A jornada dos torcedores da Dupla Gre-Nal do Vale para acompanhar os jogos em Porto Alegre

ESPECIAL

A jornada dos torcedores da Dupla Gre-Nal do Vale para acompanhar os jogos em Porto Alegre

O Grupo A Hora acompanhou os torcedores da região em partidas disputadas na Arena e no Beira-Rio e conta agora os bastidores dessa história

Por

Atualizado sexta-feira,
12 de Novembro de 2021 às 14:08

A jornada dos torcedores da Dupla Gre-Nal do Vale para acompanhar os jogos em Porto Alegre
Vale do Taquari

Quanto tempo é possível ficar longe de quem se ama? Que distância é possível percorrer para encontrar um amor? No caso dos torcedores da Dupla Gre-Nal do Vale do Taquari, as respostas são: 570 dias e cerca de 220 km. Esse foi o tempo que a Arena e o Beira-Rio ficaram sem receber público devido às restrições causadas pela pandemia de covid-19 e esta é a distância que os torcedores da região percorrem para acompanhar as partidas da dupla.

Muita coisa? Não para torcedores de futebol. Segundo Zully Abella (46), uma das coordenadoras do Movimento de Torcedoras Gurias do Grêmio Lajeado, o período longe do estádio foi de muito sofrimento. Como a última temporada do Grêmio já foi aquém dos anos anteriores e em 2021 o clube está à beira do rebaixamento para a Série B, a distância física apenas ressalta a saudade.

“A distância e essa situação fez com que muitos torcedores ficassem desestimulados, mas, como referência, nosso pensamento é apoiar até o fim. Enquanto a bola rola, temos chance, confiamos no nosso manto. E nosso apoio vai se manter independente do resultado”, afirma Zully.

O sentimento não é diferente do lado colorado do Vale. Para Alenia Baialardi (38), especialista em RH na cidade de Estrela, mais do que o incômodo de ficar sem ir ao estádio, não ter acompanhado o Inter na trajetória do quase título brasileiro em 2020 foi o mais doloroso. “Doeu perder o título, mas não acompanhar do Beira-Rio foi a pior coisa. Porque só quem vai lá dentro sabe o que é essa emoção”, explica. 

Frequentadora de quase todos os jogos ao lado do marido, Francis Canterelli (41), e da filha, Maria Eduarda, de dez anos e que os acompanha desde os cinco, Alenia ressalta que ir aos jogos e enfrentar a estrada é a rotina de todos os finais de semana.

Assim como ela, dezenas de outros torcedores de Grêmio e Inter realizam a mesma empreitada para acompanhar os clubes da capital. O Grupo A Hora provou isso em duas ocasiões, quando acompanhou o deslocamento dos torcedores para Porto Alegre.

No dia 31 de outubro, a torcida tricolor viajou para acompanhar a partida contra o Palmeiras, que acabou em derrota por 3 a 1 e com as cenas lamentáveis de invasão de torcedores ao campo. Já no dia 06 de novembro, os torcedores colorados foram ao Beira-Rio participar do clássico Gre-Nal 434 e viram seu time derrotar o rival por 1 a 0. 

LEIA MAIS:

Na boa e na ruim: a marcha dos torcedores do Grêmio até a Arena

O Gigante os espera: o caminho dos torcedores do Inter até Porto Alegre


 

Zully Abella, uma das coordenadoras do Movimento de Torcedoras Gurias do Grêmio Lajeado (Foto: Eduardo Dorneles)

Paixão que vence quilômetros

Segundo Jardel de Andrade (28), um dos líderes do movimento Banda dos Vales, do Grêmio, e participante da organização da “Barca Tricolor”, antes da pandemia, em todos os jogos saíam torcedores para acompanhar as partidas na Arena. Com a retomada do público, a demanda voltou naturalmente, apesar da circunstância complicada do Grêmio na tabela.

