redes sociais: WhatsApp Instagram / Facebook

Acompanhe
nossas
redes sociais