Aos 4 anos, Maria Inês é monitora do lixo

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Aos 4 anos, Maria Inês é monitora do lixo

Moradora de Curitiba aprendeu, aos 3 anos, por meio de figuras e colagem, a separar o orgânico do reciclável

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Aos 4 anos, Maria Inês é monitora do lixo

Maria Inês Carvalho dos Santos tem apenas 4 anos e já sabe separar os resíduos sólidos domésticos. Ela e os pais, o gerente de projetos Gabriel Ferreira Xavier dos Santos e a tecnóloga em radiologia Camila Keila Carvalho dos Santos, moram em Curitiba (PR). A cidade é modelo desde 1990, quando recebeu o United Nations Environment Program (Unep), prêmio máximo na área de meio ambiente concedido pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A primeira aulinha de Maria ocorreu de uma forma bem lúdica, em janeiro de 2021, quando tinha 3 anos. A mãe, Camila, espalhou pelo chão da sala vários adesivos com imagens de produtos orgânicos e recicláveis. Maria separou os adesivos com orientação da mãe e depois colou nas lixeiras que ficam na cozinha. “Ela é uma monitora do lixo”, orgulha-se Camila. “Temos que pensar que o lixo não termina ali, quando o colocamos na lixeira”, destaca.

As primeiras lembranças da tecnóloga em radiologia, hoje com 40 anos, sobre as questões ambientais são de quando tinha entre 10 e 12 anos. Na época, o prefeito, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner, criou o programa Lixo que não é lixo, que estimulava a população a separar lixo orgânico e reciclável. A Família Folha tinha o apelo lúdico. “Lembro bem da música.”

Outro exemplo veio de casa. O pai, José Demar, tinha uma marcenaria. Quando faleceu, em 1995, Camila tinha 14 anos. O tio Edegar assumiu os negócios. “E precisou inovar, se virar.” Ele começou a comprar madeira, de qualidade e tratada, que embalavam peças de automóveis que vinham para as montadoras e transformar em palets. “Era uma forma de reciclagem.”

Camila observa que a reciclagem e os cuidados com o meio ambiente tiveram um impulso na década de 1990, ancorado nas ações governamentais, mas depois se esfriou. Tempos depois voltou à tona. Em Curitiba, além das ações puxadas pela administração municipal, a população tem a consciência de preservação. “Aqui, independentemente da coleta seletiva, sabemos que há comunidades de catadores, que vivem da reciclagem. Então se tornou um hábito separar e descartar de forma correta para que os catadores possam recolher e aproveitar.”

Caminhada de longa data é cada vez mais necessária

Curitiba, referência em cidade sustentável, tem tradição em soluções ambientais e, a ampla rede de serviços na área de resíduos sólidos não é diferente. “Há bastante tempo, oferecemos aos cidadãos da capital paranaense diferentes modalidades de coleta, para que haja a destinação correta dos resíduos”, diz a secretária do Meio Ambiente de Curitiba, Marilza do Carmo Oliveira Dias.

“Hoje, isso é particularmente importante e urgente, uma vez que a separação correta dos resíduos para reciclagem e a redução do uso dos aterros sanitários também representa menos emissões de gases diretamente responsáveis pelas mudanças climáticas”, completa.

Resíduos sólidos

A capital paranaense conta com 40 associações de catadores de material reciclável, que recebem, triam e comercializam resíduos da coleta seletiva da cidade. O Programa Ecocidadão, da Secretaria Municipal do Meio Ambiente (SMMA), visa melhorar a qualidade de vida dos catadores e fortalecer a rede de coleta e separação de materiais também reutilizáveis.

Cada associação recebe remuneração conforme a quantidade de material recebido, valor que é utilizado para cobrir as despesas. O lucro vem da venda dos materiais separados nos barracões instalados com a finalidade de atender esta etapa da cadeia do lixo.

Câmbio Verde

Com o programa Câmbio Verde, a administração municipal promove a troca de material reciclável por produtos hortifrúti da época. Um convênio garante que os excedentes da produção de pequenos produtores rurais sejam oferecidos às famílias de Curitiba nos pontos de atendimento pré-definidos.

Cada quatro quilos de lixo reciclável (papel, papelão, vidro, sucata ferrosa e não ferrosa) valem um quilo de frutas e verduras. Pode ser trocado também o óleo vegetal e animal: cada 4 litros de óleo vale 1 kg de alimento. A troca é efetuada quinzenalmente em pontos implantados na cidade. O Câmbio Verde traz benefícios econômicos, sociais e ao meio ambiente, atendendo ao pequeno produtor e associações de catadores de materiais recicláveis e destinando adequadamente estes resíduos.

Coleta e multas

A administração municipal oferece coleta e sistemas de descarte de todos os tipos de materiais. Quem faz descarte irregular de qualquer tipo de resíduo, em rios, terrenos baldios, fundos de vales, praças, parques, vias públicas, entre outros, está sujeito às penalidades previstas na legislação municipal e nacional vigentes, entre elas, multa.


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