“A movimentação da torcida do Grêmio fala por si só. Estamos na zona de rebaixamento e colocamos mais gente no estádio do que nosso co-irmão. Hoje, na barca, vão pessoas que não conseguiram ingresso, não vão entrar, mas querem estar com o Grêmio, estar na volta do estádio e sentir o que vivíamos antes da pandemia”, conta.

A torcida colorada não deve em nada quanto empolgação pela possibilidade de retornar ao Beira-Rio. De acordo com Carine Ellis, cônsul do Inter em Lajeado, em 2019, foram mais de 30 excursões para acompanhar o Colorado. 

“Foi bem difícil o afastamento do estádio pois estávamos habituados a toda a loucura das excursões e principalmente a estar no estádio. A saudade estava grande. Voltar ao Beira-Rio é maravilhoso. Faltava a união da torcida e isso é o que nos deixa muito contentes”, avalia.

Na partida do Grêmio acompanhada pelo Grupo A Hora, quase sessenta pessoas estavam dentro do ônibus que partiu do Parque do Imigrante, em Lajeado, às 10h. O dia de sol e o fato da partida ser às 16h incentivou que os torcedores organizassem um churrasco em torno da Arena. A celebração também contou com a participação de torcedores de Estrela, Encantado, Venâncio Aires e Santa Cruz. 

Para Felipe Neto (28), um dos nomes que organiza as viagens gremistas, o principal objetivo do movimento, além de apoiar o clube em campo, é promover a integração dos torcedores do Vale. Tanto é que sempre na volta de Porto Alegre os ônibus se reúnem no Paradouro 22, em Montenegro, para congregar bandas e torcedores.

“É muito mais que futebol. O Grêmio está sendo rebaixado e a torcida está aí. É uma amizade que levamos”, explica.

Enquanto isso, no Gre-Nal 434 acompanhado pelo Grupo A Hora junto à torcida colorada, o ônibus reuniu pouco mais de 30 pessoas. O dia chuvoso, o receio da pandemia e o fato de ter sido num sábado às 19h afastou algumas pessoas. Para Carine, a baixa procura foi uma surpresa. Porém, nada que abalasse a animação daqueles que se reuniram às 15h, em frente ao Posto Faleiro, em Lajeado. 

Segundo Gerson Solforoso (43), integrante de uma organizada colorada, o dia de jogo é um dia de adrenalina: a partida é a primeira coisa que se pensa e, certamente, também será a última. O fato de ter sido um Gre-Nal apenas endossou essa característica. 

“É um jogo importante porque há muito tempo estamos sem ganhar deles. Estamos acompanhando mais o rebaixamento do Grêmio, por causa da rivalidade, do que uma pontuação melhor no campeonato. O que esperamos é dar uma última pazada no rival”, comentou o torcedor empolgado.


 

Carine Ellis, cônsul do Inter em Lajeado (Foto: Eduardo Dorneles)

A torcida de quem leva os torcedores

Não são apenas os torcedores da dupla Gre-Nal que estão empolgados com essa retomada. As empresas de transporte do Vale também estão animadas com o retorno das excursões aos jogos. Segundo Rodrigo Scappula (36), nome à frente da Expresso Encantado, de Encantado, responsável há quase dez anos pelo transporte dos gremistas da região, sempre havia partidas para cobrir. O intervalo máximo sem viagens era de 15 dias.

O movimento se intensificou tanto nestes últimos cinco anos com a fase de títulos gremistas que a empresa investiu R$ 70 mil para adquirir um ônibus exclusivo para a torcida. “Sabemos que vamos levá-los e o comportamento é muito típico de torcedor: eles bebem, às vezes fumam. Então, para não misturar o veículo com outros serviços, reservamos este apenas para a torcida”, conta e complementa:

– Foi complicado ficar sem viagens do Grêmio. Impactou no orçamento. Achávamos que ia voltar ao normal, mas com a punição da torcida e o possível rebaixamento, é provável que ainda demore um pouco mais para a retomada se consolidar.

A perspectiva é um pouco diferente para Lucas Rockenbach (35), proprietário da Lumatur, de Travesseiro, que há cinco anos atende o Consulado do Inter em Lajeado. Com a retomada econômica, liberação de público e a potencial classificação à Libertadores 2022, ele está empolgado com a volta em peso das excursões de torcedores. 

