A real fartura do Natal

Opinião

Bibiana Faleiro

Bibiana Faleiro

Jornalista

Colunista do Caderno Você

A real fartura do Natal

Por

Lajeado

Quando criança, Ana (nome fictício) costumava esperar ansiosa pela véspera de Natal. Colocava leite e biscoitos para que o Papai Noel mantivesse o tão tradicional peso quando fosse deixar os presentes debaixo da árvore de Natal. A qualquer barulho diferente dentro de casa, já imaginava o Bom Velhinho descendo pela chaminé. Mas, de olhos fechados, fingia estar dormindo. Afinal, queria estar na lista dos bonzinhos.

Ela ia à missa das 18h e sentava com as outras crianças quase ao lado do padre. Escutava atenta, mesmo que não entendesse uma palavra ou outra. Via o menino Jesus ser levado até a manjedoura, para fazer parte do presépio. Era uma noite mágica, já vivida desde o início de dezembro.

Ana cresceu e, aos poucos, passou a desconfiar de que o Bom Velhinho era, na verdade, seus pais. Mas, ainda assim, fingia acreditar. Não queria que toda a magia chegasse ao fim. Ela então percebeu que toda a fantasia ou a falta dela não tiram o real sentido do Natal. Passou a valorizar os momentos em família. E nunca deixou de apreciar a cidade cheia de luzinhas. Montar o pinheiro foi sempre sagrado, assim como todos os preparativos para a ceia.

A troca de presentes também passou a ter outro significado para ela, que até começou a comprar alguns. Ver a sala da casadovôedavócheiadetios e primos, fazia o Natal ter sentido pra ela.

Quando entrou para a faculdade, começou a trabalhar, e nos anos seguintes, Ana passou a ter menos tempo para os filmes de Natal e para se dedicar aos enfeites da casa. Dezembro passou a não ter tanta magia quanto costumava ter e, pra ela, a data se tornou apenas mais uma celebração. Com a correria, comprar um presente se tornou mais uma obrigação do que um gesto de carinho e, aos poucos, algumas coisas foram perdendo o sentido pra ela.

Ana é a figuração de muitos de nós nos dias de hoje que, presos à desculpa da falta de tempo ou outras preocupações, perdemos momentos e pessoas. Natal é também o reforço de coisas que esquecemos ao longo da vida. É tempo de lembrar daqueles dias de infância que nos faziam crianças felizes e com boa imaginação.

É momento de reunir a família, da forma que ela for constituída. Independente dos presentes debaixo da árvore de Natal ou da ceia servida à mesa. A fartura está no amor e na presença. E, em um momento ainda difícil em que vivemos, a presença nunca foi tão importante. É tempo de visitar a saudade, para não esquecer dos motivos que temos para celebrar a vida e o Natal.

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