“Antes da pandemia, eram cerca de quatro partidas por mês. Durante esse período, a entrada de recursos fez falta.  Porém, a perspectiva é voltarmos ao normal e seguirmos com a parceria que já temos há algum tempo”, explica.


A organização e a ajuda dos clubes

Esse movimento nasceu e se organizou com os próprios torcedores. Cada etapa é cumprida por grupos que pouco ou nada se relacionam com os clubes de Porto Alegre. O valor dos ingressos, o custo das viagens e a responsabilidade pela organização é exclusiva das pessoas que se dedicam de forma espontânea.

Os torcedores do Grêmio, por exemplo, iniciam a organização para um jogo quando o anterior termina. No dia que o Grupo A Hora os acompanhou, a última partida havia sido contra o Atlético-GO, numa segunda-feira à noite. Ou seja, durante toda a semana os nomes à frente da barca divulgaram nos grupos de WhatsApp, organizaram a lista, contrataram o transporte e deixaram tudo pronto para, no dia, os torcedores só terem o trabalho de entrar e ir.

Segundo Zully, o Grêmio não participa de nada. Além da relação direta que cada torcedor tem com o quadro social e seus descontos ou com a plataforma de compra de ingressos da Arena, não há qualquer ajuda do clube. 

“O deslocamento para a capital é divertido, mas tem seus custos. O Grêmio deveria privilegiar o torcedor do interior e oferecer mais vantagens além do desconto no ingresso para sócios”, avalia.

O Grêmio confirmou que não dá nenhum tipo de ajuda específica aos torcedores do interior. Segundo Daniela Lentz, Gerente de Comunicação, o clube apenas comunica os serviços de vendas de ingressos e check-ins e a logística de acesso ao estádio. “Atuamos para orientar os sócios e torcedores, além da demanda prévia de informação e serviço, na solução de algum eventual problema que possa ter em seus procedimentos de acesso ao estádio”, explica.

Com os torcedores colorados não é muito diferente. Contudo, como o consulado do clube em Lajeado tem protagonismo maior nas excursões, há algumas condições mais facilitadas. Segundo Carine, o processo de organização da viagem passa por montar a lista de sócios e enviar ao Inter. Se não houver problemas com as matrículas, o clube retorna com sinal positivo e os torcedores podem fazer a aquisição dos ingressos. Este processo acontece porque o consulado recebe, a depender da demanda, a garantia de reserva de cinco a dez ingressos por partida.

“Depois, com o início da venda geral de ingressos, colocamos nas redes o anúncio da viagem. Porém, a organização é toda do consulado. Depois daquele momento o clube não se envolve mais. Como não visamos lucro, o valor cobrado nas excursões é destinado ao pagamento do serviço de transporte”, explica Carine.

Cauê Vieira, vice-presidente de Relacionamento Social do Internacional, foi consultado sobre o tema, mas até o fechamento deste material ainda não havia compartilhado uma posição do clube.

A próxima partida que os torcedores do Inter vão acompanhar já tem data para acontecer: o próximo sábado (13), às 19h, contra o Athletico-PR. Já os torcedores do Grêmio provavelmente não verão mais o Tricolor neste ano. Devido a punição do STJD após a invasão de torcedores ao campo, na partida contra o Palmeiras, o clube está proibido de receber público na Arena.

Galeria

Torcida colorada do Vale no Beira-Rio (Foto: Eduardo Dorneles) Carine Ellis, cônsul do Inter em Lajeado (Foto: Eduardo Dorneles) Torcida colorada em Lajeado (Foto: Eduardo Dorneles) Zully Abella, uma das coordenadoras do Movimento de Torcedoras Gurias do Grêmio Lajeado (Foto: Eduardo Dorneles) Gremistas do Vale (Foto: Eduardo Dorneles) Gremistas do Vale (Foto: Eduardo Dorneles)

Acompanhe
nossas
redes sociais